É um presente para os fãs de rock brasileiro — e também para todos os apreciadores de folk e boas canções. Lançado originalmente em novembro de 2004, o “Acústico” dos Engenheiros do Hawaii está sendo editado agora pela primeira vez em vinil pela Universal Music: em álbum duplo, com encarte com as importantíssimas letras das canções. Saiba mais aqui: https://www.umusicstore.com/engenheiros-do-hawaii .
Pouquíssimas bandas nacionais souberam explorar com tanta pertinência o formato “desplugado”. E o reconhecimento foi instantâneo, ultrapassando em duas semanas a marca de 20 mil cópias vendidas em DVD e mais 50 mil cópias em CD (o que, na época, recebia o Disco de Ouro).
Agora, está sendo editado pela primeira vez em vinil (duplo, com encarte com as obrigatórias e importantíssimas letras), como um presente aos fãs do rock brasileiro — e também a todos os apreciadores de folk e boas canções. As versões apresentadas transcendem a memória afetiva e o interesse por nostalgia oitentista ou noventista; trazem surpresas, recuperam pérolas pouco lembradas e, claro, são capazes de conquistar novos fãs para a banda liderada por Humberto Gessinger. Um detalhe que vai chamar a atenção de muita gente e que atesta a qualidade musical do trabalho: as cordas em “Dom Quixote”, “Vida Real”, “Surfando Karmas & DNA” e “Outras Frequências” foram arranjadas e regidas pelo cultuado produtor e maestro Lincoln Olivetti (1954-2015).
Humberto Gessinger dizia que tinha resolvido dar uma de John Lennon naquele ano: “ficar em casa, fazendo pão e levando minha filha ao colégio”. Mas a inquietude e a paixão pela música falaram mais alto e, no segundo semestre, os Engenheiros do Hawaii retomaram o trabalho atendendo, depois de muitas recusas e jogo duro, ao convite da MTV para gravar um “Acústico”. Aceitaram, mas dentro de suas bases, muito particulares: sem medalhões como convidados especiais, e, em princípio, sem inclusão de composições inéditas. Mas, claro, empolgado, Humberto acabou escrevendo canções novas: a afiada “Armas Químicas e Poemas”, muito querida pelo fãs, e “Outras frequências”, ambas atuais, apesar das referências supostamente datadas nos textos (ou talvez por isso mesmo, como costuma acontecer nas melhores obras dos Engenheiros).
O disco foi gravado em 18 e 19 de agosto, no espaço Locall, em São Paulo, com uma plateia sem vips e celebridades, formada quase que exclusivamente por fãs; convites foram distribuídos pelo site do grupo, que também divulgou as letras das duas inéditas e demos com os novos arranjos para os hits. O público já chegou com a lição de casa feita, o que só contribuiu para a vibe.
As participações especiais foram, na verdade, participações “fraternais” (ou, mais exatamente, familiares/afetivas): Clara Gessinger, filha de Humberto (em "Pose"), e o ex-baterista e cofundador da banda Carlos Maltz, em “Depois de Nós”, (boa) música de autoria dele mesmo. Aos 20 anos, recém-saída da adolescência, com aparelho ortodôntico, Clara torna adorável o que era quase cinismo na versão original, um lado B de “Gessinger, Licks & Maltz” (1992).
Humberto Gessinger se desdobra em voz, violão, harmônica, bandolim e piano. Seu xará carioca Humberto Barros, que havia tocado no disco “Minuano” (1997), contribui com muita classe ao órgão Hammond e ao piano elétrico Wurlitzer. A formação dos Engenheiros na época contava com Fernando Aranha no violão e no dobro, Bernardo Fonseca no baixo, Gláucio Ayala na bateria. Paulinho Galvão também toca violão e é parceiro de Gessinger em uma das pérolas do repertório, “Dom Quixote”, pinçada do álbum “Dançando no Campo Minado” (2003). Ela traz os versos “muito prazer, meu nome é otário/ vindo de outros tempos, mas sempre no horário (...) muito prazer, ao seu dispor/ se for por amor às causas perdidas”. Um belo achado, que faz ótima figura na prateleira de grandes hits como “O Papa é Pop”, “Infinita Highway” e “Era um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones” (a escolhida para o animadíssimo final).
Pedro Só
Dezembro de 2024
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