[Resenha] Coragem

Sinopse:
"Rose McGowan nasceu em um culto e o trocou por outro, mais visível: Hollywood. Rose McGowan se tornou uma das atrizes mais desejadas de Hollywood da noite para o dia quando foi “descoberta” nas ruas de Los Angeles. O estrelato logo se tornou um pesadelo de exposição constante e sexualização. Todos os detalhes de sua vida pessoal se tornaram públicos, e as realidades de uma indústria inerentemente machista emergiam a cada roteiro, papel, aparição pública e capa de revista. Hollywood esperava que Rose ficasse quieta e cooperasse. Em vez disso, ela se rebelou e impôs sua verdadeira identidade e voz. Ela reemergiu sem roteiros nem desculpas, corajosa, controversa e sempre verdadeira. Liderando o movimento de denúncias de assédio sexual na indústria de entretenimento ao expor os crimes de Harvey Weinstein, Rose é hoje um dos rostos do movimento feminista e não hesita ao disparar verdades inconvenientes e exigir mudanças. CORAGEM é seu livro de memórias em forma de manifesto — um relato sem censura nem piedade da ascensão de um ícone millennial, uma ativista sem medo e uma força de mudança imparável determinada a expor a verdade sobre a indústria do entretenimento, trazer à luz uma indústria multibilionária construída sobre a misoginia sistêmica e empoderar pessoas ao redor do mundo a acordarem e terem CORAGEM."

O que eu achei?
Senta que lá vem textão.

Se você for um(a) leitor(a) voraz, certamente já leu algum livro que te deixou com a sensação de ter levado um soco na cara durante a leitura e depois de ter acabado de lê-lo. Esse foi um deles para mim. Vou contar o porquê.

Rose começa contando sua trajetória desde o início: ela nasceu em um estábulo dentro de uma seita chamada Meninos de Deus na cidade de Certaldo,província da Toscana, na Itália. O estábulo ficava dentro da propriedade do duque de Zoagli que doara suas terras à seita depois de se tornar um membro dela. Rose foi batizada com o nome da irmã do duque, Rosa Arianna. A menina cresceu em um ambiente opressor, onde se você não deixasse Deus entrar em seu coração, recebia tapas no rosto e no corpo inteiro e a prostituição infantil e o sexo entre crianças e os adultos eram estimulados.O líder da seita, Moses David, chegava ao ponto de mandar as mulheres para a rua para seduzir homens e recrutar mais membros. E ela teria vivido o resto da vida lá, não tivesse sido a decisão do pai dela de sair. O problema é que ninguém podia simplesmente sair de lá. Quando a seita descobria que algum membro queria sair, eles poderiam desaparecer ou sua família poder ser punida para servir de exemplo aos outros.Uma certa noite, ele falou para a esposa e os filhos que havia um homem os procurando com um martelo. Havia um carro esperando-os para levarem para fora da comunidade (essa parte da história não foi muito bem explicada, só dá a entender que eles conseguiram fugir e foram para Munano, um vilarejo da Toscana. Rose passou a frequentar a escola italiana mas era excluída por não saber falar a língua. A infância dela não foi exatamente feliz mas pelo menos eles tinham conseguido escapar daquele lugar bizarro.
Quando ela foi para os EUA de avião, se deparou com uma cultura completamente diferente à qual estava acostumada:a culinárias, as paisagens, as pessoas, a língua, o costume, tudo. Teve que se acostumar à sua nova realidade. Há um trecho em que Rose diz que esse papo de que o individualismo é glorificado nos EUA é mentira. Pelo contrário: eles tentarão enfiar a verdade deles goela abaixo.Na escola, só ensinam a versão deles dos fatos e que todos devem agir do mesmo jeito.
¨Por quê devemos continuar a nos sentir superiores só porque outros lugares são piores? Não vejo sentido. Podemos ser melhores pensando diferente.Pensar que nossas diferenças devem ser eliminadas é o jeito ERRADO de abordar as coisas.Pensar que devemos ser padronizados para o conforto de todo mundo,porque Deus proibiu o desconforto, é o jeito ERRADO também. Que se foda esse modo de pensar.Não se curve para fazer os outros se sentirem mais altos.¨

