[News] 50 anos de Realismo-Do fotorrealismo à realidade virtual
A exposição 50 anos de
realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual que o Centro Cultural Banco do
Brasil Rio de Janeiro inaugura, na quarta, 22 de maio, vai provocar perplexidade
no visitante: é pintura ou fotografia? É real ou escultura?
A proposta da
curadora brasileira Tereza de Arruda, radicada em Berlim, é apresentar um
panorama internacional da representação da realidade na arte contemporânea, nos
últimos 50 anos, do surgimento do fotorrealismo, o hiper-realismo até a
realidade virtual. A exposição é patrocinada pelo Banco do Brasil, com apoio da
Cateno e do Banco Votorantim. A coordenação geral é da Prata Produções, por
meio da Lei de Incentivo à Cultura.
Arruda selecionou 92
trabalhos, datados dos anos 1970 a 2018,
de técnicas diversas de 30 artistas –
cinco brasileiros e 25 estrangeiros, de gerações e nacionalidades
variadas, radicados na América do Sul, nos Estados Unidos e na Europa.
No final da década
de 1960, jovens artistas que trabalhavam nos Estados Unidos começaram a fazer
pinturas realistas baseadas diretamente em fotografias. Detalhistas minuciosos,
eles retratavam objetos, pessoas e lugares que definiam a vida urbana e rural. Essa produção recebeu rótulos
diferentes, entre eles Fotorrealismo.
Diferentemente dos
artistas pop, os fotorrealistas não ironizavam seus temas – vitrines
brilhantes, carros, plásticos de cores berrantes e cenários do campo e da
cidade. Posicionavam-se fiéis à reprodução na tela, no papel ou na escultura do
que lhes servia como fonte.
A curadora Tereza de
Arruda explica:
– O surgimento do
fotorrealismo, pinturas baseadas na representação de cenas fotografadas, deu-se
nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970. Sua infiltração na história da
arte aconteceu como reação ao abstracionismo vigente na época. O hiper-realismo
apareceu como uma tendência da pintura no final da década de 1970, amparada na
realidade, ainda mais fiel que a própria fotografia. Sua força de expressão é
tão significativa que se dissemina até os dias de hoje, diz Arruda.
Mesmo com a
reprodução instantânea da realidade pelas câmeras digitais hoje, essas pinturas
e esculturas ainda são fascinantes pela precisão cirúrgica e virtuosismo
extraordinário.
Essa tentativa de
“congelar” o momento e apreciá-lo eternamente em sua exatidão é um dos motivos
de apreciação e difusão do hiper-realismo. Ali não há os efeitos da passagem do
tempo e “a permanência é a condição da grande arte”, avalia o autor inglês
Clive Head.
Circuito
A mostra é dividida
em segmentos: histórico, representado por Ralph Goings, Richard McLean, John
Salt e Ben Schonzeit; contemporâneo, por Javier Banegas, Paul Cadden, Pedro
Campos, Rafael Carneiro, Andrés Castellanos, Hildebrando de Castro, François
Chartier, Ricardo Cinalli, Simon Hennessey, Ben Johnson, David Kessler, Fábio
Magalhães, Tom Martin, Raphaela Spence, Antonis Titakis e Craig Wylie;
tridimensionalidade, por John DeAndrea, Peter Land e Giovani Caramello; e novas
mídias, por Akihiko Taniguchi, Andreas Nicolas Fischer, Bianca Kennedy, Fiona
Valentine Thomann, Sven Drühl, The Swan Collective e Regina Silveira.
Já no térreo do CCBB
estão esculturas/instalações do dinamarquês Peter Land [1966-], em que o ser
humano é a figura central. Mais três artistas ocupam a área da rotunda Craig
Wylie [Zimbábue, 1973-], radicado no Reino Unido, é premiado pela profundidade
psicológica de seus retratos; o inglês Simon Hennessey [1976-] pinta rostos
mais detalhados do que o que a fotografia poderia oferecer ao espectador.
No centro da rotunda
impera a escultura de uma figura humana, maior do que a real, do jovem paulista
Giovani Caramello [1990-] feita especialmente para esta exposição. Autodidata,
Caramello iniciou a carreira com modelagem 3-D e se tornou o único escultor
brasileiro com produção hiper-realista.
O circuito segue
para o segundo andar do centro cultural, ocupando mais quatro salas. O conjunto
de trabalhos está subdividido em retrato, natureza-morta, paisagem natural,
paisagem urbana e novas mídias.
Um espaço concentra
obras de artistas seminais do fotorrealismo e do hiper-realismo como os
norte-americanos Ralph Goings [1928-], Richard McClean [1934-], Ben Schonzeit
[1942-], John DeAndrea [1941-] e o inglês John Salt [1937-]. Pinturas ou
esculturas, as representações são tão realistas que podem causar um certo
desconforto pela proximidade do ser e do parecer. É o caso da obra de DeAndrea,
um dos pioneiros da escultura hiper-realista. As figuras humanas extraídas de
seu universo particular são despretensiosas e sem ornamentos supérfluos.
Uma das salas reúne
o gênero recorrente no fotorrealismo e no hiper-realismo que é o retrato. A
maioria dos artistas se baseia em modelos que eles mesmos fotografam. As
pessoas costumam ser retratadas sem uso de recursos adicionais para manter sua
essência, mas há margem para a subjetividade: um olhar que mira o espectador ou
a dor do retratado resignado. As pinturas ou desenhos do zimbábue Craig Wylie
[1973-], do baiano Fábio Magalhães [1982-], do escocês Paul Cadden [1964-],
argentino Ricardo Cinalli [1948-] e inglês Simon Hennessey [1976-] são
exemplos.
