[Crítica] Animais Fantásticos- Os Crimes de Grindelwald

Sinopse:
Newt Scamander (Eddie Redmayne) reencontra os queridos amigos Tina Goldstein (Katherine Waterston), Queenie Goldstein (Alison Sudol) e Jacob Kowalski (Dan Fogler). Ele é recrutado pelo seu antigo professor em Hogwarts, Alvo Dumbledore (Jude Law), para enfrentar o terrível bruxo das trevas Gellert Grindelwald (Johnny Depp), que escapou da custódia da MACUSA (Congresso Mágico dos EUA) e reúne seguidores, dividindo o mundo entre seres de magos sangue puro e seres não-mágicos.

O que eu achei?
[ALERTA DE SPOILER] Se você não assistiu ao filme, saiba que essa matéria conterá revelações do enredo. Logo, leia por sua conta e risco.
Com referências à saga principal e personagens que amamos voltando às telonas, o segundo filme da franquia Animais Fantásticos carregou consigo várias responsabilidades, entre elas a de conectar os acontecimentos daquela época com os do futuro que já conhecemos, o desenvolvimento de versões passadas de bruxos icônicos e a construção de um grande vilão cujo nome encabeça a segunda parte do título da produção.

Ao contrário do primeiro filme, que trouxe uma maior introdução de personagens que não conhecíamos e nos inseriu em um ambiente completamente novo, dessa vez nos vemos de volta a Hogwarts, com a presença de professores como Alvo Dumbledore, que leciona Defesa Contra as Artes das Trevas, e a Prof. McGonagall, que ainda deve ser melhor explicada nas outras obras cinematográficas.

A história volta a se passar na Europa, dessa vez em Paris. O filme se inicia em 1927, nos Estados Unidos, quando se passam seis meses do primeiro e Grindelwald (Johnny Depp) consegue escapar da prisão e parte em busca da realização de seus objetivos. Essa conexão com o continente europeu já faz com que os espectadores se sintam mais próximos do ambiente raiz da trama.

Ao se reencontrar com Dumbledore, Newt (Eddie Redmayne) fica encarregado da responsabilidade de derrotar Grindelwald, embora a missão principal daquele momento seja achar Credence Bareboune (Ezra Miller) antes do inimigo, e trazê-lo para o lado deles. Este, por sua vez, foi para Paris à procura de maiores informações sobre sua família, e é um dos principais alvos para que o plano do bruxo das trevas seja concretizado, embora ainda haja muitos mistérios a serem explicados em relação a isso.

Embora exista a trama principal, claramente definida, existem outras paralelas, que ligam pontas soltas nos outros filmes. Um claro exemplo é a personagem Leta Lestrange (Zoë Kravitz), atual noiva de Theseus Scamander (Callum Turner), irmão de Newt, e a inserção da personagem Nagini, que, ainda humana, sofre de uma maldição (Maledictus) que a transformará definitivamente em cobra no futuro. As duas personagens ficaram em segundo plano, não tendo destaque que mereciam, embora Leta tenha tido tempo para defender sua história com direitos a flashbacks em Hogwarts e maiores revelações sobre sua família.

Os Crimes de Grindelwald possui uma atmosfera mais sombria, e J. K. Rowling se preocupou em inserir nuances políticas nos discursos do vilão, cujos crimes não se resumem apenas a assassinatos e sequestros, mas também a distorções de vários acontecimentos e pontos de vistas, além da corrupção de uma enorme massa de pessoas que, mesmo não compartilhando de intenções ruins, aderem ao seu discurso em prol de um futuro que acreditam ser o melhor. É o caso da personagem Queenie Goldstein (Alison Sudol), que está apaixonada por Jacob Kowalski (Dan Fogler) e deseja se casar com o trouxa, o que é repudiado pela sociedade bruxa daquela época. Sua mudança foi pensando puramente na possibilidade de viver o seu amor, mostrando como, mesmo sendo capaz de ler as mentes, pôde ser influenciada pelas promessas do bruxo.

Se, por um lado, as tramas paralelas alegram o coração dos fãs e trazem várias referências visuais dos outros filmes, como o Espelho de Ojesed, a Pedra Filosofal e o Bicho-Papão, por outro elas podem desapontar o espectador que não leva para o cinema as expectativas ideais. Nagini e Nicolau Flameu, por exemplo, contaram com pouquíssimas cenas, de modo que o apego pela história de cada um fale mais alto do que a própria representação deles como personagens dentro do enredo. E Tina Goldstein, que, por ser o par romântico de Newt, deveria ter mais destaque, ainda parece não ter encontrado sua chance de evoluir.

A relação entre Dumbledore e Grindelwald recebe um pouco de atenção, com cenas que tornam mais explícito o sentimento que o professor possui, sendo maior do que apenas amizade. Resta aguardar se, nos longas seguintes, isso será maior desenvolvido e trará respostas satisfatórias.

As cenas do passado na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, no trailer, pareciam ser focadas em Newt, mas foi uma artimanha por parte da equipe de divulgação para despistar a verdadeira ênfase, que foi em Leta e qual era o ponto de vista da garota. A propósito, chega um momento em que o enredo aponta para a possibilidade de Credence ser seu irmão mais novo, e ela, relembrando seu passado, desmente o fato, o que nos deixa ainda mais curiosos para entender quem ele é.

O filme conta com uma grande vantagem: possui mais de duas horas de duração, e os rápidos eventos nos impedem de sentirmos o tempo passar. Em nenhum momento se tornou entediante ou teve cenas que enchessem linguiça. Pelo contrário, pois acredita-se que, caso a duração fosse maior, mais situações poderiam ser mais exploradas. É um caso a se avaliar, pois esse filme teve cenas em três lugares (Estados Unidos, França e Inglaterra) e os próximos podem ter ainda mais.

Quem pensa que, pelo protagonismo do filme ser atribuído ao personagem de Johnny Depp, os “animais fantásticos” citados no título da franquia não possuem destaque, saiba que não é verdade. Embora apareçam com menos ênfase do que o primeiro filme, as criaturas surgem nos momentos mais necessários, auxiliando Newt em suas aventuras e trazendo um ar de leveza e pureza – essencial em qualquer obra sombria – à rotina em que o jovem, que rompe com o padrão ao ser atrapalhado e inocente, sem deixar de lado sua força e inteligência.

Nossa amada escritora e roteirista deixa o melhor para o final. Nos últimos trinta minutos, repletos de ação, começamos a descobrir como serão construídos os lados do bem e do mal. Enxergamos Queenie e Credence sendo a favor de Grindelwald, ambos com intenções pessoas envolvidas, Nagini ficar do lado dos mocinhos e Leta morrendo ao tentar derrotar Grindelwald. A construção do discurso de ódio é muito bem elaborada, e a maneira como a mente de seus seguidores é manipulada para que eles acreditem em suas palavras é surreal. Arrisca-se dizer que é um vilão mais inteligente e mais perigoso que Voldemort, que deixava claro quem realmente era e, com isso, tinha um número maior de adversários. Além disso, a revelação trazida pelo bruxo das trevas na última cena deixa os fãs loucos, sendo uma das maiores reviravoltas já criadas por J. K. Rowling.

Trailer:

Escrito por Victor Lima


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