[Resenha] A Mão Esquerda da Escuridão
Sinopse: O romance apresenta a trajetória de Genly Ai, um emissário enviado de uma terra distante, com a missão de convencer os líderes desse planeta a se unirem a uma grande comunidade universal. Mas há muitas diferenças culturais entre o enviado e a população de Inverno, como o planeta foi apelidado. São outros costumes, outras lendas e percepções as quais ele deve se adaptar. Além destas questões culturais, o emissário se vê em uma terra única, na qual ninguém possui gênero definido – a não ser na hora do acasalamento. Lá, qualquer um pode ter filhos, ser pai ou mãe, exercer as mesmas tarefas e a própria relevância disso é pequena, o que torna os costumes locais ainda mais complexos, colocando em xeque as crenças do enviado inúmeras vezes. A obra é um dos mais famosos romances que lidam com as questões de gêneros e os efeitos do sexo e sobre a cultura e a sociedade.
O que achei? O livro escrito por Ursula K. Le Guin e lançado pela primeira vez em 1969 e veio ao meu conhecimento no ano passado como recomendação em um dos vários podcasts que tenho costume de escutar semanalmente. Finalmente tive a oportunidade de tê-lo no mesmo ano quando fui à CCXP, no estande da Aleph. Sempre fui fã de ficção científica e esse livro me chamou a atenção pela sua história única e original.
A autora intercala a história entre o ponto de vista de Genly Ai, Estraven – primeiro-ministro de Karhide que foi posteriormente exilado por motivos políticos – e capítulos que contam a história e mitologia do planeta Inverno.
O livro mostra o choque cultural de Genly Ai em relação a uma sociedade atrasada tecnologicamente em relação à Terra, mas avançada em relação ao fato de não se prender à papéis definidos à identidade de gênero, já que seus habitantes são andrógenos e podem assumir o gênero que quiserem durante o kemmer, onde sua sexualidade é despertada e desenvolvida, ao mesmo tempo em que a sociedade getheniana o vê como uma aberração pelo fato de Genly ter um sexo biológico e identidade de gênero definidos, o que dificulta a comunicação entre eles.
Genly, por não entender como os costumes gethenianos funcionam, chega de início a apresentar um comportamento machista ao ver o aspecto feminino dessa sociedade como fraqueza.
O livro também mostra conflitos políticos nebulosos entre os diferentes povos de Inverno e a relação diplomática entre Genly e Estraven é o centro da política de Karhide. Essa relação entre Genly e Estraven evolui ao longo do livro, se transformando em amizade e posteriormente em algo a mais, o que faz com que Genly reveja seus preconceitos.
A Mão Esquerda da Escuridão tem um certo aspecto de solidão, retratado nas descrições do clima e paisagens geladas do planeta, aspecto esse que uniu Genly e Estraven, por ambos não fazerem parte daquela sociedade, seja por motivos de diferenças culturais no caso de Genly, seja por causa do exílio no caso de Estraven.
O livro é sobre relações humanas e políticas e difere de outros livros do gênero por não se focar em explicações tecnológicas de um futuro ou sociedade distantes. A leitura dele definitivamente não é fácil, mas não é enfadonha. É um livro que te faz pensar sobre a sociedade e o cenário em que vivemos atualmente em relação à sexualidade, costumes e relações humanas.
Escrito por Michelle Araújo Silva
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