[Crítica] A Voz do Silêncio
Sinopse: O passar dos anos é impiedoso para todos. No filme, sete personagens aparentemente comuns conduzem suas vidas buscando, cada um, aquilo que acredita lhe trazer satisfação pessoal. Mas, mesmo com vidas distintas e distantes, eles se aproximam pela maneira como orientam suas existências com base em preocupações mundanas.
O que eu achei?
Numa São Paulo barulhenta, implacável e povoada por anônimos, o cineasta André Ristum encena algumas histórias sobre relacionamentos. Mãe e filhos fora de sintonia, um marido que não se comporta como tal, avô e neto afastados, patrão desrespeitoso e funcionário incansável. A Voz do Silêncio é um filme-coral sobre a barulhenta solidão que despreza gênero, nacionalidade, orientação sexual, idade, estado civil, classe social e também raça – variável, no entanto, que não é representada na obra.Experimentando diferentes níveis de isolamento, os personagens, em geral envolvidos em algum tipo de mentira e vício, têm suas rotinas abaladas pela aproximação do fenômeno astronômico conhecido como Lua de Sangue. Sinal do fim dos tempos, segundo a Bíblia Sagrada, a Lua Vermelha introduz de fato uma mudança de fase nas vidas dessas pessoas, e ao público é reservada por bastante tempo a dúvida sobre que conexões escondidas as envolvem, um quebra-cabeça meio sem razão de ser, estimulado pelo ritmo vagaroso de aprofundamento e clima de mistério assumido por Ristum.
A Voz do Silêncio é uma obra que quer desesperadamente, pretendendo entender que o está fazendo com uma maestria inigualável – uma atmosfera singular, readaptada pela trilha sonora energética -, discursar sobre os barulhos que cerceiam uma população solitária, paulista, contudo, que conta com um elenco parcialmente argentino. As amálgamas são fracassadas nesse quesito. Uma cidade distante, no mau sentido, porque não parece ser São Paulo, todavia, qualquer lugar, qualquer contexto. A solidão é universal e esse silêncio independe do conteúdo. As premissas são compreendidas, embora não se embasem em um argumento realmente competente. Quando a distância de alguns quarteirões é mais pungente que a distância de um país para o outro. O que sobra são cenas interessantes para fomentar um horror específico, de quanto nos perdemos, nos esquecemos, nada temos. O silêncio, portanto.
A Voz do Silêncio fez sua estreia na competição oficial do Festival de Málaga 2018 e abriu o Festival de Tucuman, na Argentina. O filme participou da 42ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e será exibido hors concours na Première Brasil/Festival do Festival e estréia nos cinemas dia 22 de novembro.
A Voz do Silêncio – Brasil, 2018
Diretor: André Ristum
Roteiro: André Ristum, Marco Dutra
Elenco: Marieta Severo, Stephanie de Jongh, Arlindo Lopes, Marat Descartes, Marina Glezer, Claudio Jaborandy,
Duração: 98 min
Assista ao trailer:
Por Priscilla Matias
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