[News] Com Letícia Sabatella, ¨O colar de Coralina ¨ estreia dia 22 de novembro
“O Colar de Coralina” é um filme infantil inspirado no poema “O
prato azul-pombinho” da poetisa Cora Coralina e em diversos episódios de sua
infância. Ambientando no final do século XIX na cidade de Goiás Velho, antiga
capital do Estado, o longa narra o cruel costume de castigar crianças que
quebravam uma louça amarrando o caco da louça quebrada em seus pescoços
pequeninos.
Esse é o terceiro longa metragem de Reginaldo Gontijo. No
currículo ele tem os premiados “O Mar de Mário”(2010) sobre Mário Peixoto,
diretor de “Limite”(1931) e o longa “Eudoro e o logos Heráclito” (2012) sobre o
filósofo Eudoro de Souza. Gontijo, que também é poeta, é profundo admirador da
obra de Cora Coralina “Amo a poesia de Cora, seus versos rudes, diretos,
desconcertantes até, mais de uma força assustadora, cheios de vida, com cheiro
de terra e doces de goiaba num tacho de cobre de fogão de lenha. Cora foi uma
mulher impressionante. Determinada, saiu de casa muito jovem, com um homem que
já era casado. Assumiu sua filha e teve mais 5 filhos. Criou todos, passou por
Minas Gerais, São Paulo e depois da morte do marido, voltou à velha casa da
ponte de sua infância, na cidadezinha de Goiás. Recomeçou a vida e só tornou-se
publicamente conhecida aos 70 anos de idade. Sua poesia é uma ode de amor, à
vida e principalmente às mulheres ‘do povo, lavadeiras, trabalhadoras, bem
linguarudas e parideiras’ como dizia em seus versos”, explica o diretor.
O projeto nasceu quando Gontijo conheceu a obra de Cora e leu
pela primeira vez o poema O Prato Azul-Pombinho. “O poema é quase um roteiro.
Ele conta a história de um prato da família que um dia aparece quebrado. Cora
leva a culpa e tem que usar um caco do prato quebrado amarrado num cordão como
castigo, por isso o Colar de Coralina”, complementa o diretor.
Além de Letícia Sabatella, o elenco conta com atores mirins
selecionados nas oficinas realizadas em Brasília pela produtora Digitalina, que
também assina a produção do longa. Ao todo foram dois meses de filmagens
divididas entre a cidade de Brasília e a cidade de Goiás Velho, com gravações
na casa onde Cora morou e que hoje funciona como um museu.
O poema
“O prato azul-pombinho”
Minha bisavó - que Deus a tenha em glória -
sempre contava e recontava
em sentidas recordações
de outros tempos
a estória de saudade
daquele prato azul-pombinho.
Era uma estória minuciosa.
Comprida, detalhada.
Sentimental.
Puxada em suspiros saudosistas
e ais presentes.
E terminava, invariavelmente,
depois do caso esmiuçado:
“- Nem gosto de lembrar disso...”
É que a estória se prendia
aos tempos idos em que vivia
minha bisavó
que fizera deles seu presente e seu futuro.
Voltando ao prato azul-pombinho
que conheci quando menina
e que deixou em mim
lembrança imperecível.
Era um prato sozinho,
último remanescente, sobrevivente,
sobra mesmo, de uma coleção,
de um aparelho antigo
de 92 peças.
Isto contava com emoção, minha bisavó,
que Deus haja.
Era um prato original,
muito grande, fora de tamanho,
um tanto oval.
Prato de centro, de antigas mesas senhoriais
de família numerosa.
De fastos de casamento e dias de batizado.
Pesado. Com duas asas por onde segurar.
Prato de bom-bocado e de mães-bentas.
De fios-de-ovos.
De receita dobrada
de grandes pudins,
recendendo a cravo,
nadando em calda.
Era, na verdade, um enlevo.
Tinha seus desenhos
em miniaturas delicadas.
Todo azul-forte,
em fundo claro
num meio-relevo.
Galhadas de árvores e flores,
estilizadas.
