[News] Psicólogo alerta sobre as consequências de um ¨clima político pesado¨para a saúde mental: impacto pode ser grande
Muito se fala sobre 'medo' após as eleições 2018 no Brasil. Com
um clima de disputa polarizada e alguns 'rompimentos' em amizade e em
relacionamentos familiares por discussões políticas, o psicólogo Bruno César
Sousa, do Instituto Viver, de Salvador, aponta que o impacto de um cenário
'pesado' no País pode ser grande para a saúde mental dos brasileiros e, diz
ainda, que é preciso se cuidar para que as alterações de humor não sejam tão
bruscas e que discussões desnecessárias não façam parte da rotina.
"O clima político no Brasil desde 2013, pelo menos, vem
trazendo à tona uma polarização entre a população. E isso se reflete nos
relacionamentos familiares, conjugais, profissionais e nas amizades. Desta
forma, podemos dizer que o núcleo psicológico básico do indivíduo brasileiro se
encontra polarizado e em conflito. Os sintomas desse conflito são uma
manifestação mais frequente e intensa de ódio, medo, insegurança nos vínculos,
dificuldade em expressar opiniões livremente. E com uma característica
preocupante que é a cronicidade desses sentimentos. Eles vêm ocorrendo já
durante alguns anos em um nível moderado a intenso. Essa duração pode favorecer
o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, dependências de maneira geral e
depressão. Pois são sentimentos intensos ocorrendo dentro do grupo íntimo do
sujeito, deixando poucas opções de fuga ou alternativas de solução",
explica o psicólogo.
Para o especialista, o 'medo', que muitos relatam sentir com a
política, é um sentimento que precisa ter atenção e é necessário descobrir a
verdadeira causa. "O medo é um sentimento impactante na vida psicológica
de uma pessoa. E uma das principais maneiras de lidar com ele é entende-lo com
mais clareza. Investigar o que realmente causa esse medo? De que a pessoa tem
medo? O medo se alimenta da incompreensão, quando não sabemos com o que estamos
lidando, ele tende a crescer e dominar a vida. Ao compreendermos sua ação, nós
podemos planejar ações que nos deem ferramentas de ação efetiva dentro das
contingências", diz Bruno.
O psicólogo cita a 'insônia' como uma das consequências deste
medo pela situação política. "É aconselhável procurar ajuda de um
profissional, como um psicólogo ou psiquiatra, para que ocorra uma avaliação
adequada da intensidade e causa do problema. Em paralelo a isso podemos pensar
em uma higiene básica do sono, que consiste em tomar alguns cuidados como
evitar o consumo de notícias ligadas ao clima politico perto de dormir,
aumentar ou iniciar a pratica de exercícios físicos, e retomar os
relacionamentos íntimos".
Sobre a retomada dos relacionamentos perdidos por confrontos na
eleição, Bruno diz não ter 'receita' para isso, mas reafirma: "Sem dúvida
é importante resgatar os laços mais íntimos, pois eles são considerados
importantes fatores de proteção social e psicológica. E já temos diversas
pesquisas mostrando que os relacionamentos mais íntimos estão diretamente
ligados a qualidade de vida. No entanto é difícil definir uma receita de como
fazer isso. Um passo que deve existir é o respeito. Momentos de polarização
como o que vivemos no Brasil nos convidam a exercitar o respeito por formas de
ver e pensar o mundo que diferem das nossas. Esses momentos também servem para
que possamos perceber partes difíceis de olhar na nossa personalidade e nas
pessoas que nos são próximas. É preciso um tempo para acolher isso e construir
novas formas de relacionamento. Mais honestas provavelmente, e que podem por
isso ser de melhor qualidade também".
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