[Resenha] O Homem de Lata
Sinopse: "Eu sabia que estava perdendo o controle do meu coração. Estava apaixonado. E era o homem mais feliz da terra.” O mágico de oz
Em 1963, Ellis e Michael eram dois garotos de doze anos que se tornaram grandes amigos. Durante muito tempo, sempre foram apenas os dois, andando pelas ruas de Oxford, um ensinando ao outro coisas como nadar, descobrir autores e livros e a esquivar-se dos punhos de seus pais dominadores.
Até que um dia algo muito maior que uma grande amizade cresce entre eles.
Mas então, avançamos cerca de uma década nesta história e encontramos Ellis, agora casado com Annie, e Michael não está mais por perto.
O que leva à pergunta: o que aconteceu nos anos que se seguiram?
Esta é quase uma história de amor. Mas seria muito simples defini-la assim.
O que eu achei?
“O Homen de Lata”, de Sarah Winman,
lançado pela Faro Editorial, entrou para a minha lista de livros
favoritos, sem precisar se esforçar muito ou usar de muitos
elementos complexos. A história desse livro é baseada em três
elementos: amizade, amor e perda. Tudo gira em torno disso, do início
ao fim.
Ellis é um jovem que perdeu a mãe,
Dora, ainda jovem, e teve que morar com seu pai distante e sua nova
mulher. Seu único amigo era Michael, um jovem que foi morar com a
dona da quitanda onde Ellis trabalhava, a quitanda da Mabel. Ellis e
Michael desenvolvem uma amizade instantânea, e a conexão entre os
dois aumenta cada vez mais com o passar dos anos. Michael se torna
amigo também de Dora, que se torna sua referência de mãe – já
que não mais tinha a sua.
Ellis e Michael descobrem juntos a
vida, os corpos, os prazeres e se tornam inseparáveis,
experimentando aquilo que não tinha nome para eles, mas parecia
certo. Até que um dia Ellis conhece Annie, com que se casa. E esse
triangulo, que tinha tudo para se desfazer se torna ainda mais forte.
O livro começa focando em Ellis, e tem
uma melancolia pungente nos relatos. Há uma tristeza e um vazio
quase palpável na história, e vamos aos poucos descobrindo como as
perdas em sua vida drenaram sua energia.
O relato de Michael, por sua vez, é
ambíguo, possui uma tristeza animada. Tem um ar de esperança e
contentamento por tudo o que aconteceu, mas uma dor por tudo o que
poderia ter acontecido. O relacionamento dele com Ellis é um dos
mais lindos – se não for o mais lindo – que eu já li em
qualquer livro. É simples, honesto, verdadeiro, e não pede nem
exige nada em troca. Não rotula nem limita. É de dentro para fora,
e em todas as direções.
A história é meio que um
causa-e-efeito, e mostra como as perdas podem nos afetar,
principalmente perdas tão significativas quanto as que Ellis sofreu
em sua vida, e da forma como elas aconteceram. A escrita doce é
fácil de acompanhar, sendo quase que hipnotizantes. É possível
imaginar todo o desenrolar enquanto lemos, como se estivéssemos
frente a frente com quem nos conta a história.
As personalidades foram criadas de
maneiras muito distintas e únicas, sem exageros, e tão opostas umas
as outras que se tornam complementares, num equilíbrio perfeito. E
nesse ponto que se faz o desequilíbrio emocional de Ellis: a perda
desses eles que o mantinham bem, alegre. Amado.
Em “O Mágico de Oz”, o Homem de
Lata era o mais amável dos personagens, e seu sonho era ter um
coração para que pudesse sentir o amor. Em “O Homem de Lata”,
temos alguém perdido, confuso, mas com um resquício de uma
esperança meio cansada. É a trajetória de alguém que busca
reviver seu coração que já amou muito, de todas as formas, e agora
precisa encontrar o amor outra vez, por todos aqueles que passaram
pela sua vida.
É uma das histórias mais lindas sobre
amor e amizade que eu já li, e a abordagem do relacionamento entre
os dois, como eles descobriram o desejo, o prazer e o sexo é tão
real e poética que emociona fácil. A mistura de arte, esperança e
reencontros fortalecem o drama, a amizade entre Ellis, Michael e
Annie dão o tom jovial e divertido; o relacionamento entre Ellis e
Michael cria a expectativa.
Enfim, o livro tem pontos que são
capaz de agradar a todo e qualquer leitor, tudo unido a uma ótima
escrita e uma edição lindíssima.
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