[News] Espetáculo Faraó Tropical traz à cena espírito de Tutankamon; peça faz uma aproximação da cultura negra brasileira com o imaginário dos faraós

 

Faraó Tropical. Foto: Sérgio Freitas

O grupo AIAS DO BRASIL faz, neste semana, no Centro Cultural São Paulo, a última semana de temporada do espetáculo Faraó Tropical. Na obra, corpos se preparam para receber o espírito de Tutankamon, faraó da décima oitava dinastia que entrou no reinado aos nove anos de idade, permanecendo até seus 19 anos, quando ele morreu. Nos dias de hoje, o conhecimento notório acerca de Tutankamon se dá pela descoberta de sua tumba e também por ele ter sido a autoridade responsável por instituir o politeísmo de volta no Egito.

A peça tem dramaturgia assinada por Rafael Cristiano e direção de Otacílio Alacran - ambos também estão em cena. Com estudo e prática aprofundados em religiões de matriz africana, Rafael conta que o texto traz essa perspectiva para fazer com que o faraó Tutankamon desça e reflita o nosso tempo. "Através do transe, ele traz em sua palavra o modo como festeja e as conexões entre seu tempo e o tempo atual", complementa o artista.

Ao deslocar essa figura do Oriente para o Brasil, Rafael conta que sua proposta foi a de criar uma perspectiva de aproximação da cultura negra brasileira com esse imaginário dos faraós, divindade destacada inclusive na composição “Faraó (Divindade do Egito)”, de Luciano Gomes, a pedido do grupo Olodum, conhecida amplamente pela versão cantada por Margareth Menezes. "Trazemos inclusive a música para a cena como uma forma de olhar para o Egito com esse interesse de interlocução", diz Rafael.

 

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O corpo é uma conquista.

Vocês entenderiam se estivessem do outro lado.

Não há disputa mais destrutiva do que a disputa do corpo.

Não há vitória mais doce do que a conquista do corpo.

O que tem no corpo é difícil de achar em outro lugar.

Eu digo água, terra, ferro e energia em um espaço só.

É matemático.

Um tanto de água a mais ou a menos e pronto! já não é mais corpo.

Saúdo os vivos.

Vocês vieram ver Tutankamon, e aqui está

Em água, terra, ferro e energia.

 

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Otacílio, diretor da peça, fez escolhas minimalistas em diálogo com a poética de Ricardo Guilherme - um dos criadores do Curso Superior de Artes Cênicas da Universidade Federal do Ceará -, que preza sobretudo pelo corpo do artista em cena. "No espetáculo, trazemos os corpos como elementos estruturantes de toda a cena. Não há sonoplastia, grandes cenários ou outros elementos que não partam da construção poética dos atores", conta Otacílio. 

 

A cenógrafa Telumi Hellen cria uma espacialidade composta por areia com um símbolo dourado oculto sob ela, que se tornará aparente ao longo do espetáculo. O cenário está disposto em forma de arena, com o público sentado ao redor, e a figurinista Maria Caúla teceu sóbrios figurinos sobrepostos que potencializam o mistério nessa arena.

 

O artista reforça que o texto-base da peça é poético, que sucede metáforas em cruzamentos e sobreposições, encaradas por Otacílio como palimpsestos (pergaminhos cujos textos iniciais foram raspados para dar lugar a outros). É dessas camadas sobrepostas que a peça traz a dimensão de relatos históricos de forma sutil.

 

"Raspamos a imagem egípcia para ver o Brasil e raspamos o Brasil pra ver a antiguidade. Raspamos Tutankamon para enxergar esse menino que viveu tão pouco tempo", diz Otacílio. Rafael Cristiano reforça que, por ser um trabalho criado imediatamente após o período de isolamento social gerado pela pandemia, o trabalho desafia o público em relação ao tempo. "A dimensão do tempo é uma outra camada de contato com o espectador, que pensa na construção corporal como modo de sair de um cotidiano acelerado para um tempo mítico", finaliza Otacílio.

 

Trecho de Corpo-pergaminho, texto escrito pela dramaturga Ave Terrena sobre o espetáculo

 

As inspirações poéticas pra criação das cenas vêm, entre outras, pela exaltação a Oxum, sem, no entanto, tratá-la como um ser alienígena ou inalcançável. O corpo-pirâmide que acolhe Tutankamon dança com a Orixá viva no carnaval – “Faraó Tropical” traz algumas das imagens de amor mais calorosas e intensas com as quais tive contato nos últimos anos. Aquela linha que a cristandade decretou como limite entre sagrado e profano é tão tênue quanto a que existe entre nosso mundo e o dos mortos. 

 

Da mesma forma, os movimentos que o teatro grego costuma chamar de êxtase e entusiasmo (‘tirar alguém de sua própria mente’, e ‘ter um deus interior, na raiz grega) não são dois campos excludentes e vedados um ao outro. Diz o “Faraó Tropical”: “Não há a completa aniquilação do ‘eu’ / nem a completa presença de ‘outro’”. 

 

SINOPSE

Corpos se preparam para receber o espírito de Tutankamon através do transe. Um boi é imolado para que esse encontro seja possível. O faraó revive para olhar, conversar e festejar com os vivos. O espírito louva divindades, convoca memórias antigas e recentes, e aos poucos se despede dançando a saudade do encontro.

 

FICHA TÉCNICA

Dramaturgia: Rafael Cristiano

Direção: Otacílio Alacran

Atuação: Otacílio Alacran e Rafael Cristiano

Preparação corporal e Assistência de Direção: Rafael Lemos

Orientação Musical e Vocal: Solange Assumpção

Figurino: Marisa Caula

Iluminação: Vânia Jaconis

Iluminadora Assistente: Pepa Faria

Cenário: Telumi Hellen

Fotografia: Sérgio Freitas

Filmmaker: André Grejio

Apresentação: Ave Terrena

Revisão: Ismar leal

Designer Gráfico: Murilo Thaveira

Assessoria de Comunicação: Canal Aberto

Produção: Corpo Rastreado

Realização: AIAS DO BRASIL

 

SERVIÇO

Faraó Tropical

Temporada: 15 de setembro a 9 de outubro de 2022. 

Quinta, sexta e sábado, 21h; domingo, 20h

Local: Centro Cultural São Paulo - Sala Ademar Guerra - Porão 

Endereço: Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso, São Paulo - SP, 01504-000

Classificação indicativa: 14 anos

Capacidade: 60 pessoas

Duração: 60 minutos

Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

À venda pelo site da Sympla

 




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