[Crítica Musical] High As Hope
A banda inglesa Florence + the Machine chega com seu quarto álbum de estúdio, “High As Hope” completamente renovada – e eu não estou falando somente da sonoridade deste novo trabalho.
Com 10 faixas inéditas, o álbum é sem dúvida o mais pessoal e íntimo da discografia, mais ainda que seu antecessor “How Big, How Blue, How Beautiful”, só de uma forma bastante diferente. Se em seus trabalhos anteriores Florence explorava as angústias, incertezas e fraquezas que a derrubava, unindo letras excruciantes a melodias ora pesadas e agitas, ora dramáticas e intimistas, “High As Hope” chega expansivo, explodindo de calma - se é que isso é possível - e um contentamento jamais visto em suas músicas, mais pé no chão e bem longe da antes constante claustrofobia angustiante.
Sonoramente, o álbum apresenta novidades na produções, com o uso maior de percussão e baterias e do piano com uma frequência maior, mas nada tão intenso ou pesado, seguindo um pouco das produções clássicas do gênero. Há um equilíbrio sonoro impecável nas novas faixas, e elementos dos álbuns anteriores também podem ser notados nas novas faixas, como os metais tão marcantes da era passada. A harpa, que é marca-registrada da banda, principalmente nos primeiros dois álbuns, volta a aparecer em algumas faixas, mas ainda assim de forma um pouco mais tímida do que o habitual. No geral, o exagero sonoro e as várias camadas instrumentais sobrepostas de fato deram lugar a uma sonoridade mais limpa e coesa.
Sobre os vocais, só posso dizer que estão impecáveis! Carregados de emoção e energia, Florence brinca com os tons, indo do grave ao agudo com uma facilidade quase inumana, e faz uso de backing vocals e harmonias de forma a criar uma atmosfera quase eterea. Arrebatador, para dizer o mínimo.
As faixas são relatos pessoais um pouco mais abertos e objetivos se comparados às analogias e conceitos de trabalhos anteriores, mas sem perder a atmosfera filosófica. Elas variam bastante de narrativa, indo de Florence lidando com o momento/presente até lidando com erros do passado, como na faixa “Grace”, dedicada a sua irmã – e uma das faixas mais emocionantes.
Liricamente, tratam desse novo momento de Florence: lidar de forma equilibrada com seus anseios, e aprender com eles a seguir em frente ainda inteira. Tormentos do passado são discutidos e expostos, como seus distúrbio alimentar cantado em “Hunger”, que se une à ideia de buscar preencher o vazio da alma com o “amor”, mas buscando-o em coisas que não são amor – como a própria Florence já mencionou., tema também incorporado à faixa “Big God”, que possui uma sonoridade muito semelhante ao art rock – o que me remeteu a banda Pink Floyd. Faixas como “The End Of Love” e “No Choir” mostram uma amadurecimento emocional impressionante, onde a calma e a solidão são apreciadas, e não mais assustadoras. Uma das faixas que mais me marcou e se tornou um vício foi “Patricia”, uma homenagem a cantora, compositora e escritora Patti Smith, que faz referencias diretas as criações da artista, como o refrão que diz “Ela me disse que todas as portas estão abertas àqueles que acreditam / e eu acreditei nela, eu acreditei nela, eu acreditei nela”, referência direta a frase “As portas estão abertas para quem acredita” presente no livro “Linha M”, de Patti Smith, lançado aqui no Brasil pela Companhia das Letras. Além disso, esse pequeno trecho revela a importância que a citação em questão teve para Florence, no sentido de se manter lutando, firme, acreditando no futuro. Sentiu o impacto?
Três clipes já foram liberados: o folk/blues “Sky Full Of Songs”, “Hunger”, e “Big God”, todas com clipes cheios de referências artísticas, e mergulhados nos conceitos de purificação e renascimento.
Entre faixas que revivem o seu passado em família, seus vícios e virtudes; em meio a homenagens, intensos desejos de manter-se no caminho de uma paz que não apenas acalma, mas traz entendimento acerca do nosso poder e controle sobre aquilo o que nos cerca, “High As Hope” chega como um alívio na discografia da banda, renovando as forças de um espírito que já foi muito massacrado e que agora, aprende aos poucos a lidar com a vida, sem deixar se derrubar. Ou caso caia, que aprenda a se levantar.
