[Resenha] Joana d'Arc


Sinopse: A história de uma das mulheres mais notáveis do mundo medieval.
Ao contrário das tradicionais narrativas, com relatos já moldados pelo que conhecemos a respeito de quem Joana d´Arc se tornaria, a aclamada historiadora Helen Castor nos leva de volta à França do século XV, em plena Idade Média. Em vez da personagem icônica, ela nos apresenta uma jovem vibrante, que confronta os desafios da fé e da dúvida, e que, ao lutar contra os ingleses, toma partido em uma sangrenta guerra civil.
Por essa rica e intensa narrativa, conhecemos uma extraordinária jovem em meio aos eventos tumultuados de seu tempo, onde ninguém – nem ela e nem as pessoas ao seu redor, como príncipes, bispos, soldados ou camponeses – imaginava o que aconteceria a seguir.
O que eu achei?
O lançamento “Joana d'Arc”, de Helen Castor, lançado pela Editora Gutenberg foi um dos livros que mais desejei ler esse nesse ano, até o momento. A figura e a história de Joana d'Arc, a Donzela,  sempre me fascinou, e esse livro me trouxe um entendimento ainda maior sobre sua trajetória.

O interessante dessa biografia é a forma como ela foi construída. Normalmente, as história envolvendo a personagem Joana d'Arca focam unicamente nela e em sua missão. Contudo, nesse livro, nós somos conhecemos todo o contexto político e social antes de conhecermos a Donzela. Chegamos no início de uma divisão da França pela invasão dos ingleses. A luta pela coroa por dois reis que acreditam ser os verdadeiros merecedores desse posto, e o grande poder da Igreja nessa luta.

É interessante ver como a Igreja tinha tantos poderes sobre as decisões do Estado, e como a religião era uma arma extremamente poderosa na hora de reivindicar o trono. Nesse contexto de França fragmentada, cheia do jogos de manipulação, traições e mortes, a Donzela surge para a França armagnac (algo como a França francesa), ungida por Deus para libertar as terras dos invasores. Interessante também notar que, Joana, como a menina pobre e iletrada que era, foi capaz de convencer o clero a deixa-la lutar e provar seu destino como salvadora da França. Como? Basta ver como a França armagnac estava com a moral e a força em constante queda, e a esperança cada vez menor. Além disso, a religião era algo extremamente importante, e uma pessoa que diz ser enviada a Deus para devolver a terra e a coroa ao legítimo rei. Não há como a Igreja ignorar. Duvidar, talvez.

A trajetória da Donzela também é extraordinária em todos os aspectos. Indo contra todos os padrões sociais e políticos, ela era mulher, analfabeta, pobre e se vestia como um homem, contradizendo tudo o que os bons costumes e a Igreja pregavam. Ainda assim, determinada, conseguiu guiar seu pelotão a vitórias que auxiliaram seu reino imensamente, mesmo sem nenhum conhecimento sobre guerra ou táticas. Apenas a fé na missão dada por Deus a guiava, então não tinha porque ela pensar em outra coisa. Joana era misericordiosa quando necessário, mas não se curvava a nada nem ninguém. Sua missão santa era a lei, e ninguém entraria em seu caminho.

Sua fibra se mostra ainda mais evidente quando Joana é capturada, e durante seu julgamento, mantêm-se fiel a Deus e a sua missão, mesmo confusa e fraquejada. Não somente documentos históricos foram reunidos para a criação desse livro, mas também anotações pessoais de diários e de jornalistas foram utilizados, o que deu um ar extremamente único a biografia, com uma personalidade mais ágil e divertida de ler, de certo modo. Não há aquele texto engessado, beirando o conteúdo didático; a leitura flui como uma conversa. A riqueza de detalhes é linda, e a escrita é bem simples e fácil de acompanhar, e dão uma ampla visão dos pontos abordados durante o julgamento de Joana.

Joana, nitidamente uma imagem revolucionaria forte e atemporal, foi julgada não pela justiça focada em seus atos como pessoa, mas pela Igreja, baseada nos dogmas da religião. Foi enviada a fogueira não porque matou homens, mas porque se vestiu como um; porque ousou, como mulher, se colocar como uma guerreira de Deus, digna de ouvir sua voz e a dos santos santas e anjos. A pesquisa amostra bem como eram vistas as mulheres da época, então o entendimento sobre o julgamento se torna muito mais fácil.

Enfim, o livro é simplesmente uma deslumbrante reconstrução histórica de uma das maiores personalidades históricas feminina, envolvendo religião e política, mostrando o submundo da luta pela coroa, e o quão poderosos e perigosos eram as mãos da Igreja nas decisões do Estado. E mais, é assustador ver que alguns conceitos do século XV continuam vivos e fortes até hoje, principalmente envolvendo as mulheres e seu “lugar na sociedade”. 

4 comentários:

  1. Olá,
    Assim como você, esse livo esta na minha lista de compras e também na lista de leituras, sou muito curiosa sobre a vida de Joana. Amei a resenha, fiquei ainda mais com vontade de adquiri-lo e lê-lo.

    sonhoseaventurasdeamor.blogspot.com.br

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    1. Olá, Wanderléia.
      A leitura de Joana d'Arc é riquíssima e hipnotizante - tal qual a vida dela rss
      Espero que goste!
      E muito obtigado, fico feliz que tenha gostado da resenha

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  2. Estou lendo mas a primeira parte se mostra muito cansativa, ja quase desisti dele umas duas vezes.
    Espero que a segunda parte empolgue.

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    1. Também achei a primeira parte bastante cansativa, mas é imprescindível para compreender todo o contexto e toda a influência e poder de Joana... mas é mt cansativo rss

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