[Resenha] Especial 2GM | Resistência
Sinopse: “Resistência” narra a trajetória de duas irmãs gêmeas lutando pela sobrevivência na Segunda Guerra Mundial. Pearl e Stasha chegam a Auschwitz em 1944 e ainda vivem sob o encantamento da infância – têm uma conexão muito forte, se entendem, se confortam e brincam juntas. Como parte de um experimento chamado Zoológico de Mengele, as irmãs conhecem o horror e têm suas identidades fraturadas pela dor e pelo sofrimento. No inverno, Pearl desaparece; Stasha chora pela irmã, mas mantém a esperança de encontrá-la viva. Ao final do conflito, Stasha se depara com um mundo em ruínas, uma Polônia devastada pela guerra, e tenta reconstruir sua vida a partir dali. Romance narrado com uma voz poderosa e única, Resistência desafia qualquer expectativa ao atravessar um dos períodos mais devastadores da história contemporânea e mostrar que há beleza e esperança até diante do caos e ganhou elogios da crítica e de autores como Anthony Doerr, de Toda luz que não podemos ver.
O que eu achei?
Inspirado no caso real das irmãs
gêmeas Eva e Miriam Mozes, “Resistência” nos leva a vivenciar
as experiências mais horrendas que ocorreram no campo de
concentração Auschwitz, pelas mãos do Anjo Da Morte, o Dr. Josef
Mengele. A história nos é contada pelas gêmeas Stasha e Pearl,
quando elas são levadas sob a custódia do Dr. Mengele,e passam a
viver no que chama de zoológico, onde outras crianças e pessoas com
alguma anormalidade física ou genética ficavam reunidos para as
“experiencias”.
A história é de uma carga emocional
descomunal. Cada gêmea nos conta o que sente e o que vive, e vemos
como a relação e a conexão entre as duas é de fina sintonia.
Juntas, elas tentam sobreviver e se apegar a lembranças e
esperanças, sem deixar escapar suas identidades, sem se afastarem de
si mesmas e uma da outra. A escrita de Affinity Konar é uma das mais
lindas que já li, misturando com extremo cuidado a voz jovem das
suas protagonistas com relatos doloridos de espíritos que estão
lutando pela sobrevivência onde somente há morte.
Cada personagem dessa história –
excreto Mengele – tem seu brilho e sua importância, cada um sendo
tão importante para nossas protagonistas quanto se pode imaginar que
outra pessoa possa ser a nós em momentos tão difíceis de se viver.
Acompanhamos descobertas, aprendizados; crescemos e amadurecemos à
força com eles. Nós vemos como Auschwitz afeta cada um deles de uma
forma única, isso unido às experiencias macabras de Mengele.
Experiencias, essas, que são tratadas com detalhes precisos e
angustiantes, mostrando que não havia nenhum limite para a crueldade
humana. Mas também não havia limites para a esperança...
Enquanto parte do livro foca nessa
esperança, a de um futuro livre, de volta ao mundo antes conhecido,
outra parte – após a separação das irmãs, como dito na sinopse
– afunda numa angústia e se enrola em várias camadas de
sofrimentos seguidos, traumas que marcaram não só a mente e o
espírito, mas também o corpo. Quando Pearl some, Stasha, sim, se
enche de esperança para reencontrar sua irmã – sua melhor parte.
Mas essa esperança está corroída, maltratada, desgastada e frágil.
É doloroso ver como uma menina – na verdade, as duas – tão
jovem passou por tantas provações e torturas, e ainda assim manteve
suas esperanças vivas – mas poluídas pela morte, pela dor, pelo
ódio.
A parte em que estão separadas é, com
certeza, a mais carregada emocionalmente, onde as personagens são
entregues a sorte e a nenhum destino certo. Seus questionamentos e
pensamentos são pesados até para nós, já adultos, além de
extremamente eloquentes e poéticos. E é isso o que mais dói, a
beleza no discurso das meninas, que se encontram cercadas pelo pior
que há no mundo. Acredito que a imagem desse sentimento seja como a
beleza de uma natureza morta.
Ressecada, frágil, mas ainda bela em sua desolação. A história deixa de ser uma jornada para sobreviver e passa a se tornar uma jornada para se reencontrar consigo mesma e com suas lembranças. Reunir os pedaços que foram partidos, pisoteados e espalhados.
Ressecada, frágil, mas ainda bela em sua desolação. A história deixa de ser uma jornada para sobreviver e passa a se tornar uma jornada para se reencontrar consigo mesma e com suas lembranças. Reunir os pedaços que foram partidos, pisoteados e espalhados.
O que resta quando nos é tirado tudo?
Quando passamos de humanos a cobaias? Quando nos é roubada a nossa
liberdade? A nossa melhor parte? O que resta de nós em nós quando a
esperança precisa lutar cara a cara com a morte a cada segundo? As
respostas são encontradas no amor, na amizade, nas alianças e nas
promessas feitas.
“Resistência” sem dúvidas é um
livro que deixa marcas profundas, e sua história traz a tona não
somente o pior lado do ser humano, mas também toda a força que
temos. É brutal e belo; triste e esperançoso. Cada linha, cada
parágrafo é como uma poesia que vive para não esquecer o passado;
luta para sobreviver ao presente, e que sonha com um próspero
futuro, mostrando que é possível haver beleza em meio ao caos.
Nenhum comentário