[Resenha] O Primeiro Golpe do Brasil: Como D. Pedro I Fechou a Constituinte, Prolongou o Escravismo e Agravou a Desigualdade Entre Nós


Sinopse: “O primeiro golpe do Brasil” narra um período específico e definitivo da mal contada história do país, com impactos até os dias de hoje: o golpe de 1823, liderado pelo jovem português recém-coroado D. Pedro I. Com o manto de imperador, Pedro fechou a Assembleia Constituinte, que propunha um caminho liberal para o Brasil, perseguiu aliados e inspiradores, prendeu e baniu adversários, censurou a imprensa, cercou-se de conterrâneos despreparados, alimentou-se do escravismo e promoveu os escravistas. Por trás do oficialismo construído artificialmente, emerge uma figura que nada tem do herói garboso dos livros escolares.

O autor, o premiado jornalista Ricardo Lessa, fez um minucioso trabalho de pesquisa em arquivos de vários países e revela os bastidores de um momento crítico do século 19, compreendido entre a Independência, em 1822, e a Abdicação, em 1831. A partir de relatos da época e documentos, Lessa mostra que a cadeia de fatos desencadeada em 1823 reforçou o escravismo, a desigualdade e o elitismo no Brasil. O pano de fundo do livro é a disputa entre os que defendiam a manutenção dos privilégios da aristocracia e os republicanos constitucionalistas. Venceu o atraso, que nos ajuda a entender os últimos 200 anos do país.

O que achei? “1823 foi o ano em que perdemos a chance de ser um país melhor”, essa fala do autor de O Primeiro Golpe do Brasil: Como D. Pedro I Fechou a Constituinte, Prolongou o Escravismo e Agravou a Desigualdade Entre Nós, Ricardo Lessa resume as consequências do golpe aplicado por D. Pedro I, um ano após a Declaração de Independência em seu livro lançado pela Editora Máquina de Livros.

Na tarde do dia 12 de novembro de 1823, D. Pedro I fechou a primeira Assembleia Constituinte do Brasil. Houve perseguição, prisão e banimento tanto de aliados e adversários, censura da imprensa, apoio aos escravistas e consequente aumento do tráfico e comércio de africanos para fins de escravidão.

A imagem de D. Pedro I como herói da Independência do Brasil é desmistificada e vemos um imperador recém coroado que ficou do lado da aristocracia, dos escravocratas e que deu vários privilégios para nobres portugueses e apoiadores do golpe.

O livro ajuda de forma didática e dinâmica a compreender o cenário político, econômico e social da época, a grande semelhança com a ditadura civil-militar instaurada na década de 1960 que também atrasou o país em vários aspectos e que o afeta até hoje em pleno século XXI.

Lessa também lembra da relação direta entre monarquia e escravidão que não apenas atrasou o desenvolvimento econômico do Brasil, mas também a igualdade social e existência do racismo estrutural presente até hoje no país.

O livro apresenta uma pesquisa intensa e falas de diversos estudiosos do assunto, oferecendo um panorama completo sobre o tema, ajudando a desconstruir a aura de heroísmo, progresso e mistificação da nobreza e do império que ainda vemos em muitos livros escolares de história.

Escrito por Michelle Araújo Silva



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