[Crítica] Toy Story 4

Sinopse:
Woody, Buzz Lightyear e o resto da turma embarcam em uma viagem com Bonnie e um novo brinquedo chamado Garfinho. A aventura logo se transforma em uma reunião inesperada quando o ligeiro desvio que Woody faz o leva ao seu amigo há muito perdido, Betty.

O que eu achei?
Fechar uma franquia tão exitosa não é uma tarefa fácil, especialmente depois de um filme como Toy Story 3, que já trazia um certo tom de despedida. Entretanto, nunca devemos subestimar Toy Story. Há um espécie de crescendo, um amadurecimento, que não é possível enxergar em outras franquias. O filme traz novos personagens cativantes, uma série de gags divertidíssimas e um novo e até mesmo reflexivo olhar sobre os percursos tomados ao longo dos outros três filmes.

No primeiro filme, temos o embate entre o velho e o novo, sintetizado pela rivalidade entre Woody (Tom Hanks) e Buzz Lightyear (Tim Allen). Brinquedos podem ser, assim, tão facilmente substituídos? Em Toy Story 2, a questão central é: permanecer com uma criança e eventualmente ser abandonado ou deixar de exercer sua principal função e não sucumbir ao esquecimento? O terceiro filme traz a resposta para esta questão: as crianças podem sim crescer e abandonar seus brinquedos um dia, mas eles podem ser passados para frente, afinal de contas, há outras crianças no mundo loucas por brinquedos. O quarto e último filme, entretanto, levanta uma questão primordial para a franquia: o que é um brinquedo? E, mais importante do que essa, pode um brinquedo não ter um dono?
A primeira pergunta pode ser respondida pelo personagem Garfinho. O Garfinho é como um monstro de Frankenstein. Ele não é um brinquedo. Ele é lixo. E ele quer deixar isso claro para os outros brinquedos, em uma série de gags geniais e, eventualmente, em sua fuga, que impulsionará todo o resto da trama. Mas por que, magicamente, ele ganha vida? Aliás, por que todos aqueles brinquedos têm vida? E a resposta é bem simples: porque a função de um brinquedo é dar e receber amor de uma criança. No momento em que um pedaço mal ajambrado de garfo como Garfinho é capaz de se tornar uma fonte de conforto para Bonnie, ele passa a, literalmente, viver para aquele propósito, apesar de não ter saído de uma fábrica com essa missão. Em Toy Story, brinquedos têm uma missão clara: serem companheiros de suas crianças. Entretanto, é aí que entra a segunda questão que eu havia levantado anteriormente.
Para Woody, um brinquedo sem dono é um brinquedo sem propósito. Ao longo dos anos, acompanhamos o xerife se devotar completamente a sua missão como brinquedo. Entretanto, ele já não é mais o favorito. Bonnie não brinca mais com ele, deixando-o dentro do armário. Seu distintivo, inclusive, é passado para Jessie, a nova xerife da cidade imaginária de Bonnie. Mas Woody não se deixa abater. Pela felicidade de Bonnie, ele faz de tudo para salvar Garfinho e fazer com que ele aceite sua condição como brinquedo. O reencontro com Betty, entretanto, é o que lhe mostra que há mais na vida que o quarto de uma criança. Woody, pela primeira vez na vida, dá um grito de independência, tornando o final do filme um dos mais corajosos que poderíamos ver em um filme infantil.
Devo dizer que eu senti falta de uma coisa. Duas, aliás. A primeira é de uma vilã realmente decente. A franquia Toy Story foi marcada por vilões icônicos, que sempre tinham o que mereciam no final. Não é todo brinquedo que presta, afinal de contas. De longe, Gabby Gabby não tem a mesma força que um Mineiro ou que um Lotso. Muito menos a consistência. A segunda coisa que eu senti falta, evidentemente, foram os outros brinquedos. Em Toy Story, quando alguém se separa do grupo, todos os outros vão atrás. Mas isso parece não acontecer nesse filme. Buzz segue sua voz interior, literalmente, e segue nesta jornada sozinho, o que me parece bastante dissonante.   
Despedir-se de Toy Story é como se despedir de um melhor amigo de infância. Por anos a fio, a franquia foi como um bálsamo para mim e para toda uma geração. Crescemos juntos dos filmes, assim como o Andy cresceu e foi para a faculdade. Durante o terceiro filme eu tive a estranha sensação de que nós, crianças (agora adultos) dos anos 90, estávamos passando o bastão para uma nova geração de espectadores. Foi uma sensação melancólica. E eu voltei a ter essa mesma sensação durante o quarto e último filme. Mas dessa vez não sou eu quem me despeço. São os personagens. Os brinquedos não têm um dono só. Eles podem ser de todos. E eles devem ser livres. E eles se despedem de todos nós, adultos e crianças.

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