Depois de um tempo, eles se mudaram para o Colorado e foram morar com o pai. A mãe de Rose e dos outros tinha ficado na Itália porque fora abandonada pelo marido e teve que arranjar um jeito de escapar da Meninos de Deus sozinha!Mas ela conseguiu ajuda financeira de parentes para ir para os EUA e se mudou para o Oregon. Rose e os cinco irmãos e irmãs foram morar com ela. Eles sobreviviam como podiam: com cupons de supermercado enquanto o pai vivia com a nova esposa.Pouco tempo depois, a mãe dela começou a se relacionar com um homem asqueroso chamado Lawrence, que molestava a filha e forçava Rose a tomar banho junto com ela para que pudesse observá-las peladas.Demorou um bom tempo até que ela entendesse a roubada em que havia se metido, até que conseguiu terminar o relacionamento de forma definitiva, após várias tentativas. Relacionamentos abusivos são coisa séria.
Pouco tempo depois Rose foi morar de volta com o pai e teve que se mudar mais uma vez: do Oregon para Evergreen, no Colorado e passou a frequentar a Junior High.Foi nessa época que ela teve seu primeiro contato com as drogas (mas ela nunca foi viciada) e não demorou muito até fugir de casa aos 13 anos. Morou na rua, fez amizade com deslocados, virou nômade, indo de cidade em cidade, até se cansar de passar necessidade e ligar para sua tia Rory, que mandou uma passagem de volta para Seattle para ela. Rose morou com a tia, o marido dela e o filho recém-nascido durante um mês, até seu pai se mudar para a cidade. Ela sabia que ele era sinônimo de problema porque tinha abandonado a ex-madrasta e as duas meias-irmãs. Se mudaram para um apartamento e a situação era tensa:vivia batendo na filha e também a agredia verbalmente. Um belo dia, Rose organizou uma festa na casa enquanto o pai viajava e chamou desconhecidos. Uma vizinha acabou denunciando a situação-tinha bebida alcoólica para menores-e ela teve que prestar serviço comunitário.
Rose teve alguns bicos, desde trabalhar em uma funerária até um cinema. Foi aí que ela recebeu um comunicado de seu pai: ela estava devendo 300 dólares do aluguel-sim, ela a fazia dividir o aluguel quando ela ainda era uma adolescente que mal havia se inserido no mercado de trabalho- e para quitar a dívida, ela arranjou uma vaga como figurante no filme A guerra dos donos do amanhã, que pagava 35 dólares por dia.
No set de filmagens havia um homem na casa dos 50 anos, bem-humorado, que a fez lembrar de seu pai mais novo.Um dia, ele convidou Rose para caminhar no centro da cidade com ele e com alguns dos outros figurantes. Marcaram de se encontrar na recepção do hotel e ela ficou esperando e quando falou com a recepção, que ligou para ele, a mandou subir. Para sua surpresa, só havia ela lá.De repente, a porta se abriu, ele a agarrou e a puxou para perto,beijou-a e abaixou a camisa para tocar nos seios dela. Rose não contou a ninguém.
¨Analisando agora, aquele cara era só mais um pedófilo da indústria,nada diferente de um maníaco da rua, mas eu ainda não sabia. Há muitos como ele. É um segredo bem conhecido na velha Hollywood. Quando acusações são feitas (raramente), o estúdio sempre acerta as coisas com as vítimas e usa seus relações-públicas como para desconsiderar as acusações.Normalmente, onde há fumaça, há um incêndio, ainda mais no que diz respeito à Hollywood. Enfiei a experiência em um dos meus muitos compartimentos extras e voltei ao trabalho.Não me ocorreu contar a alguém.Durante anos pensei no incidente como uma experiência sexual e não como uma agressão.Quando me tornei adulta, percebi que tinha sido uma de fato.
A verdade é que eu não deveria ter me envergonhado, e, no caso de todas as vítimas em situações parecidas, elas não devem se envergonhar. Quem deveria se envergonhar é o doente que nos tocou de modo inadequado.Quem deveria se envergonhar é o assediador, não a vítima, não o sobrevivente. É trágico que tantas de nós tenhamos que sobreviver a esse tipo de merda e sinto muito se o mesmo aconteceu com você.¨

