[Crítica] Brightburn: Filho das Trevas

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Sinopse:
Quando uma criança alienígena cai no terreno de um casal da parte rural dos Estados Unidos, eles decidem criar o menino como seu filho. Porém, ao começar a descobrir seus poderes, ao invés de se tornar um herói para a humanidade, ele passa a aterrorizar a pequena cidade onde vive, se tornando uma força obscura na Terra.

O que eu achei?
Tenho que iniciar essa crítica confessando: esperei muito ansiosamente por ‘Brightburn’. Cheguei a espalhar pela minha roda de amigos que esse poderia ser, quiçá, o filme do ano. Todavia, a essa altura do campeonato como todos já sabem (ou deveriam saber!), incluindo eu mesmo, a expectativa é a causa recorrente da ruína de todo cinéfilo; e, assim como grande parte do desenvolvimento narrativo dessa obra, ela acontece por acaso e sem nenhuma explicação.

O universo parecia querer alertar a todos do que nos aguardava e, por conta disso, ‘Brightburn’ sofreu uma curiosa maldição ocasionada por seu péssimo timing — nem estou me referindo ao roteiro nesse momento, mas discorrerei sobre ele mais a frente. No mesmo dia em que seria anunciado na San Diego Comic-Com (uma das maiores convenções de entretenimento do planeta) durante um painel exclusivo, um perfil da extrema-direita norte-americana expôs polêmicas declarações feitas por James Gunn, o membro mais renomado envolvido na produção, em sua conta do twitter. A internet ficou alvoroçada (não me excluindo, infelizmente) e uma turba exigiu a cabeça de Gunn. Por conta disso, ele foi demitido pela Disney de sua posição como diretor em ‘Guardiões da Galáxia 3’ e, ainda em decorrência do climão que se instaurou, teve o painel de ‘Brightburn’ cancelado do evento.

O tempo passou, a confusão envolvendo James Gunn foi esclarecida (?) e ele teve seu cargo restituído como diretor dos heróis espaciais da Marvel. Todavia, a publicidade de ‘Brightburn’ já havia sofrido danos irreversíveis. Passando despercebido pelo grande público, um pequeno trailer foi lançado. Um trailer que fez palpitar mais rapidamente o coração deste que vos escreve. A logline parte da instigante pergunta: e se o super-homem fosse do mal? E, o mais interessante: como teria sido sua infância e pré-adolescência? O vídeo consegue vender bem (ao menos pra mim) os dois pilares do filme: o flerte com o gênero terror e a reinterpretação maligna do super-herói. O que é uma ideia bastante instigante, já que o super-homem não apresentava nenhum motivo lógico para proteger os humanos; apenas sendo uma consequência de sua criação e convívio com terráqueos. 

A história é bastante familiar a grande parte do público dos mais diversos meios. Um casal de fazendeiros (interpretados por Elizabeth Banks e David Denman) tem suas preces de ter um filho atendidas após a queda de uma nave espacial ocupada por um recém-nascido. Vou começar pontuando os únicos dois aspectos positivos do filme na minha concepção: a atuação do protagonista (Jackson A. Dunn) que, através de pequenos trejeitos, consegue transpor a malignidade do personagem; e algumas escolhas de David Yarovesky na direção. Entretanto, esses dois aspectos destacados são pulverizados por todos os outros que compõem a obra durante sua projeção.

E é isso.

Logo em seus primeiros minutos, durante uma cena do menino em uma aula de biologia, o roteiro deixa bem claro que se utilizará de todas as conveniências narrativas clássicas e diálogos expositivos para ter o menor trabalho possível em contar sua história. Através de uma explicação aparentemente gratuita (porém nada sutil), Brandon Breyer, o personagem principal, explica todo o arco narrativo de seu personagem através da diferenciação entre uma espécie de abelha e outra de vespa. Essa (infeliz) escolha da dupla de roteiristas (Brian Gunn e Mark Gunn) se apóia unicamente nas convenções do gênero terror do começo ao fim, enquanto salpica algumas referências e homenagens ao personagem da DC. Por conta disso, não espere desenvolvimento aprofundado de personagem, mas, sim, algumas cenas de gore que parecem incomodamente deslocadas de toda a atmosfera higienizada construída pela direção; e não de uma forma bacana igual ao 'Arraste-Me para o Inferno' (2009) do Sam Raimi.

A direção de David Yarovesky, comentada anteriormente, beira o pastelão quando tenta reproduzir de forma preguiçosa clichês contemporâneos e joga jumpscares a todo o momento nos espectadores. Existe um deles em específico que envolve um bebê e o pai-fazendeiro-durão que eu não me aguentei e gargalhei alto no cinema. Ela se torna elogiável apenas quando tenta emular os enquadramentos contemplativos já vistos em 'O Homem de Aço' (2013) de Zack Snyder — que, por sua vez, emulou a estética do Terrence Malick; o que torna a obra de Yarovesky uma cópia de uma cópia. A sua direção de atores também é bastante discutível. Elizabeth Banks ao final da projeção lembra a afetação de Shelley Duvall em 'O Iluminado' (1980), mas sem a liderança de um Kubrick.

Na maioria das vezes, eu sou totalmente contra os subtítulos criados pelas distribuidoras nacionais. Contudo, no caso específico dessa obra, eu concordo em gênero, número e grau. O filme chega às telonas brasileiras como 'Brightburn - Filho das Trevas' e nenhuma outra opção poderia o definir de maneira tão sucinta, tal qual um filme de possessão genérico que não empolga. Uma grandíssima oportunidade jogada fora para um entretenimento raso e sem personalidade que no final das contas não consegue realizar seu único propósito: divertir os espectadores.

Trailer:



Escrito por Pedro Alves

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