[Crítica] Família Submersa
Sinopse:
É verão em uma Buenos Aires vazia e abafada. O mundo de Marcela estremece quando sua irmã morre e tudo se torna distante e desconhecido. Enquanto vive o luto, ela terá que se desfazer dos pertences e do apartamento da irmã. Disposto a ajudar, Nacho, um jovem amigo de sua filha, entra em cena. A presença do rapaz dá lugar a viagens e aventuras compartilhadas. Durante esses dias confusos, as pessoas e as conversas de outra época se interligarão, trazendo para Marcela alguns auto-questionamentos, à medida que a iminência da vida cotidiana entra em ação.
O que eu achei?
Iniciando sua carreira ao atuar em A Menina Santa (2004) de Lucrecia Martel, María Alche deixa a frente das câmeras e realiza Família Submersa, sua estréia na direção de longas-metragens. Através de um filme espaçado que confronta insistentemente a dualidade existente entre realidade e fantasia, a diretora retrata os descontentamentos mais profundos de uma mãe burguesa sufocada pelas próprias relações familiares.
Em seu plano inicial, observamos a protagonista Marcela (Mercedes Morán em uma atuação cirúrgica) calmamente abrindo as grossas cortinas de um apartamento e deixando com que a luz revele o seu interior. A morte de sua irmã Rina, dona do apartamento, funciona como gatilho para a personagem reavaliar o seu cotidiano com a própria família. A narrativa, assim como ilustra esse início, não se apressa em “descortinar” cada um dos membros da família da protagonista, revelando-os — desde seu marido relapso até os seus três filhos que passam por etapas distintas do amadurecimento.
Uma das coisas que mais se destaca na obra é, sem sombra de dúvidas, a maneira com que Alche dirige seu elenco. Empregando todas suas experiências nas variadas obram em que participou, a diretora constrói uma narrativa sem grandes acontecimentos ou twists, mas, sim, pautada em diálogos e pequenos gestos — ambos reforçados pelas suas escolhas estéticas. Importantes características dos personagens são reveladas em ações breves, mas que ajudam o espectador a construir uma imagem mais nítida deles. Em um momento, por exemplo, Marcela passa mal e vomita. Contudo, antes que alguém possa ajudá-la, a mulher afasta o próprio cabelo do rosto e o segura para trás — reafirmando sua necessidade de ser independente em qualquer situação.
O ponto fraco da obra reside a meu ver nas reminiscências traumáticas do passado que invadem cada vez mais a realidade da protagonista. Por mais que, durante a sequência final, o roteiro tente dar um significado a essas sobreposições de realidades vistas por Marcela, os momentos onde elas ocorrem parecem incomodamente desagregados do resto do filme — por mais que sejam neles que habitem as escolhas mais corajosas da direção.
Família Submersa não é um filme que se preocupa em seguir convenções narrativas ou que respeite estritamente a causalidade de seus personagens, mas constrói de maneira bastante atraente a figura da protagonista e dos familiares que a rodeiam. Com merecidos destaques para a atuação de seu elenco e a maneira delicada com que Alche conduz sua direção.
Trailer:
É verão em uma Buenos Aires vazia e abafada. O mundo de Marcela estremece quando sua irmã morre e tudo se torna distante e desconhecido. Enquanto vive o luto, ela terá que se desfazer dos pertences e do apartamento da irmã. Disposto a ajudar, Nacho, um jovem amigo de sua filha, entra em cena. A presença do rapaz dá lugar a viagens e aventuras compartilhadas. Durante esses dias confusos, as pessoas e as conversas de outra época se interligarão, trazendo para Marcela alguns auto-questionamentos, à medida que a iminência da vida cotidiana entra em ação.
O que eu achei?
Iniciando sua carreira ao atuar em A Menina Santa (2004) de Lucrecia Martel, María Alche deixa a frente das câmeras e realiza Família Submersa, sua estréia na direção de longas-metragens. Através de um filme espaçado que confronta insistentemente a dualidade existente entre realidade e fantasia, a diretora retrata os descontentamentos mais profundos de uma mãe burguesa sufocada pelas próprias relações familiares.
Em seu plano inicial, observamos a protagonista Marcela (Mercedes Morán em uma atuação cirúrgica) calmamente abrindo as grossas cortinas de um apartamento e deixando com que a luz revele o seu interior. A morte de sua irmã Rina, dona do apartamento, funciona como gatilho para a personagem reavaliar o seu cotidiano com a própria família. A narrativa, assim como ilustra esse início, não se apressa em “descortinar” cada um dos membros da família da protagonista, revelando-os — desde seu marido relapso até os seus três filhos que passam por etapas distintas do amadurecimento.
Uma das coisas que mais se destaca na obra é, sem sombra de dúvidas, a maneira com que Alche dirige seu elenco. Empregando todas suas experiências nas variadas obram em que participou, a diretora constrói uma narrativa sem grandes acontecimentos ou twists, mas, sim, pautada em diálogos e pequenos gestos — ambos reforçados pelas suas escolhas estéticas. Importantes características dos personagens são reveladas em ações breves, mas que ajudam o espectador a construir uma imagem mais nítida deles. Em um momento, por exemplo, Marcela passa mal e vomita. Contudo, antes que alguém possa ajudá-la, a mulher afasta o próprio cabelo do rosto e o segura para trás — reafirmando sua necessidade de ser independente em qualquer situação.
O ponto fraco da obra reside a meu ver nas reminiscências traumáticas do passado que invadem cada vez mais a realidade da protagonista. Por mais que, durante a sequência final, o roteiro tente dar um significado a essas sobreposições de realidades vistas por Marcela, os momentos onde elas ocorrem parecem incomodamente desagregados do resto do filme — por mais que sejam neles que habitem as escolhas mais corajosas da direção.
Família Submersa não é um filme que se preocupa em seguir convenções narrativas ou que respeite estritamente a causalidade de seus personagens, mas constrói de maneira bastante atraente a figura da protagonista e dos familiares que a rodeiam. Com merecidos destaques para a atuação de seu elenco e a maneira delicada com que Alche conduz sua direção.
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