[News] Olivia Hime-Lançamento do CD ¨Espelho de Maria¨ que reúne canções de Dorival Caymmi, Edu Lobo e Francis Hime no Teatro Rival Petrobras
Em muitos discos ouvidos, uma
coisa incomodava Olivia Hime: o salto abrupto de atmosferas - eventualmente
conflitantes - de uma faixa para outra. “Queria fazer um disco em que a pessoa
não levasse sustos com a mudança de estilos musicais, um disco noturno”, propôs
em seu “Alta Madrugada”, de 1997, inspirada em álbuns consequentes, como “In
the wee small hours”, de Frank Sinatra de 1955. A ideia virou o estopim para
que a cantora e compositora criasse um novo formato de fluência musical: as
canções vêm agrupadas em suítes, conduzidas por envolventes arranjos, que
conferem unidade estética e ressignificam os temas.
Sua primeira experiência com o
conceito ocorreu em “Mar de algodão – as marinhas de Caymmi”, de 2002, dedicado
à obra de Dorival Caymmi. “Almamúsica” (2011) com composições de autores
diversos e uma suíte instrumental de temas ambientados no Rio, ganhou um
tratamento semelhante, “como se a música e a poética se abraçassem”, próximo ao
de “Sem mais adeus – uma homenagem a Vinicius” (2017).
Mas é em “Espelho de Maria” que
o formato atinge o ápice da depuração. Trata-se da incursão mais profunda no
universo criativo da cantora e compositora, e onde fica mais nítida sua faceta
musicista, embora ela não toque nenhum instrumento na gravação. Aluna, ainda
menina, do maestro Moacir Santos, ela estudou com a mestra de boa parte da MPB,
Vilma Graça, aprendeu violão com Roberto Menescal, e flauta durante seu
“exílio" nos Estados Unidos, onde também fez curso por correspondência na
célebre Berklee College of Music, de Boston. Embora o disco tenha fabulosos
arranjos de Francis Hime, Dori Caymmi, Paulo Aragão e Jaime Alem, é de Olivia a
concepção orgânica do trio de suítes que o integram. Dela também é o conceito
central do álbum. “Já estava na hora de entender de onde eu venho, como eu me
criei na música. Quis voltar à segunda
geração da bossa nova, que era a minha. Na época, Dori Caymmi me mostrou novas harmonias,
outras inversões de acordes; Edu Lobo me apresentou às ‘Bachianas’, de
Villa-Lobos. Francis, desde a primeira
música dele, foi um encantamento só", exemplifica. “Aliás, o que
com certeza mudou o rumo da minha vida foram a música, Francis, por tudo e
sempre, e a psicanálise”, sumariza.
“Há dois anos venho construindo
a forma do Espelho de Maria, dando
preferência às canções e tendo a sorte de ter Francis ao meu lado para
“traduzir” musicalmente os caminhos que eu apontava. Pra mim, é na canção que a
melodia , a harmonia e a poesia convivem com mais clareza e que penso poder dar
a minha contribuição”, enaltece. Por conta disso, o disco, dividido em três
suítes ou movimentos –“Canções sem fim” (com músicas de Dori Caymmi e
parceiros), “São bonitas as canções” (Edu Lobo e parceiros) e “Canções
apaixonadas” (Francis Hime e parceiros) – é um manifesto em favor de um gênero
que alguns consideram ameaçado de extinção.
“Canção sem fim”, de Dori Caymmi e Paulo Cesar
Pinheiro, é uma das composições do bloco inicial, com arranjos de Francis Hime
exceto “Violeiro”, com arranjo de Jaime Alem, que traz ainda outras parcerias da dupla
Caymmi/Pinheiro, “Música no ar” (“um canto me alenta/ enchendo a varanda”),
“Violeiro” (“quem não cantarola/ chora no caminho”), “Amazonas”, “Quebra mar”,
uma citação de “Na ribeira deste rio” (letra do poeta Fernando Pessoa) e outras
de Dori e Nelson Motta que aparecem na abertura instrumental, como “Saveiros”.
