[News] Sessões extras-Meu quintal é maior do que o mundo com Cássia Kiss no Teatro SESI
Conhecedora da obra de Manoel de
Barros (1916-2014), a atriz Cássia Kis se considera uma excelente leitora do
poeta e escritor mato-grossense.Tem uma relação não só com a obra, mas com o
próprio, com quem passou anos se correspondendo e chegou a conviver proximamente,
tornando-se amiga. Tudo começou no início dos anos 1980, quando descobriu sua
poesia.
É parte da obra do autor que Cássia
Kis escolheu para marcar sua volta aos palcos depois de 10 anos, ao lado do
diretor Ulysses Cruz, parceiro de 40 anos e com quem divide, ainda, a
estruturação do roteiro. Para executar a música ao vivo em cena também está
Gilberto Rodrigues, responsável pela direção e criação musical. A peça Meu
Quintal é Maior do que o Mundo estreou em São Paulo e pretende circular por diversas
partes do País.
A temporada na Capital Paulista
inclui 14 apresentações, de 31 de janeiro a 24 de fevereiro no Teatro Sesi-SP,
com sessões às sextas e sábados, às 20 horas, e domingo, às 19 horas, sempre de
graça. A produção está a cargo de Gustavo Nunes, diretor da Turbilhão de Ideias
Entretenimento, que possui relação de anos de amizade com Cássia Kis e Ulysses
Cruz, o que motivou a união para criar este projeto. A Turbilhão de Ideias,
apesar de estar sediada no Rio de Janeiro, circula com seus espetáculos por
todos os Estados do país. Dentre suas produções, destacam-se Perfume de Mulher,
a mais recente, e Cássia Eller, o Musical.
Projeto pessoal, idealizado por
Cássia Kis e concebido a partir do livro Memórias Inventadas, não se trata de um
sarau ou declamação de poemas e sim uma encenação dramatúrgica. Não se
configura como um espetáculo na estrita concepção do termo, mas de uma peça de
teatro, por sua característica mais intimista. A relevância da montagem se dá
tanto pela ligação da atriz com Manoel de Barros como pela década longe do
teatro (sua última peça foi O Zoológico de Vidro, de 2009).
Sonho recorrente
Para realizar o antigo sonho da
atriz, que acalenta o desejo de criar uma versão para o palco da obra de Manoel
de Barros há quatro décadas - o parceiro constante Ulysses Cruz decidiu rever
estudos iniciais desenvolvidos por Cássia e Jayme Compri (que integrava o grupo
do diretor, Boi Voador, e o próprio Ulysses indicara), para a construção de
possíveis cenas. Sabendo da paixão da atriz pelo escritor e, testemunhando sua
determinação em finalmente dar corpo ao projeto, Ulysses aceitou encarar o
desafio.
"Quando Cássia retomou o
projeto da peça, história recorrente em sua vida, eu gelei. Ao perceber sua
determinação e o risco dela montar o trabalho com qualquer outra pessoa, eu -
que tenho um prazer absoluto em trabalhar com ela, sua qualidade como atriz é
superlativa - topei na hora".
A sacada de Ulysses ao ler o livro
Memórias Inventadas foi perceber que todos os textos continham uma historinha,
um enredo. "De cara, entendi que não dava para fazer o livro todo, pela
quantidade de textos e o risco da fragmentação em pequenas histórias, que
geraria dificuldade de compreensão. Fiquei, então, com a batata quente na mão
de escolher, entre tantos, os textos poéticos mais significativos",
comenta, ressaltando que "teatro tem de ser vibrante, gerar faísca".
Para o ponto de partida na
concepção da encenação, Ulysses recorreu à memória, lembrou dos tempos em que
dava aulas de teatro, quando usava o livro Improvisação para o Teatro, espécie
de manual, de Viola Spolin. Assim, com base em três conceitos contidos no livro
- onde se passa a ação, quem está na ação e o que estão fazendo - Ulysses
selecionou com Cássia os 18 textos. O trabalho incluiu a necessidade de ligar
um texto ao outro para ampliar a ideia de continuidade ("pois cada texto,
todos curtos, encerra em si o mundo").
"O bloco onde reúne textos com
as descrições dos cenários que Manoel de Barros faz de seu mundo. O segundo
bloco, quem, traz os textos que mostram quem é aquela pessoaque descreve
aqueles cenários. Finalmente, os textos do o que trazem os objetos de
inspiração do poeta. A peça tem em sua estruturada uma abertura, onde o público
entende quais são as fontes do poeta. O bloco um traz a chegada ao quintal,
simbolizada pelo tapete. O segundo bloco apresenta quem é aquela pessoa que
descreve aqueles cenários. São textos que falam do menino, do homem e do velho
Manoel de Barros", informa Ulysses Cruz.
