[Resenha] Sobre Garotos Que Beijam Garotos
Sinopse: Quem leu O Pequeno Príncipe, o clássico do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, deve lembrar a lição da raposa: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” Enzo, o jovem protagonista deste romance, é o oposto dessa máxima. Ele não gosta de se apegar, de relacionamentos fixos, duradouros, monótonos. E só se apaixona quando tem a certeza de que não será correspondido. Afinal, como dirá o próprio autor em seu blog, isso o poupa de “se tornar responsável pelos sentimentos de alguém”. Enzo só não contava com o aparecimento de Ian, o ficante (hétero) de uma amiga, com quem viverá uma espécie de aventura ou experiência amorosa cujas consequências serão avassaladoras. A narrativa de Enrique Coimbra nos conduz pelo acidentado e movediço território do amadurecimento. As descobertas da juventude, da sexualidade, das relações interpessoais, do amor e outros afetos mais ou menos complexos são temas tratados com notável habilidade. Não é difícil identificar-se (ou desidentificar-se) com as peripécias dos personagens centrais do livro, independentemente de nossa orientação sexual. Mais que um romance queer, Sobre garotos que beijam garotos revela-se um livro sobre uma geração, uma época, com sua própria ética, suas dores, suas delícias e sua trilha sonora. Ecio Salles Cofundador da FLUPP
O que eu achei?
Na minha necessidade de ler algo diferente, eu decidi apostar em um pequeno romance LGBT nacional chamado “Sobre Garotos Que Beijam Garotos”, de Enrique Coimbra. E eu não poderia ter escolhi melhor título.
Apesar de se uma história curtinha, de poucos personagens, a intensidade e profundidade emocional dessa história são poderosíssimos.
A história nos apresenta a um jovem de 21 anos que, em expressão mais simplificada, “pega mas não se apega” - e conta todas as suas aventuras românticas/sexuais em um blog. Mas sua vida se enrola quando o namorado hétero de uma amiga passa a se interessar por ele. Daí em diante vemos como Enzo – nosso protagonista desapegado – se enrola numa tumultuada enxurrada de emoções conflitantes. Ele precisa aprender a lidar com seus sentimentos, e se preocupar mais com o dos outros; aprender a entender comportamentos tóxicos e coisas do tipo.
A escrita é narrada em primeira pessoa, e de forma extremamente direta, simples, mas cheia de uma leveza poética e melancólica que nos leva do início ao fim sem nem pausa para piscar direito.
A história tem altos e baixos, e momentos quentes, bem sensuais, mas não explícitos. Há uma inconstância e uma sensação de “não-pertencer” muito comum a ideia de juventude, além de um diálogo extremamente gostoso de acompanhar entre narrador e leitor. A ambientação da história, que se passa no Rio de Janeiro, dá um charme ainda maior, e vemos como essa história de impossível-amor se desenrola para se enrolar ainda mais.
Nesse meio tempo, enquanto nosso protagonista tenta entender – ou entende, mas não consegue ou não quer largar mão dessa “conquista” -, ele passa a analisar mais seu comportamento e como suas atitudes são capazes de afetar a vida dos homens que passam por ele, e pouco a pouco, vai enxergando o quão perigoso e tóxico é esse relacionamento com esse amigo hétero, onde nada é real, tudo é escondido, e mentiras e desapegos são palavras de ordem.
Mesmo sendo um livro curto – pouco menos de 100 páginas -, a história é capaz de ganhar o leitor já nas primeiras linhas. O enredo é objetivo, as personagens são bem construídos, e tudo – absolutamente tudo – no livro foi trabalhado na medida certa para construir e refletir um momento de extrema importância na vida de um jovem adulto gay que passa por uma história desse tipo – que é mais comum do que podemos imaginar.
Com certeza é um livro cinco estrelas que já se tornou um dos meus favoritos da vida.
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