[Crítica] John Wick 3: Parabellum
Sinopse:
O lendário John Wick luta para sair de Nova York quando um contrato de 14 milhões de dólares faz dele o alvo dos maiores assassinos do mundo.
O que eu achei?
Eu não curto muito filmes
de ação. Na minha concepção, o gênero se perdeu de forma abrupta durante o
finzinho dos anos 1990 e a virada do milênio. A estética adotada na televisão pela
MTV: cortes rápidos, câmeras tremidas e edição alucinante; foi adaptada
rapidamente para as telonas e isso não foi um aperfeiçoamento bem-vindo. Não me
leve a mal, eu amei o que o Baz Luhrmann conseguiu criar em seu romance ‘Moulin
Rouge - Amor em Vermelho’ (2001) se utilizando desses artifícios. Contudo, a
partir da estréia d'A Identidade Bourne' (2002) de Doug Liman que adaptou tal estilo
com inesperado êxito para um blockbuster
de ação, a maioria esmagadora de diretores do gênero acharam ser uma tarefa
fácil dirigir um filme competente que carregasse essa estética, a época,
contemporânea. Pois bem. Acho que passados todos esses anos já podemos decretar
que não é tão fácil assim, né?
Excetuando alguns bem-recebidos
respiros como o 'Operação Invasão' (2011) de Gareth Evans ou o 'Mad Max:
Estrada da Fúria' (2015) de George Miller, os cinéfilos fãs do gênero se viram
entre dois extremos: os filmes cultuados e estilizados como a duologia Kill
Bill do Tarantino ou, ainda, a reverenciada trilogia Matrix das irmãs Wachowski;
ou filmes onde a direção seguia a estilística MTV legitimada por Liman em 2002.
Por conta dessa tendência, os espectadores passaram a aguentar uma falta de
espacialidade nas sequências de ação, um amontoado de explosões salpicadas e uma
edição que não permitia em nenhum momento que os planos respirassem. Temos
algumas raras exceções como comentado anteriormente e que se distanciam desses
extremos, mas elas são produções, vale ressaltar, de realizadores e/ou atores
de longa data — como as produções do Jackie Chan e a franquia Missão Impossível
de Tom Cruise, ambos possuindo grande controle sobre as suas obras.
Por conta de tudo isso,
não é de se espantar que o descompromissado 'De Volta ao Jogo' (2014) tenha
feito tanto sucesso em seu lançamento. Com uma direção que preza para que o
espectador consiga acompanhar de forma total a ação, Chad Stahelski consegue
atualizar o arquétipo do brucutu
imortalizado na telona por figurões como Schwarzenegger, Stallone e Chuck
Norris. O lendário assassino John Wick (Keanu Reeves), por exemplo, possui uma anormal relação
de afeto com seu cachorro de estimação, tal qual Léon e sua planta na obra de Luc
Besson.
Nessa terceira parte, após ter se vingado dos assassinos de seu pet no
filme original, Wick sofre as consequências de suas ações ao final do segundo
filme e é obrigado a escapar de inúmeros assassinos que foram postos ao seu
encalço.
O trunfo dessa franquia
é, sem sombra de dúvidas, a estética de Chad Stahelski. Assim como David Leitch,
produtor do primeiro filme e diretor de ‘Atômica’ (2017), Stahelski preza por
movimentos acertados de câmera e a dar tempo a seus planos — inclusive,
realizando planos-sequências belíssimos. Acompanhamos, entre as grandes
sequências de ações, os desdobramentos acanhados, porém precisos, do lore¹
da franquia — envolvendo as “facções” de assassinos que respondem a Alta
Cúpula. O visual continua deslumbrante com uma fotografia noturna tomada de
assalto por luzes de neon transformando a cidade de Nova Iorque em algo mais próximo do cyberpunk do que de sua real aparência.
A primeira morte do
filme já nos expõe que essa não é uma aventura que se leva a sério. Entre
estantes abarrotadas de livro, Wick se utiliza de um tomo para quebrar o
pescoço de um assassino e conseguir se salvar. A gráfica e constante violência provocada
pelo protagonista é balanceada apenas por seu novo cachorro, um dos únicos lampejos
de humanidade que presenciamos no protagonista. Chega a ser sintomático que o brucutu de nossos tempos seja o mais
pessimista e o menos “humano”. A franquia John Wick como um todo não é calcada em
roteiros complexos; e isso não torna os filmes melhores ou piores. As maiores
viradas narrativas sempre costumam ocorrer durante seus finais, servindo como grandes ganchos e preparando a platéia para a grandiosa aventura e
carnificina que vem a seguir. Nessa terceira aventura, não é diferente.
‘John Wick 3’ consegue entregar
a jornada mais grandiosa do protagonista até aqui sem esquecer das razões que consagraram
o original. Seguindo a máxima de Blake Snyder: “Give me the same thing… only different” [Me dê a mesma coisa... só que
diferente], chega a ser um divertido exercício imaginar como será o próximo capítulo.
¹Informações
a respeito de um universo ficcional, envolvendo histórias, lendas, línguas,
povos, geografia e outras informações semelhantes.
Trailer:
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