[Resenha] Noites em Fúria: Além da Dor
Sinopse: Já dizia o poeta que “Narciso acha feio o que não é espelho”. Loyá, uma garota comum em seu primeiro dia como aluna do Ensino Médio, aprenderá em uma difícil jornada de descobertas e autoaprendizagem a valorizar aquilo que lhe faz ser única: suas curvas, seu corpo; seus cabelos, seu cachos. Por meio da literatura, Loyá e sua irmã aprenderão uma importante lição dada pelos seus ancestrais: conhecer para preservar. Uma vez que o conhecimento transforma, o que poderia torná-la triste, feia e aborrecida a faz compreender a beleza de cada um ser o que é. Afinal ser livre, seguir, sem se importar, nem sempre é uma escolha.
O que eu achei?
Encontramos Loyá, uma jovem negra de cabelos cacheados, em seu primeiro dia de aula. Lá, irá se deparar com a complicada convivência entre os jovens – os apelidos; a batalha dos egos; a eterna briga travada entre a vaidade de cada menina, baseado no conceito popular de 'beleza'. Loyá, acoada, tomará uma atitude quanto sua aparência que não irá agradar em nada a sua mãe Odara.
Com conceitos místicos da criação do mundo pelos Orixás, mistérios antigos, o contato com o mundo sobrenatural, os ensinamentos de seus ancestrais, nós entramos numa história onde exalta-se a origem de nós mesmo, de quem somos em nossa essência e com isso revela nossa verdadeira identidade, mostrando a importância de sermos fieis ao que é nosso e ao que somos, e também à tudo aquilo que nos precedeu e nos permitiu estarmos onde estamos e sermos quem somos. O conhecimento preserva e transforma. E enobrece.
A escrita jovem e leve conduz o leitor de forma muito tranquila pela história, e as páginas passam que mal se sente, valendo-se de uma linguagem simples e acessível. Leva-nos do místico ao real de forma tão sutil que tudo se combina, como se tudo fosse tão real quanto a vida. Contudo, em alguns momentos a narrativa peca por parecer perder o fio da meada na parte da linguagem – a forma relativamente culta de súbito da lugar a forma coloquial em algumas parte, principalmente durante as longas falas.
Do mais, o livro traz uma reflexão ótima nos dias de hoje, onde aceitar-se e se impor com respeito e dignidade faz necessário numa sociedade tão opressora e machista, usando a imagem da mulher negra confiante, forte e determinada, dona de si.
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