Rose conheceu um rapaz chamado Josua Miller,filho de uma empresária que enxergou o potencial dela e a enviou para Hollywood em um trem. 
Ela passou por tantas coisas que nem vale a pena descrevê-las uma a uma: leia o livro para saber. 
Digo com absoluta certeza de que foi uma das obras mais importantes da minha vida. Ela conta tudo, desde o momento em que conheceu o Monstro (como ela se refere ao Harvey Weinstein) e de quando ele a estuprou,a seu relacionamento com Marilyn Manson e sua participação em Charmed. Foi Ashton Kutcher quem a fez começar a usar o Twitter como ferramenta para fazer com que sua voz seja ouvida. Rose McGowan foi responsável por fundar o movimento de denúncias não apenas contra Harvey Weinstein mas contra vários atores e diretores. Ela criou o movimento #RoseArmy (Exército de Rose) para aqueles que se identificam como livres-pensadores, que defendem a liberdade, o pensamento crítico e o livre-pensamento.
Ela pensou: por quê deveria defender aqueles acéfalos com seu silêncio?Nunca a protegeram e nem legiões de outras mulheres.Nunca fizeram nada para proteger a sensatez da sociedade e não se movimentaram para levar a sociedade adiante. 
Quando um crítico de cinema da revista Variety chamado Owen Gleiberman publicou um texto horrível dizendo que Renée Zellwegger na opinião (nada relevante) dele, estava diferente, queria saber se ela já tinha feito plástica e perguntando se ela era a mesma atriz, já que ¨não se parece mais consigo mesma.¨
Rose escreveu uma carta pública para Owen dando um toque nele. Um trecho da carta:
¨Não me importa se vocês tem medo. Tenham coragem. Façam o que é certo, para variar.Eu odeio o medo, mas ele é a base sobre a qual está erguida essa cidade.O medo me foi dado por homens e mulheres que aqui vivem e trabalham, assim como acredito que tenha acontecido com a sra.Zellwegger. Medo de ser difamada, medo de ser considerada difícil, medo de...medo de... medo.
Bem, escute só, Owen: não tenho medo nem de você nem de ninguém. Essa é uma cidade pequena, muito pequena, míope, que se acha o máximo e que ama se amar. Estou aqui para pedir a vocês que soltem o espelho e olhem para a sociedade, porque quer saibam disso ou não, também fazem parte dela e, quando se fecham no silêncio padrão, vocês ferem todas nós.Pense bem no que você está fazendo, analise sua responsabilidade e culpa. Quem estão ajudando e por quê?
Owen, a última frase do seu texto:¨espero que seja um filme sobre uma pessoa gloriosamente comum e não sobre alguém que não quer mais ser quem é¨ é emblemática para cacete. 
Sabe de uma coisa? Está na hora de parar de foder com a cabeça das mulheres. 
Sabe quais são meus interesses, Owen?
Meus interesses vão além de acabar com um desconhecido. Meu interesse é destruir o status quo. Meu interesse como cidadã é PARAR com a lavagem cerebral que Hollywood e a imprensa fazem impunemente há tanto tempo.A lavagem cerebral com a qual você tem concordado e apoiado.¨

Outro caos interessante em que Rose fez sua voz ser ouvida foi o pôster de X-Men: Apocalipse que mostrava o vilão interpretado por Oscar Isaac segurando a Mística (Jennifer Lawrence) pelo pescoço. A chamada dizia: Apenas os fortes sobreviverão.
Imagine se fosse um homem negro sendo estrangulado por um branco ou um gay sendo estrangulado por um hétero? É certo que haveria muita controvérsia e só depois de muitas reclamações, a FOX emitiu um pedido de desculpas.

As principais mensagens do livro são a importância da luta contra o patriarcado, as ideias de que devemos nos juntar e não dar ouvidos para o estímulo da competição entre as mulheres, saber reconhecer seu valor, apreciar sua força, especialmente das sobreviventes de assédio e machismo. Tente sempre ser sua melhor versão, pratique sua curiosidade e seja corajosa!

E se por acaso você tiver a oportunidade de ler, leia porque é daquelas obras que deveriam ser lidas por todos.

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