[Resenha] Você Nasceu Para Isso
Sinopse: Sam Hurley, professor, e sua esposa Merry, cenógrafa, trocam os confortos de Nova York por um estilo de vida completamente diferente em uma casinha isolada na Suécia. Apesar do quadro idílico que o casal com um bebê recém-nascido em paisagens de contos de fada representa, problemas com raízes muito profundas ameaçam o relacionamento. Sam, que nunca contou à esposa que na verdade foi demitido da universidade, também mente sobre seu dia a dia na nova cidade. Merry, por sua vez, sempre escuta do marido que nasceu para ser dona de casa, mas não sabe o que fazer com o ódio que alimenta por todas as tarefas cotidianas: a jardinagem sem-fim, a arrumação da casa, o preparo de refeições para a família e os cuidados com um bebê que por ora só parece dar trabalho.
O instável equilíbrio da família se perde por completo com a visita da melhor amiga de Merry, a glamourosa Frank. Ela conhece Merry muito bem, conhece sua história, e agora, com a proximidade, é capaz de ver quem Sam realmente é. Mas Frank tem os próprios segredos, e, à medida que sua narrativa se junta à história do casal, fica claro que ela sofre pelos próprios pecados e talvez não seja capaz – ou não queira – salvar ninguém.
Você nasceu para isso retrata a escuridão que há no cerne dos relacionamentos mais íntimos. Sem heróis e permeada por uma teia de segredos, obsessão e inveja, é um relato violento de vidas que quase nunca são o que parecem e das partes de nós que não somos capazes de admitir.
O que eu achei?
Recentemente a Intrínseca lançou o
thriller psicológico “Você Nasceu Para Isso”, de Michelle
Sacks. E em um de seus eventos, a editora nos presenteou com uma
cópia desse livro, que é assustadoramente incrível. Sam e Merry
são casados e vivem em uma casa de campo na Suécia, com seu filho
Connor, e aparentemente são uma família e pessoas perfeitas, em
todos os sentidos. Mas com a chegada de Frank, amiga de infância de
Merry, as coisas começam a se mostrar muito mais complexas do que
pareciam a primeira vista.
Nesse livro, a história é toda
baseada em jogos de aparências, brincando com a nossa percepção do
que é real e do que é mentira – ou apenas “não real o
bastante”. O livro é narrado pelo ponto de vista das três
personagens, cada uma com a sua voz, sua história e seu ponto de
vista.
No início, vemos a vida do casal com o
filho, aparentemente pacata e feliz. Mas pequenos detalhes vão nos
mostrando que por trás da fachada de família perfeita, escondem-se
segredos assustadores. Com a chegada de Frank, passamos a ter um
ponto de vista externo daquela casa e do casal, e descobrimos muito
mais sobre o que se esconde naquela casa.
O interessante na escrita desse livro é
o fato dela brincar muito com a nossa percepção, e nos levar a
tirar conclusões de maneira muito rápida. A escrita, fluída e
simples, quase como uma conversa, nos guia suavemente pela mente de
cada uma das personagens, e aos poucos vão desfiando o passado e o
presente, pouco a pouco. Mas ainda assim, nos surpreendemos a cada
virada de página.
Como já disse, é uma história sobre
aparências, e sendo assim, confiar cegamente no que nos é contado é
extremamente perigoso. A todo instante, tudo aquilo que acreditamos
ser verdade é desmentido, e outra – possível – verdade surge.
Nada parece ser concreto, ainda que seja crível. Nada parece ser
real, ainda que haja provas.
As personagens foram bem construídas,
apesar de em alguns momentos a escrita não parecer saber dar
características muito distintas para cada um. O peso de cada esta
nas suas ações, nos seus segredos e no passado que tentam esconder,
e que aos poucos vão sendo revelados. Suas atitudes nos faz
questionar a todo o instante se aquele indivíduo é realmente “bom”
como a história nos propõe que ele – talvez – seja. O casamento
é realmente feliz? Sam é realmente um bom marido? Frank é uma
amiga de verdade?
O livro aborda questões muito pesadas
sobre maternidade, e consegue ser extremamente chocante em alguns
momentos. Merry, mão de Connor, é protagonista de momentos muito
angustiantes, mas realistas e honestos. É impossível não se sentir
incomodado com algumas passagens dela, e mais ainda com o peso que
isso tem na vida real.
No geral, o livro é muito bem
construído, com uma narrativa viciante e hipnotizante. Sabe muito
bem aproveitar do isolamento das personagens em um local novo e
costurar a história de forma a utilizar não somente esse fato, mas
também todos os traumas e lembranças do passado, para criar uma
atmosfera pesada e cheia de suspense.
Às vezes não da para acreditar em
ninguém.
Nas outras, não da para saber em quem
acreditar
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