[News] ¨Meus duzentos filhos¨ de Miriam Halfim, volta a cartaz na Zona Sul-todas as quintas-feiras de outubro no Midrash
Um dos homens mais generosos,
humanistas e sábios que viveu neste mundo é o personagem central da peça “Meus
200 Filhos”: Janusz Korczak, pedagogo, pediatra e escritor judeu polonês,
fundador e gestor do Orfanato Modelo, em Varsóvia, onde se dedicou durante 30
anos a formar e educar órfãos, oferecendo as crianças amor, carinho, respeito e
instrução moral para enfrentar a vida. Korczak viveu para educar e cuidar dos
pequenos que amparou e morreu com eles, nas mãos nazistas no campo de
Treblinka, em 1942. O espetáculo teatral teve temporada prorrogada e será
encenado todas as quintas-feiras no Midrash Centro Cultural, no Leblon.
“Meus 200 Filhos” é um monólogo cuja atuação do ator
Marcelo Aquino. Em cena está a vida e obra de Janusz Korczak (1879-1942), uma
mesa, uma cadeira. Janusz Korczak é o pseudônimo de Henryk Goldszmit, nascido
no dia 22 de julho de 1878, em Varsóvia (Polônia) e responsável por desenvolver
um método pedagógico inovador.
“Sim, me tornei um escritor, foram
vários concursos literários, foi quando adotei um pseudônimo: Janusz Korczak.
Esse nome colou em mim para sempre”. (Janusz Korczak)
Baseado no diário deixado por ele,
suas memórias são resgatadas e transportadas para este espetáculo teatral que
focaliza sua brilhante e iluminada ação junto as crianças acolhidas em seu
orfanato modelo Dom Sierot (A Casa dos Órfãos), onde trabalhou durante 30 anos,
na Varsóvia. Os órfãos – seus duzentos filhos - aprendiam disciplina, ganhavam
instrução e força moral para enfrentar a vida. Korczak afirmava que “não
existem crianças, existem pessoas”, e esforçava-se para assegurar a elas uma
infância despreocupada, mas não isenta de obrigações.
O texto de Miriam Halfim é pontuado
de lirismo, emoção e aponta o amor como caminho para vencer instabilidades e
transformar seres humanos desesperançados em cidadãos úteis e capazes de
contribuir para uma sociedade melhor. O monólogo traz a generosidade,
hombridade, nobreza, retidão, firmeza de caráter e lealdade como
características explícitas do personagem. Desse modo, a peça conduz o público a
pensar sobre a educação e o tratamento dispensado as crianças com um novo
olhar, o do amor. É uma verdadeira oportunidade de conhecer uma grande história
de força de vontade em meio as ações pavorosas do nazismo.
“Eu me emocionei e ainda me
emociono quando li o texto. Muitas vezes nos ensaios preciso segurar as
lágrimas. É uma história real que comove. Temos tantas crianças em situação de
vulnerabilidade como as do orfanato. Tantos professores no Rio de Janeiro e no
Brasil enfrentam riscos diários na educação das crianças e, como Korczak, nunca
desistiram. Dar vida a um personagem tão forte é um orgulho”, diz o ator
Marcelo Aquino.
“Eu adoro crianças. Eu nunca
suportei ver um adulto maltratando crianças, ficava enfurecido. Não aceitava
injustiças e não entendia por que umas crianças tinham tudo e outras nada. Para
educá-las, é preciso elevar-se até elas para poder vislumbrar e compreender
toda a riqueza de sua mente. Elevar-se para aproximar-se de cada uma delas e
entender toda a sua beleza.” (Janusz Korczak)
A ficha técnica é respeitável: tem
direção de Ary Coslov, Marcelo Aquino interpretando Janusz Korczak, Bernardo
Peixoto como assistente de direção, Ana Vitória na preparação corporal e
produção de Maria Alice Silvério. A peça saiu do papel com a ajuda do
financiamento coletivo via Catarse no site www.catarse.me/meusduzentosfilhos,
onde ainda segue angariando fundos para manter-se em cartaz.