Na história da arte
do século XX, a pintura realista precisou se impor e se defender da ascensão da
fotografia contemporânea. Os pintores passaram a incorporar a fotografia como
recurso para tornar seus retratos mais precisos. O fotorrealismo e o
hiper-realismo fascinam porque o real demanda fidelidade rigorosa a seu
contexto. Um dos segmentos da mostra é o que junta natureza-morta e paisagem
naturalista ou urbana. Estes temas são cultivados há 50 anos mundo afora como
se pode ver pela diversidade de procedência dos artistas: o canadense François
Chartier [1950-], os espanhois Pedro Campos [1966-] e Javier Banegas [1974-], o
inglês Tom Martin[1986-], o paulista Rafael Carneiro [1985-] e galês Ben Johnson
[1946-] exibem naturezas mortas; o espanhol Andres Castellanos [1956-], o grego
Antonis Titakis [1974-], a inglesa Raphaella Spence [1978-], o pernambucano
Hildebrando de Castro [1957-] e o norte-americano David Kessler [1950-] mostram
paisagens.
As novas mídias
trouxeram a expansão da realidade e o visitante é o protagonista da obra. O
advento da realidade virtual altera a percepção e a relação com o real. Os
ambientes virtuais produzem mundos ilusórios para serem experimentados, usando
equipamentos adicionais, como os óculos de RV. Esta exposição traz experiências
com realidade mista, realidade expandida e realidade virtual do japonês Akihiko
Taniguchi [1983-], dos alemães Andreas Nicolas Fischer [1982-] e Bianca Kennedy
[1989-], da francesa Fiona Valentine Thomann [1987-], do bahamense Sven Drühl
[1968-], de The Swan Collective [liderado pelo alemão Felix Kraus, 1986] e da
gaúcha Regina Silveira [1939-].
O Rio de Janeiro é a
terceira e última itinerância da mostra, que recebeu mais de 240 mil visitantes
nos CCBBs São Paulo e Brasília.
Catálogo
Acompanha 50 anos de
Realismo, do fotorrealismo à realidade virtual uma publicação bilíngue
[portugês e inglês] de 187 páginas, com textos de Tereza de Arruda, Boris
Röhrl, Maggie Bollaert e Tina Sauerländer, e reprodução de todas as obras em
exibição.
Conversa com o
público
Dia 22 de maio
[quarta-feira], às 18h30h, o CCBB Rio promove
um bate-papo sobre realismo na contemporaneidade aberto ao público.
Participam a curadora Tereza de Arruda, os artistas Regina Silveira, Rafael
Carneiro, Ricardo Cinalli e a consultora Maggie Bollaert.
A entrada é franca,
mediante retirada de senha uma hora antes do início do evento.
SOBRE A CURADORA
Tereza de Arruda
[São Paulo, SP, 1965-] é historiadora de arte e curadora independente, que
trabalha junto a instituições, museus e bienais. Estudou história da arte na
Freie Universität Berlin, onde mora desde 1989. Assinou a curadoria de: Ilya
und Emilia Kabakov ‘Two Times’, Kunsthalle Rostock, em 2018; José de Quadros: A
Beleza do Inusitado, Sesc Santo André; Sigmar Polke, Die Editionen, me
Collectors Room Berlin, em 2017; Chiharu Shiota – Under the Skin, Kunsthalle
Rostock, em 2017; In your heart | In your city, Køs Denmark; Clemens Krauss,
Little Emperors, MOCA – Museu de Arte Contemporânea de Chengdu, em 2016; Kuba
Libre, Kunsthalle Rostock, em 2016; Bill Viola, Three Women, Bienal
Internacional de Curitiba, em 2015; InterAktionen Brasilien in Sacrow, Schloss
Sacrow/Potsdam, em 2015; ChinaArte Brasil, Oca Museu da Cidade, São Paulo, em
2014; Wang Qingsong: Follow me!, Køs Museum for Kunst, Copenhague, em 2014;
Bienal de Curitiba de 2013; Índia lado a lado, CCBB Rio, São Paulo e Brasília,
em 2011|2012; Se não neste período de tempo – Arte Contemporânea Alemã
1989-2010, Masp – Museu de Arte de São Paulo, em 2010. Cocuradora e assessora
da Bienal de Havana desde 1997. Cocuradora da Bienal Internacional de Curitiba
desde 2009.
CCBB 30 anos
Inaugurado em 12 de
outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil celebra 30 anos de atuação
com mais de 50 milhões de visitas. Instalado em um edifício histórico,
projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, o
CCBB é um marco da revitalização do centro histórico do Rio de Janeiro e mantém
uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Mais de três mil
projetos já foram oferecidos ao público nas áreas de artes visuais, cinema,
teatro, dança, música e pensamento.
Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico
The Art Newspaper, projetando o Rio entre as cidades com as mostras de arte
mais visitadas do mundo. Agente fomentador da arte e da cultura brasileira
segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o
público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundial.
SERVIÇO
‘50 anos de Realismo
– Do fotorrealismo à realidade virtual’
Curadoria Tereza de
Arruda
22 de maio a 29
julho de 2019
Quarta a
segunda, 9 às 21h
Classificação
indicativa: livre
Entrada franca
CCBB Rio de Janeiro
Rua Primeiro de
Março 66
Centro - 20010-000 -
Rio de Janeiro – RJ
21 3808 2020 |
ccbbrio@bb.com.br
Informações sobre
acessibilidade, estacionamento e outros serviços:
http://culturabancodobrasil.com.br/portal/rio-de-janeiro
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