[News] Sesc Pompeia recebe Festa de Inauguração do grupo brasiliense Teatro do Concreto; inspiração para o espetáculo veio das frases escritas por operários em 1959 na construção do Congresso Nacional
Em 2011, durante
uma manutenção no salão verde do Congresso Nacional que consistia em quebrar
paredes para se descobrir as causas de um vazamento, foram encontradas frases
escritas pelos operários responsáveis pela construção do prédio, inaugurado em
1960. As mensagens, que previam um futuro melhor para o país e a crença nas
instituições democráticas do Brasil, foram lidas pelos integrantes da companhia
brasiliense Teatro do Concreto como uma das inúmeras narrativas criadas ao
longo do tempo que só são reveladas a partir de um processo de destruição. Com
dramaturgia de João Turchi e direção de Francis Wilker, o espetáculo Festa de
Inauguração estreia dia 30 de maio, quinta-feira, 21h30, no Sesc Pompeia.
Construída sem tomar como base a noção de personagens ou de
começo-meio-fim, Festa de Inauguração tem uma dramaturgia tecida a partir das
falas e narrativas que não são reveladas espontaneamente, mas sim através da
destruição. “Notamos que no percurso da humanidade, nas artes e nas trajetórias
pessoais, existem narrativas soterradas que precisam vir à tona e, normalmente,
esse processo acontece por meio da destruição”, diz Francis Wilker, diretor da
montagem.
Para Wilker, o gesto de destruir ganha novas camadas e pode
ser lido como uma metáfora para desmontes de políticas públicas, silenciamento
de grupos minoritários, revisionismos históricos e reflexão sobre a história da
arte. Esse ponto de partida foi endossado por uma série de seminários
promovidos pela companhia que reuniu sociólogos, arquitetos, artistas visuais,
rappers e dramaturgos para dialogarem sobre a possibilidade de se “ler” a
cidade como um livro.
“Nos dedicamos a pensar na cidade como algo repleto de textos
que precisam ser lidos, de discursos que precisam vir à tona”, diz o diretor,
ressaltando que essa pesquisa fez com que Festa de Inauguração não fosse uma
peça que falasse pelos operários ou sobre o processo de construção de Brasília,
mas sim que esses fossem os elementos disparadores de uma série de reflexões
sobre o ato de destruir e reconstruir – ciclo constante na humanidade.
João Turchi, artista goiano que reside em São Paulo, apesar
de já ter trabalhado com Francis Wilker, escreve pela primeira para o Teatro de
Concreto. Na construção dramatúrgica, Turchi decidiu dar luz à questão da
história como algo que sempre foi manipulado pelo homem. “Esses textos
encontrados em Brasília apontavam uma possibilidade de futuro pensada por esses
trabalhadores – podemos associar essas imagens às inscrições rupestres de uma
caverna, por exemplo. O que esses registros têm a nos dizer nos dias de hoje?
Como contar isso a outro? Quais são as possíveis narrativas que existem aí?”,
questiona.
A partir dessa provocação e das características que já são
comuns ao grupo, como uma relação direta com a plateia e criação de peças que
não se resumem a um só espaço cênico, Festa de Inauguração começa nas
imediações do Sesc Pompeia. Dessa forma, a peça cria as metáforas a partir de
um olhar arqueológico, onde o fim representa a continuidade de um ciclo que irá
gerar novas leituras sobre o que foi destruído.
Sobre a experiência de dar a largada na primeira temporada em
São Paulo, Francis Wilker espera trazer para a cidade as marcas que mais
consagram a história do Teatro do Concreto, como a relação com o espaço
alternativo e sua conexão com a cidade. “Brasília é uma cidade urbana, onde há
muito concreto, e nosso grupo nasce sob essa égide”, conta. O diretor também
destaca o fato de a companhia sempre trabalhar a partir de textos inéditos e
das montagens dialogarem com a performance e não com um modelo tradicional de
teatro.
Festa de Inauguração tem ainda cenário e figurino assinados
por André Cortez, luz de Guilherme Bonfanti, do Teatro da Vertigem; e elenco
composto por Gleide Firmino, Micheli Santini, Adilson Diaz e Diego Borges.
Teatro do Concreto
Fundado em 2003, o Teatro do Concreto é um grupo de Brasília
que reúne artistas interessados em dialogar com a cidade e seus significados
simbólico e real por meio da criação cênica. Assume, desde sua origem, a
diversidade e a pesquisa como princípios de gestão e composição artística,
mobilizando criadores de diversas regiões do Distrito Federal e aprofundando a
interação com diferentes artistas e áreas do conhecimento.
