[Resenha] Pecar e Perdoar - Deus e o homem na história

“Errar é humano.” Essa afirmativa tão comum encerra uma verdade mais profunda que muitas vezes se perde no clichê: o pecado e o perdão são duas faces da mesma moeda — sem um não pode haver o outro. É exatamente dessa duplicidade que o historiador Leandro Karnal trata em Pecar e perdoar — Deus e o homem na história. Com uma análise focada nas experiências tão intrinsecamente humanas do desvio da norma e do restabelecimento da confiança, Karnal mostra como a sociedade moderna ainda utiliza essas noções baseadas na religiosidade judaico-cristã, e como, apesar de suas origens tão antigas, tais conceitos seguem cada vez mais atuais.
O que eu achei?
Karnal traz em seu livro reflexões acerca de dois dos temas mais antigos da sociedade: o pecado e o perdão (como já está óbvio no título, aliás).

No início, assim que peguei o livro e me deparei com o tema, fiquei extremamente receoso. Um tema que tem como base questões morais bíblicas nem sempre são do meu agrado, ainda mais quando tratadas por religiosos. Pois que durante a leitura, todo o meu medo desapareceu. Leandro Karnal se diz um não-religioso, o que faz com que suas análises sejam imparciais e diretas, sem influências pessoais ou dogmáticas. Aquilo é o que é, porque é!

O livro traz reflexões e análises sobre o homem desde a época antes da vinda de Jesus até hoje, focando no pecado (ou o que viria se tornar pecado, no futuro). Além disso, trata também do perdão e do amor, em um comparativo comportamental entre a sociedade que precedeu e viveu a época de Cristo, e a nossa. Mas ele não se prende apenas ao Cristianismo; segue um apegado de referências, compara os livros e escrituras sagradas de várias religiões e as analisa quanto ao mesmo assunto; as história semelhantes e o que cada uma diz sobre o mesmo assunto, e como cada uma o trata, além da influência na vida do ser humano e sua evolução através do tempo. Algo interessante, pois mostra como cada religião vê seu fiel e como seus dogmas e doutrinas os afetam.

A escrita de Karnal é bem tranquila de se acompanhar, o que torna a leitura - que poderia ser absurdamente cansativa -, em um tipo de conversa com algum amigo seu numa mesa de bar. A escrita é descontraída e pouco pretensiosa - digo pouco já que em alguns momentos ele se coloca como alguém muito inteligente e iluminado, não dizendo diretamente isso, mas nas entrelinhas.

Lendo as análises, e acompanhando os questionamentos do próprio autor e comparações críticas, é impossível não parar para pensar sobre nossa conduta. Me perguntei, a todo o tempo, o que realmente era pecado. Pecado é algo direto e extremo, específico, ou pode estar em pequenos detalhes cotidianos que consideramos tão normais e naturais? Existe pecado nas atitudes de um "bom cidadão"? Alguém está livre do pecado?

E não somente isso. Também é tratado a todo o tempo a relação do homem com Deus e Sua Palavra. Karnal nos mostra como uma história simples presente na Bíblia pode ser corrompida pela vaidade daquele que prega pelos "bons costumes".

Cada pecado é analisado com base na Bíblia, e por vezes vemos que pecado e virtude andam de mão dadas, e nos é quase impossível separá-los.

No mais, o livro todo é muito interessante para aqueles que gostam de discutir de mente aberta sobre o tema, e que em alguns pontos te farão repensar muitas questões da sua vida.


Um comentário:

  1. Oi Irlan
    Adoro livros reflexivos. Este parece ser um deles. Realmente o pecado e a virtude possuem uma linha tenue.
    Beijos

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