[Resenha] O Lado Obscuro
Sinopse: Quando a escritora Senna Richards acorda na manhã de seu aniversário, ela não está em seu quarto. Raptada e trancada numa casa em meio a uma tempestade de neve, ela precisa decifrar as pistas ligadas ao seu passado para conseguir fugir.
Forjada pela dor, moldada pelo abandono, Senna se tornou uma mulher que destrói antes de ser destruída…
Apenas uma pessoa conseguiu atravessar suas barreiras e conquistar sua confiança, mas isso aconteceu há muitos anos…
“Isaac era um estranho, mas foi capaz de enxergar minhas feridas mais do que qualquer outra pessoa.”
O cirurgião Isaac encontrou Senna em um momento de caos e vulnerabilidade, depois de um furacão que lançava cinzas sobre suas feridas. Ele a ajudou quando ninguém mais pôde, mas agora, tudo está diferente.
Depois de tanto tempo distantes um do outro, os dois estão presos na mesma cabana, e podem ser consumidos por recordações que esperavam esquecer.
Além do perigo que os cerca, a escassez de comida e água, e os jogos perigosos do raptor, um sentimento antigo começa a despertar, ameaçando romper novamente as defesas de Senna, o que pode ser fatal.
O que eu achei?
Com uma premissa muito boa, apesar de
mal apresentada, e/ou formulada na sinopse, “O Lado Obscuro” é
um livro que se perde sem si mesmo a todo o momento. Isso já começa
pelas informações de capa e contracapa que apresentam ideias
diferentes, e fazem você esperar coisas completamente diferentes da
história que nos será apresentada.
Senna é uma autora de ficção de
sucesso, que acorda sozinha em uma cabana desconhecida, sem
lembranças de como chegou ali. Contudo, eu vasculhar a casa, percebe
que lá há de tudo para a sua sobrevivência, desde comida até
roupas – do seu tamanho, inclusive. Tudo foi cuidadosamente
arranjado para mante-la presa dentro da casa, mas de forma
confortável. Além disso, alguém mais está preso lá com ela;
alguém muito ligado ao seu passado.
Uma boa base, não? Mas a história
sofre desde o início de uma falta de maturidade na escrita que nem
sei como exemplificar. A narrativa em primeira pessoa é feita pela
própria Senna, então passamos um bom tempo com ela – o que não é
nada agradável. Senna é pedante e arrogante, e nem mesmo seu
passado e traumas foram capazes de me fazer criar alguma empatia por
ela no decorrer da história. Sua construção foi chatíssima,
colocando-a como uma mente extremamente brilhante, ágil, competente
e sagaz. Uma deusa da escrita e da percepção, além do raciocínio
lógico. Chata. Muito. Sua mentalidade mais parecia a de uma
adolescente arrogante e prepotente, típico daqueles filmes teen
que retratam o ensino médio norte-americano. Em dado momento do seu
passado algo muito grave ocorre com ela, e é possível até pensar
que sua personalidade provem desse trauma, mas não.
Já Isaac é um dos personagens mais
sem sal que eu já li na vida. Quando ele não aparece na história,
.é como se ele nem existisse de verdade – você esquece dele
totalmente. Os diálogos dele com Senna são sofríveis, pobres e
apelam para uma erudição ou algo de cult que ficou só numa
tentativa falha, sendo o tempo todo algo raso. E o fato de Senna
quase sempre terminar suas falas dizendo o nome de Isaac, certamente
não ajuda em nada a história.
Esse livro sofre de muitos outros
problemas, inclusive a falta de maturidade na escrita – que
realmente foi o que mais me incomodou durante a leitura. Não há
personalidade na escrita, nem nas personagens, fazendo a história
fracassar em criar um clima de tensão e uma atmosfera de mistério –
que é exatamente o que prometeu o livro em todas as suas infos. Fora
isso, alguns conceitos colocados na narrativas são de péssimo
gosto, e tomo a liberdade de expor um aqui que foi, no mínimo, um
absurdo.
A cena se deu após Senna beber durante
a noite. Ela acorda de ressaca e vai vomitar. Logo, ela nos diz “É
terrível sentir o estomago devolvendo conteúdo. Pessoas
com bulimia deveriam ganhar uma medalha”. Sério. Não dá!
O livro consegue mudar bem seu estilo
de escrita em suas partes específicas da história, mas não traz
nada de incrível nem de fantástico; nada de visceral como foi
prometido. O relacionamento entre Senna e Isaac é irreal ao extremo, e o mistério sobre qual o livro foi criado não é nada espantoso. O Lado Obscuro é um livro que promete muito, para não cumprir com nada.
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