Suas criações se orientam pela perspectiva do processo
colaborativo e se caracterizam, principalmente, pela elaboração de uma
dramaturgia própria, pela radicalização no uso de depoimentos pessoais, pela
investigação da cena no espaço urbano, pela relação com as práticas da
performance e pela busca por diferentes modos de engajar o espectador.
Ao longo de sua trajetória, o grupo estreou nove espetáculos
e intervenções cênicas, publicou três obras de referência para o campo da
pesquisa teatral e realizou diversos projetos de interação com a comunidade os
quais extrapolam a dimensão dos palcos, consolidando-se como referência para o
teatro de grupo na região Centro-Oeste.
Ganhou projeção nacional com a circulação dos espetáculos
Diário do Maldito (2006) – que recebeu o Prêmio SESC do Teatro Candango nas
categorias de Melhor Atriz e Melhor Cenografia – e Entrepartidas (2010) – que
recebeu o Prêmio SESC do Teatro Candango nas categorias de Melhor Espetáculo,
Melhor Direção, Melhor Ator e Melhor Dramaturgia. As principais criações do
grupo são Sala de Espera (2003); Borboletas têm vida curta (2006); Diário do
Maldito (2006); Inútil Canto E Inútil Pranto Pelos Anjos Caídos (2007); Ruas
Abertas (2008); Entrepartidas (2010), Mirante (2010); Extraordinário (2014) e Festa de Inauguração
(2019).
SINOPSE
Festa de Inauguração é uma obra sobre a destruição. Quatro
atores recolhem os cacos que sobraram do choque entre placas tectônicas, das
inundações, das bibliotecas em chamas, das estátuas que perderam a cabeça e dos
nossos próprios corpos, palavras e desejos. Ao vasculhar ruínas, descobrem
discursos que nunca foram inaugurados, fósseis sem palavras. O difícil é
escolher entre aquilo que sobrou o que tem relevância para a linha do tempo que
fica.
FICHA TÉCNICA
Elenco: Gleide Firmino, Micheli Santini, Adilson Diaz, Diego
Borges
Direção: Francis Wilker
Dramaturgia e codireção: João Turchi
Assistente de direção: Diego Borges
Light design: Guilherme Bonfanti
Assistente de Iluminação: Higor Filipe
Estagiários de Iluminação: Diogo Sikins e Emanuela Maia
Cenografia e Figurinos: André Cortez
Assistente de Cenografia e figurinos: Marina Fontes
Direção musical: Diogo Vanelli
Projeções e registro audiovisual: Thiago Sabino e Fábio
Rosemberg
Colaborações artísticas: Nei Cirqueira, Kenia Dias, Edson
Beserra, José Regino e Giselle Rodrigues
Produção Executiva: Tatiana Carvalhedo (Carvalhedo Produções)
Produção Nacional: Júnior Cecon
Coordenação Administrativa Teatro do Concreto: Ivone Oliveira
Debates temáticos que alimentaram o processo criativo: Edson
Farias (sociólogo), George Alex da Guia (arquiteto e urbanista), Íris Helena
(artista visual), João Estevam de Argos (arqueólogo) e Thabata Lorena (cantora,
compositora e MC).
Agradecimentos: Daniele Sampaio, Cynthia Margareth, Felipe
Sabatini, Glauber Coradesqui, Gustavo Colombini, Guilherme Giufrida, João
Gabriel Dantas, Laysa Elias, Jéssica Varrichio, Carol Bianchi, Viviane
Garbelini, Cristina Carvalhedo, UNIPAZ, Samuel Araújo, Cristina Nogueira,
Elenice Barbosa, João Generoso, SESC Estação 504 Sul (DF); Rodrigo Quintiliano
(Restaurante C’est La Vie, DF); Casa dos Quatro; IESB; Vania Praia (Praia Salão
de Boniteza, DF); Teatro da Vertigem.
SERVIÇO
Festa de Inauguração
De 30 de maio a 23 de junho de 2019
Quintas, sextas e sábados, às 21h30, e domingos e feriado
(20/06), às 18h30
Local: Espaço Cênico do SESC Pompeia (R. Clélia, 93 - Água
Branca, São Paulo).
Ingressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 6 (credencial
plena).
Duração: 80 minutos. Classificação: 18 anos.
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