Um templo enfeitado de lanternas.
Figuras rotundas de entremez.
Uma ilha. Um quiosque rendilhado.
Um braço de mar.
Um pagode e um palácio chinês.
Uma ponte.
Um barco com sua coberta de seda.
Pombos sobrevoando.
Minha bisavó
traduzia com sentimento sem igual,
a lenda oriental
estampada no fundo daquele prato.
Eu era toda ouvidos.
Ouvia com os olhos, com o nariz, com a boca,
com todos os sentidos,
aquela estória da Princesinha Lui,
lá da China - muito longe de Goiás -
que tinha fugido do palácio, um dia,
com um plebeu do seu agrado
e se refugiado num quiosque muito lindo
com aquele a quem queria,
enquanto o velho mandarim - seu pai -
concertava, com outro mandarim de nobre casta,
detalhes complicados e cerimoniosos
do seu casamento com um príncipe todo-poderoso,
chamado Li.
Então, o velho mandarim,
que aparecia também no prato,
de rabicho e de quimono,
com gestos de espavento e cercado de aparato,
decretou que os criados do palácio
incendiassem o quiosque
onde se encontravam os fugitivos namorados.
E lá estavam no fundo do prato,
- oh, encanto da minha meninice! -
pintadinhos de azul,
uns atrás dos outros - atravessando a ponte,
com seus chapeuzinhos de bateia
e suas japoninhas largas,
cinco miniaturas de chinês.
Cada qual com sua tocha acesa
- na pintura -
para pôr fogo no quiosque
- da pintura.
Mas ao largo do mar alto
balouçava um barco altivo
com sua coberta de prata,
levando longe o casal fugitivo
Sobre a Cora Coralina
Cora Coralina é uma das poetisas mais importantes da literatura
brasileira. Seu nome verdadeiro era Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas.
Nascida em 20 de agosto de 1889, ela começou a escrever poemas aos 14 anos de
idade.
Cora viveu como doceira boa parte de sua vida e somente aos 75
anos, publicou seu primeiro livro, “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”.
Em 1983, foi a primeira mulher vencedora do prêmio Juca Pato, com o livro
“Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha”.
Aninha, como era chamada, teve uma infância difícil. Sua família
passou por graves dificuldades financeiras e como ela mesma afirma em suas
poesias “criança , no meu tempo de criança, não valia mesmo nada. A gente
grande da casa usava e abusava de pretensos direitos de educação”.
Junto com Aninha, na antiga Casa Velha da Ponte, moravam oito
mulheres: sua bisavó Antônia, sua avó Dindinha, sua mãe Jacinta, sua tia
Nhorita, a ex-escrava Lizarda, suas irmãs Vicência, Helena e a menorzinha Ada.
Além delas, no filme aparece a Tia Vitalina.
Sobre o diretor
Reginaldo Gontijo é mineiro e residente em Brasília a mais de 40
anos. Dirigiu “O Mar de Mário”(2010) sobre o mitológico diretor de
“Limite”(1931) Mário Peixoto, vencedor do melhor longa 35mm no 43º Festival de
Brasília do Cinema Brasileiro e o longa “Eudoro e o logos Heráclito” (2012)
sobre o filósofo Eudoro de Souza. “O Colar de Coralina” é seu 3º longa-
metragem e a primeira obra de ficção.
Sobre a distribuidora
A O2 Play é dirigida por Igor Kupstas sob a tutela de Paulo
Morelli, sócio da O2 Filmes, e faz parte do grupo O2, que tem como sócios
também o cineasta Fernando Meirelles e a produtora Andrea Barata Ribeiro. Em
atividade desde 2013, a O2 Play se diferencia das demais distribuidoras por
trabalhar além do cinema, TV e vendas internacionais, o VOD (Video on Demand),
como uma distribuidora digital. Possui contratos com plataformas como o iTunes,
Google Play, Netflix, NOW, Claro Vídeos, Vimeo, ofertando além de conteúdos
longa-metragem e seriados também serviços de delivery (Encoding).