VIDA E TRABALHO DE JANUSZ KORCZAK
O Orfanato Modelo Dom Sierot (A
Casa dos Órfãos) foi fundado no dia 7 de outubro de 1912 por Janusz Korczak
juntamente com sua amiga Stefania Wilczyska. A entidade destinada a crianças
judias era financiada pela Sociedade judaica “Auxílio aos Órfãos”. Ele
desenvolveu a chamada “República de Crianças”, onde funcionava um tribunal de
arbitragem de crianças, no qual os próprios órfãos avaliavam as causas apresentadas
por eles mesmos, podendo inclusive levar à tribunal seus educadores.
“Educação não transforma o mundo.
Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo. A educação modela as almas
e recria os corações. Ela é a alavanca das mudanças sociais.” (Janusz Korczak)
Entre outubro e novembro de 1940, o
orfanato foi transferido a mando do governo nazista para o Gueto de Varsóvia, o
maior bairro judaico estabelecido pela Alemanha Nazista na Polónia durante o
Holocausto. O educador e seus duzentos filhos padeceram nas mãos dos apoiadores
do alemão Adolf Hitler. Embora o pedagogo tenha recebido três propostas para
sair do local, recusou todos os chamados: ele não iria a lugar nenhum sem seus
filhos.
Foi no gueto, que ele retomou a
escrita regular do seu diário iniciado em 1939, após dois anos sem fazer
nenhuma anotação sobre o comportamento e desenvolvimento das crianças e
técnicas educacionais aplicadas por ele. A última anotação foi em 4 de agosto
de 1942. Na manhã de 5 de agosto de 1942, o local foi cercado pelas tropas
nazistas. Era o fim. Korczak, então com 64 anos, pediu para as crianças
colocarem suas melhores roupas e pegarem o seu brinquedo favorito. Em marcha,
ele pegou duas crianças pelas mãos e guiando um grupo de 192 órfãos, embarcou
em um dos vagões rumo aos campos de extermínio. O comboio também levava
Stefania Wilczyńska e mais um grupo de educadores. A caminhada para a morte
tornou-se um ícone do massacre. Janusz Korczak foi assassinado com suas
crianças no campo de extermínio nazista de Treblinka. No ano de 1948, foi
postumamente agraciado com a Cruz de Cavaleiro da Ordem da Polônia Restituta. O
diário foi publicado pela primeira vez em Varsóvia, em 1958.
“Muito pouca luz, pouco espaço,
pouco oxigênio, um vagão cheio de almas e um trem em deslocamento. Tomara que
meu diário esteja a salvo em algum lugar.” (Janusz Korczak)
INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Korczak foi um pedagogo inovador e
precursor nas iniciativas em prol dos direitos da criança e do reconhecimento
da total igualdade entre elas e os adultos. Seu trabalho ganhava força e também
tinha inspiração nos estudos desenvolvidos por Maria Montessori - educadora,
médica e pedagoga italiana que destacava a importância da liberdade, da
atividade e do estímulo para o desenvolvimento físico e mental das crianças.
“Algumas crianças conhecem a
alegria de brincar e reinventar o mundo, mas muitas levam uma vida dura desde
cedo. Eu sei do que estou falando, pois tive que aprender cedo a enfrentar a
dureza do mundo.” (Janusz Korczak)
Janusz Korczak deixou princípios
que ainda hoje estão sendo estudados. Seus 24 livros são a base de grandes
nomes da educação infantil com Paulo Freire e o psicólogo suíço, Jean Piaget,
que chegou a visitar o orfanato. Sua ideia de respeitar os direitos da criança
é referência para muitos autores contemporâneos. A importância e relevância de
Korczak na educação fez surgir em 1998 o "O seminário é uma comemoração
dos 50 anos da Declaração dos Direitos da Criança da ONU, inspirada em
Korczak”.
FICHA TÉCNICA
Texto: Miriam Halfim
Direção: Ary Coslov
Interpretação: Marcelo Aquino
Cenário E Figurinos: Ary Coslov
Iluminação: Paulo César Medeiros
Assistente De Direção: Bernardo
Peixoto
Preparadora Corporal: Ana Vitória
Fotos, Vídeos E Design: Thiago Sacramento
Produção: Maria Alice Silvério
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