[Cartas de amor] Florbela espanca a Antonio Guimarães
"Tenho saudades da carícia dos teus braços, dos
teus braços fortes, dos teus braços carinhosos que me apertam e que me embalam
nas horas alegres, nas horas tristes. Tenho saudades dos teus beijos, dos
nossos grandes beijos que me entontecem e me dão vontade de chorar. Tenho
saudades das tuas mãos (...) Tenho saudades da seda amarela tão leve, tão
suave, como se o sol andasse sobre o teu cabelo, a polvilhá-lo de oiro. Minha
linda seda loira, como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos! Tu
tens-me feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguém
se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha vida, tu
dize-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha vida um sonho bom;
podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu irmão, que eu nunca tive
ninguém que olhasse para mim como tu olhas, que desde criança me abandonaram
moralmente que fui sempre a isolada que no meio de toda a gente é mais isolada
ainda. Podes dizer-lhe que eu tenho o direito de fazer da minha vida o que eu
quiser, que até poderia fazer dela o farrapo com que se varrem as ruas, mas que
tu fizeste dela alguma coisa de bom, de nobre e de útil, como nunca ninguém
tinha pensado fazer. Sinto-me nos teus braços defendida contra toda a gente e
já não tenho medo que toda a lama deste mundo me toque sequer. "
Nenhum comentário