A O2 Play lançou em cinema filmes como CIDADE CINZA (2013), com
os grafiteiros Os Gêmeos, LATITUDES (2014), romance com Alice Braga e Daniel de
Oliveira que foi parte de um inovador projeto transmídia, JUNHO - O MÊS QUE
ABALOU O BRASIL (2014), documentário da Folha de S. Paulo, primeiro filme a
chegar aos cinemas e em VOD na mesma data, A LEI DA ÁGUA (2015), documentário
de André D’Elia com produção de Fernando Meirelles, A BRUTA FLOR DO QUERER
(2016), vencedor de 2 prêmios em Gramado, UMA NOITE EM SAMPA (2016), de Ugo Giorgetti,
PARATODOS, doc sobre atletas paraolímpicos que após carreira elogiada pela
críticas nos cinemas foi vendido para o mundo todo na NETFLIX, DO PÓ DA TERRA
(2016), doc de Maurício Nahas, PESCADORES DE PÉROLAS (2015), ópera com direção
de Fernando Meirelles transmitida ao vivo via satélite do Theatro da Paz para
10 salas de cinema, e ENTRE NÓS (2014), A NOITE DA VIRADA (2014) e ZOOM (2016),
estes de produção da O2 Filmes em co-distribuição com a Paris Filmes.
Entre os lançamentos da O2 Play nos cinemas estão o
longa-metragem TRAVESSIA, filme com Chico Diaz e Caio Castro, o documentário
SEPULTURA ENDURANCE, sobre a banda brasileira de metal, COMEBACK, filme
vencedor do prêmio de melhor ator para Nelson Xavier no Festival do Rio 2016 e
MALASARTES E O DUELO COM A MORTE, grande produção da O2 Filmes dirigida por
Paulo Morelli. Também entram na lista o documentário EXODUS- DE ONDE VIM NÃO
EXISTE MAIS, produzido pela O2 e dirigido por Hank Levine, o longa A REPARTIÇÃO
DO TEMPO, dirigido por Santiago Dellape e CORAÇÃO DE COWBOY, dirigido por Gui
Pereira.
A O2 Play é pioneira em curadoria mundial no iTunes com a seção
FERNANDO MEIRELLES RECOMENDA. Esta a primeira vez que a loja da Apple convidou
um agente externo para sugerir filmes (confira em itunes.com/fmeirelles).
A O2 PLAY realiza a distribuição digital e encoding para dezenas
de títulos e séries, além de vendas para TV e mercado internacional. Tivemos
oito longas escolhidos pela Apple dentre "Os Melhores Filmes do Ano” entre
2014 e 2016.
Ficha técnica:
O Colar de Coralina
2017 | Brasil | Ficção | Drama | 77 minutos
Diretor: Reginaldo Gontijo, Roteirista: Geraldo Lima, Diretor de
Fotografia: Dizo dal Moro, Produção Executiva: Laura Valle Gontijo e Carina
Bini , Elenco: Letícia Sabatella (Jacintha), Rebeca Vasconcelos (Aninha), Maria
Coeli (Cora Coralina), Nadja Dulci (Tia Nhorita), Valdelice Moreno (Lizarda),
Melina Marques Calazans (Helena), Magna Oliveira (Dona Antônia), Nínive Rossi
(Vicência),
Alice Lara Resende (Ada), Mariana Mendes (Maria), Paula Passos (Vó
Dindinha), (Tia Vitalina) Alda Meneses, Distribuidora: O2 Play
Classificação indicativa: LIVRE
Sinopse: Aninha, futura poeta e doceira Cora Coralina, é uma
menina feia, frágil, desajeitada e oprimida por praticamente todos que a
cercam. Ela encontra no jogo da amarelinha um meio de superar os próprios
limites e, na imaginação, uma fuga do meio opressivo em que vive. Sua infância,
marcada pela rejeição, é relembrada na vida adulta por sua ligação afetiva e
trágica com o prato azul- pombinho, último de uma coleção de noventa e duas
peças, pertencente à sua bisavó Antonia.
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