“Memórias de Marta Saré” (letra
do teatrólogo Gianfrancesco Guarnieri), de 1967, pontifica em “São bonitas as
canções”, a suíte dedicada a Edu Lobo, com arranjos de Paulo Aragão, integrante
do quarteto Maogani, que participa da gravação. A dramaticidade das imagens
opressoras da letra são vividas por Olivia, exacerbadas pela seguinte “Sobre
todas as coisas”, do parceiro Chico Buarque “ou será que o Deus que criou nosso
desejo é tão cruel, mostra os vales onde jorra o leite e o mel, e esses vales
são de Deus…" , da trilha de “O grande circo místico”. E mais uma
inédita “Ave Maria”, da trilha da peça
“Arena canta Zumbi”, onde Olivia vocaliza a melodia e intromissões instrumentais do refrão de
“Reza”, parceria com Ruy Guerra. Na densa suíte edulobiana também não faltam
alusões ao núcleo temático do disco, nas antípodas e igualmente belas “Canto
triste” e “Canção do amanhecer” (ambas, com letras de Vinicius de Moraes).
Na suíte de músicas de Francis
Hime, sob arranjos de Dori Caymmi exceto “Valsa Rancho” com arranjo de Francis,
além da “Canção apaixonada” (parceria com Olivia), que intitula o bloco, há
outros rasga-corações. Como as parcerias com o neo-acadêmico Geraldo Carneiro
“O amor perdido”, e com Chico Buarque, “Trocando em miúdos”, “Embarcação”
(“atravessada por uma linha de contraponto de cello”), “Atrás da porta” (“que
eu deixei crua, com voz guia”), além de “Valsa
Rancho”, que Olivia redimensiona para além da mera curiosidade da fusão
inusitada de dois gêneros musicais pouco compatíveis. Olivia é a co-autora com
Francis de dois outros temas inflamados, “Maré”, instrumental da trilha de um
filme de Miguel Farias Junior, em que Olivia pôs letra posteriormente e
“Vermelha”, “um baião que eu já havia gravado e sempre tive vontade de canta-lo
lento, mais para uma canção ”.
De volta ao mote do disco, há
ainda a eloquente “Uma canção perdida”, parceria dela e Francis: “O que foi feito
da tua canção/ que um dia já nos alegrou o coração/ se a melodia e o poema são/
o que nos faz irmã e irmão/ o que será de todos nós sem a canção?” O arremate
com a participação do autor, Dori Caymmi (“acho a voz dele a mais bonita”) tem
nova citação de “Canção sem fim”, esta no trecho que pontua o tema: “enquanto
nascer gente/ vai haver canção de amor”. Intitulada a partir de uma música que
pensou ser de Edu Lobo (“fiquei sabendo de sua inexistência, mas o CD já estava
batizado”, brinca), “Espelho de Maria” desvela uma Olivia - ela própria Maria,
mas sem trair-se pelo narciso reflexo – imprevista, à frente de um disco
arrebatador, “com muito instrumental, onde o canto entra como se fosse uma
surpresa”, deslinda. E adiciona ao ato prazeroso da excelência estética uma
espécie de missão em defesa da canção. “Ela não toca no rádio, mas a gente tem
obrigação de cantar, porque esta é a futura música clássica. Muitas dessas
canções serão eternas”. Ou já são.
Serviço
Teatro Rival Petrobras – Rua
Álvaro Alvim, 33/37 – Centro/Cinelândia – Rio de Janeiro. Data: 09 de Fevereiro
(sábado) Horário: 19h30. Abertura da casa: 18h. Ingressos: R$ 70,00 (Inteira),
R$ 50,00 (Promoção para os 100 primeiros pagantes). Venda antecipada pela
Eventim – http://bit.ly/TeatroRival_Ingressos2GIaEKp Bilheteria: Terça a Sexta das 13h às 21h |
Sábados e Feriados das 16h às 22h Censura: 18 anos. www.rivalpetrobras.com.br.
Informações: (21) 2240-9796. Capacidade: 350 pessoas. Metrô/VLT: Estação Cinelândia.
*Meia entrada: Estudante,
Idosos, Professores da Rede Pública, Funcionários da Petrobras, Clientes com
Cartão Petrobras e Assinantes O Globo
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