O compromisso de Ulysses foi
construir uma peça que se comunicasse com a plateia de uma maneira fluida, daí
a divisão em blocos. O encenador também se colocou no lugar do público e
gostaria que ele sentisse "a alegria de ouvir textos tocantes,
supreendentes, lindos, felizes, angustiados, dramáticos, engraçados e
bem-humorados".
Sobre a encenação
Para construir a atmosfera sonora
da montagem, o criativo convidou o músico Gilberto Rodrigues (com quem já havia
trabalhado em Leão no Inverno). A presença da sonoridade do vibrafone foi o
único pedido ao músico. Para criar a luz, juntou-se à equipe o jovem Nicolas
Caratori, estreando como light designer. Para dar conta do trabalho físico da
atriz, a direção de movimento foi entregue a Cynthia Garcia, “pupila” de Ivaldo
Bertazzo.
"As demandas corporais
começaram a ficar pesadas, afinal a peça fala de um menino com 5 anos, um jovem de 15, um homem
de 40 e um velho de 85, num quintal, que é um tapete", fala Ulysses,
explicando ter percebido que precisava de um diretor de movimento.
Por ser uma prosa poética, Ulysses
Cruz finaliza afirmando que a peça vai na contramão do que tem em cartaz hoje.
Sobre Manoel de Barros
Manoel Wenceslau Leite de Barros
nasceu em Cuiabá-MT, em 19 de dezembro de 1916 e mudou-se para Corumbá-MS, onde
se fixou em uma fazenda no Pantanal. Estudou num colégio interno em Campo
Grande e depois no Rio de Janeiro. Anos depois, passou um tempo na Bolívia e no
Peru e, em e seguida, morou por um ano em Nova York, onde estudou sobre Cinema
e Artes Plásticas no Museu de Arte Moderna.
É autor de 18 livros de poesia,
além de livros infantis e relatos autobiográficos. Recebeu duas vezes o Prêmio
Jabuti, duas vezes o Prêmio Nestlé e também foi premiado pela ABL, pela
Biblioteca Nacional e pela APCA. Manoel de Barros conta com uma consistente
fortuna crítica, mas seus comentários sobre a própria obra são considerados um
dos melhores e foram forcecidos tanto em entrevistas quanto em versos que
escreveu, “desexplicando” o próprio trabalho literário.
Segundo ele, “ao poeta faz bem
desexplicar”, ou melhor, o entendimento de sua poesia não passa pelo crivo
cerebral, pois “não é por fazimentos cerebrais que se chega ao milagre estético
senão que por instinto linguístico”. E, num “despoemamento”, sintetiza sua concepção
para o entendimento poético. Faleceu em novembro de 2014, pouco antes de
completar 98 anos.
Ficha Técnica
Obra: Manoel de Barros. Elenco:
Cássia Kis. Concepção e direção geral: Ulysses Cruz. Adaptação do texto: Cássia
Kis e Ulysses Cruz. Direção de Produção: Gustavo Nunes. Cenário e figurinos:
Ulysses Cruz. Direção e criação musical: Gilberto Rodrigues. Execução musical:
Gilberto Rodrigues. Fotografia e Design: Gal Oppido. Design do convite: Marcio
Oliveira – Graphix. Assistente de Fotografia e Design: Marina Engelhardt.
Design de luz: Nicolas Caratori. Assistente de iluminação: Vitória Pamplona.
Direção de Movimento: Cynthia Garcia. Costureira: Judite de Lima. Adereços:
Luis Rossi. Financeiro: Helber Santa Rita. Mídias sociais: Julliana Della Costa
e Jessica Veiga. Assessoria de imprensa: Arteplural. Produção executiva Rio de
Janeiro: Mariana Chew. Produção executiva São Paulo: Arte & Atitude:
Monique Mendonça, Isabel Gomez, Renata Bento, Andreia Besteiro. Produção geral:
Turbilhão de Ideias Entretenimento * Realização: SESI.
Serviço
Temporada Meu Quintal é Maior do
Que o Mundo. De 31 de janeiro a 24 de fevereiro, sextas e sábados, às 20 horas,
e domingos, às 19 horas. Teatro do Sesi-SP. Endereço: Av. Paulista, 1313. Em
frente à estação Trianon-Masp do Metrô. Duração: 70 minutos. Capacidade: 456
lugares. Classificação indicativa: livre. Gênero: prosa poética. Informações e
agendamentos: (11) 3146-7439.Grátis. Reservas antecipadas pelo site
www.centroculturalfiesp.com.br. Ingressos remanescentes serão distribuídos no
dia da apresentação, 30 minutos antes do início da sessão.
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