Atualmente, quando se chega em um restaurante, é possível escolher a refeição preferida na tela do celular, por meio de um cardápio em QR Code. De uns tempos pra cá, com a tecnologia falando cada vez mais alto, não é muito diferente escolher um parceiro amoroso por meio de um aplicativo. Aliás, uma das formas mais rápidas e práticas de se conhecer alguém é justamente entrar em um aplicativo de relacionamento. Há vários no mercado: Tinder, Badoo, Happn, Inner Circle, Bumble, Grindr, entre outros. E a lista de opções de homens e mulheres que fazem parte do “cardápio” é bastante extensa.
Não por acaso, uma recente matéria do New York Times replicada pelo O Globo (encurtador.com.br/fmpw0), sobre os 10 anos do aplicativo Tinder, usuários relatam esgotamento mental causados pelas buscas infrutíferas, ao mesmo tempo que 12% dos americanos se casaram ou tiveram um relacionamento sério com alguém que conheceram pelo aplicativo. Sob esta ótica, o uso destas ferramentas vem provocando um momento de reflexão coletiva sobre como elas remodelaram não apenas a cultura do namoro, mas também a vida emocional de quem os utiliza.
Aqueles que são atraídos para este mundo veem, na palma da mão, a possibilidade de encontrar o crush perfeito depois de alguns cliques. Cada um vai procurar aquilo que está buscando, seja um amor, um bom sexo, um bate-papo à altura, um visual atrativo ou aquela tão sonhada afinidade. Não há regra.
“Enquanto Olho o Cardápio”, segundo livro de ficção da advogada e psicóloga Ana Rebello, ilustra a trajetória de um homem recém-separado, no auge da sua liberdade. Após a ruptura de um casamento longo, tudo que ele quer é aproveitar as vantagens de ser solteiro, O celular é o melhor amigo do personagem Santarrozza, que, através de um aplicativo de relacionamento, conhece vários tipos de mulheres.
A história aborda o assunto de maneira leve e bem-humorada, mas sem deixar de introduzir críticas subliminares à forma de se relacionar na atualidade. Mas por que contar uma história sobre relacionamentos que tem origem em aplicativos? Segundo Ana Rebello, as pessoas buscam praticidade e facilidade também na hora de se relacionar, e, para isso, nada melhor que os aplicativos, já que estão à mão de qualquer um que decida se aventurar. Ela acha importante falar sobre isso e refletir sobre o quanto as relações podem estar se tornando descartáveis e superficiais e o quanto a variedade dos vínculos pode ser diretamente proporcional à sua fragilidade.
O protagonista, Santarozza, um homem de meia-idade que acabou de se separar vê nesta nova fase de vida a possibilidade de uma grande tacada de mestre. Ao mesmo tempo que se depara com problemas do dia a dia no relacionamento com o filho e a ex-mulher, segue à procura de uma mulher que atenda seus padrões de exigência - mas sem contar com o imponderável que o leva a tomar decisões que não estavam no horizonte. A leitura do livro promoverá adjetivos para o personagem, já que ele fica entre cruz e a navalha, passando por aspectos morais e sociais.
"Eu tentei retratar de uma forma leve e divertida um tema que está muito em voga, que é o romance por meio de aplicativos. Porém, há uma crítica implícita na narrativa. Parece que estamos vivendo uma era de relacionamentos superficiais e que a ferramenta, embora seja muito útil, também pode ser mal utilizada, principalmente quando falta transparência e honestidade de parte a parte. Talvez no afã por atingir a tão almejada ‘quantidade’, esteja se perdendo a chance de viver relações de qualidade. No mínimo, acho que vale a reflexão." ,diz.
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