Tracklist:
01. June
02. Hunger
03. South London Forever
04. Sky Full Of Songs
05. Big God
06. Grace
07. Patricia
08. 100 Years
09. The End Of Love
10. No Choir
Florence + the Machine - Hunger
Com 10 faixas inéditas, o álbum é sem dúvida o mais pessoal e íntimo da discografia, mais ainda que seu antecessor “How Big, How Blue, How Beautiful”, só de uma forma bastante diferente. Se em seus trabalhos anteriores Florence explorava as angústias, incertezas e fraquezas que a derrubava, unindo letras excruciantes a melodias ora pesadas e agitas, ora dramáticas e intimistas, “High As Hope” chega expansivo, explodindo de calma - se é que isso é possível - e um contentamento jamais visto em suas músicas, mais pé no chão e bem longe da antes constante claustrofobia angustiante.
Sonoramente, o álbum apresenta novidades na produções, com o uso maior de percussão e baterias e do piano com uma frequência maior, mas nada tão intenso ou pesado, seguindo um pouco das produções clássicas do gênero. Há um equilíbrio sonoro impecável nas novas faixas, e elementos dos álbuns anteriores também podem ser notados nas novas faixas, como os metais tão marcantes da era passada. A harpa, que é marca-registrada da banda, principalmente nos primeiros dois álbuns, volta a aparecer em algumas faixas, mas ainda assim de forma um pouco mais tímida do que o habitual. No geral, o exagero sonoro e as várias camadas instrumentais sobrepostas de fato deram lugar a uma sonoridade mais limpa e coesa.
Sobre os vocais, só posso dizer que estão impecáveis! Carregados de emoção e energia, Florence brinca com os tons, indo do grave ao agudo com uma facilidade quase inumana, e faz uso de backing vocals e harmonias de forma a criar uma atmosfera quase eterea. Arrebatador, para dizer o mínimo.
As faixas são relatos pessoais um pouco mais abertos e objetivos se comparados às analogias e conceitos de trabalhos anteriores, mas sem perder a atmosfera filosófica. Elas variam bastante de narrativa, indo de Florence lidando com o momento/presente até lidando com erros do passado, como na faixa “Grace”, dedicada a sua irmã – e uma das faixas mais emocionantes.
Liricamente, tratam desse novo momento de Florence: lidar de forma equilibrada com seus anseios, e aprender com eles a seguir em frente ainda inteira. Tormentos do passado são discutidos e expostos, como seus distúrbio alimentar cantado em “Hunger”, que se une à ideia de buscar preencher o vazio da alma com o “amor”, mas buscando-o em coisas que não são amor – como a própria Florence já mencionou., tema também incorporado à faixa “Big God”, que possui uma sonoridade muito semelhante ao art rock – o que me remeteu a banda Pink Floyd. Faixas como “The End Of Love” e “No Choir” mostram uma amadurecimento emocional impressionante, onde a calma e a solidão são apreciadas, e não mais assustadoras. Uma das faixas que mais me marcou e se tornou um vício foi “Patricia”, uma homenagem a cantora, compositora e escritora Patti Smith, que faz referencias diretas as criações da artista, como o refrão que diz “Ela me disse que todas as portas estão abertas àqueles que acreditam / e eu acreditei nela, eu acreditei nela, eu acreditei nela”, referência direta a frase “As portas estão abertas para quem acredita” presente no livro “Linha M”, de Patti Smith, lançado aqui no Brasil pela Companhia das Letras. Além disso, esse pequeno trecho revela a importância que a citação em questão teve para Florence, no sentido de se manter lutando, firme, acreditando no futuro. Sentiu o impacto?
Três clipes já foram liberados: o folk/blues “Sky Full Of Songs”, “Hunger”, e “Big God”, todas com clipes cheios de referências artísticas, e mergulhados nos conceitos de purificação e renascimento.
Entre faixas que revivem o seu passado em família, seus vícios e virtudes; em meio a homenagens, intensos desejos de manter-se no caminho de uma paz que não apenas acalma, mas traz entendimento acerca do nosso poder e controle sobre aquilo o que nos cerca, “High As Hope” chega como um alívio na discografia da banda, renovando as forças de um espírito que já foi muito massacrado e que agora, aprende aos poucos a lidar com a vida, sem deixar se derrubar. Ou caso caia, que aprenda a se levantar.
Tracklist:
01. June
02. Hunger
03. South London Forever
04. Sky Full Of Songs
05. Big God
06. Grace
07. Patricia
08. 100 Years
09. The End Of Love
10. No Choir
Florence + the Machine - Hunger
Directed by AG Rojas
Produced by Park Pictures
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