[Resenha] Tempos Compulsivos


Sinopse:Uma reflexão sobre as compulsões e o tempo em que vivemos. “Tempos compulsivos” reúne reflexões sobre um tempo de respostas exaltadas, de opiniões apressadas, desabafos públicos e de uma busca desmedida e imediata pelo prazer. Partindo de considerações acerca de nosso estilo de vida, de nossas demandas, de tudo aquilo que se vai incorporando ao cotidiano sem percebermos, constata que essa aceleração resultou tanto no crescimento de compulsões, como das depressões e dos quadros de violência. .


O que eu achei?
Em apenas 155 páginas, a psicanalista Sandra Edler consegue traçar um panorama de como a correria do nosso dia-a-dia, cada vez mais frenético, atrapalha nossa rotina. A autora explica que as compulsões surgem a partir do hedonismo-a busca pelo prazer, característica apresentada pelo ser humano desde sua concepção. As pulsões surgem a partir de laços, de conexões que cada indivíduo cria e não se restringem apenas a substâncias psicoativas; podem se referir a alimentos, dinheiro, trabalho, sexo, uso da tecnologia e por aí vai. É importante frisar que nem todas as pessoas desenvolvem compulsões. Em um dos último capítulos, Edler cita o exemplo do relato de Beth (todos os nomes são fictícios para manter a privacidade dos pacientes) que se mudou de Salvador para o Rio de Janeiro para fazer faculdade e experimentou várias drogas, desde alucinógenos como chá de cogumelo até as mais tradicionais, como maconha mas não desenvolveu um vício em nenhuma dessas substâncias. Pelo contrário: sempre teve boa saúde, era focada nos estudos, se casou, construiu uma carreira e uma família. Assim como há pessoas que se alimentam para sobreviver, há aquelas que usam drogas apenas por curiosidade, para se encaixarem na sociedade, cedendo à pressão social de colegas. 
No capítulo A lógica do excesso, a autora discorre sobre a quantidade avassaladora de informações e a insaciabilidade da humanidade de adquirir bens, coisas novas. Parece que por mais que seja consumido, sempre haverá necessidade de algo mais. Aquilo que não tem serventia é imediatamente descartado, sem chance de ser reutilizado. Desde o início dos anos 1970, quando o capitalismo cresceu exponencialmente, temos presenciado aumentos significativos em toda as áreas do consumo (haja cartão de crédito!). O filme de 1993, Proposta indecente, estrelando Demi Moore, Robert Redford e Woody Harrelson, conta a história de um bilionário que oferece um milhão de dólares a um jovem casal em troca de uma noite por sua esposa. Há uma cena em que Diana, personagem de Demi Moore pergunta:´´E pessoas?´´ A resposta de John Gage, personagem de Robert Redford, é simples:´´Compro pessoas todos os dias.´´ Já na década de 90, os valores do século XXI estavam sendo apresentados: para tudo há um preço e não existem mais objetos fora do circuito de vendas. 
A principal característica das compulsões é um estado de inércia diante de obrigações a que o sujeito é submetido por uma inquestionável e onisciente força maior que exige uma obediência cega. Alguns filósofos, como Guy Debord e Christoph Türcke descreveram em seus estudos uma sensação de inquietude e efervescência do ser humano ao satisfazer suas vontades.Nessa cultura hedonista, tudo precisa ser convertido rapidamente em prazer, somos bombardeados toda hora para realizar tarefas que nos deem satisfação. É uma bola de neve caindo montanha abaixo, um círculo vicioso. Sandra defende que as compulsões podem ter aspectos positivos,desde que sejam devidamente controladas. Podem até passar uma boa impressão, como empenho e determinação ao realizar uma tarefa. Podemos ter compulsões, desde que saibamos equilibrá-las com nossas vidas sociais e atividades de trabalho e lazer.
Ao longo de todos os oito capítulos do livro, Sandra cita alguns exemplos de relatos das mais variadas naturezas: desde uma mãe que acompanhou o vício dos seus filhos em drogas até um homem relatando como descontava suas frustrações na comida e esmiuça cada detalhe com maestria. Ela aborda desde os temas já citados e também teorias de outros psicanalistas como Freud e Lacan,como a definição das pulsões (Eros, movimento ruidoso, estabelecimento de vínculos com outros seres humanos e zelar pelo instinto de sobrevivência, enquanto o Thanatos representaria o desejo inconsciente de morrer e seria vivido por todos após passarem por alguma experiência traumática. 
A obra serve de estímulo (reparem a ironia!) como pulsão para fazer o leitor questionar os efeitos que esses tempos compulsivos nos afetam. Consumismo, noites maldormidas, crises de ansiedade, etc. Sempre haverá um momento disponivel para interrompermos o que estivermos fazendo e nos indagar:"como posso mudar meus hábitos e melhorar?"


8 comentários:

  1. Amei o tema. Acho bastante plausível um livro sobre o assunto. Me interessei muito pelo mesmo e adoro quando o que lemos, nos faz parar por um momento e refletir.

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    1. Oi Aracelly,
      É um tema bem pertinente, né, essas vidas corridas que levamos. Se decidir ler o Tempos Compulsivos, me fale o que achou. Bjs

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  2. Olá! Legal esses livros que nós passam uma mensagem e nos fazem refletir sobre nossas vidas. Não conhecia, mas vou dar uma procurada para colocar na minha lista.

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    1. Oi Elizete,

      Se vc achar, quero saber a quais conclusões vc chegou após ler o Tempos Compulsivos! Bjs

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  3. Oi Clara.
    O tema do livro é algo bem atual. É um dos mal da modernidade e tecnologia.
    Gosto bastante de livros que nos faz refletir sobre o que é realmente importante.
    Bjs

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    1. Oi Pamela,

      A maioria de nós fica conectada quase o dia inteiro na Internet e é bombardeada por notícias instantaneamente. Acho que devemos tirar um detox e relaxar de tanta velocidadade! Eu tbm curto livros que tratem de temas atuais, como 13 reasons why, que aborda o suicídio e o que estou lendo agora, O ódio que você semeia, que fala sobre racismo, aguarde a resenha dele em breve! Bjs

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  4. O livro se apresentou muito bom, com temas tão atuais, sem contar nas narrações, que trazem problemas reais, que qualquer um pode ter.
    Me interessei muitíssimo e, amei a resenha! Bjs!

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  5. Pois é, Clara, é bastante pertinente sim. Cada vez mais vivemos tempos mais loucos.

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