[News] Exposição no Sesc Engenho de Dentro retrata o dia a dia na linha do trem






RIO DE JANEIRO - O Sesc Engenho de Dentro exibe até o dia 8 de agosto a exposição “Ao Longo da Linha do Trem”, do artista plástico Carlos Contente. A mostra conta com 21 quadros, incluindo fotocolagens, gravuras e manuscritos, que retratam a perspectiva do trabalhador do subúrbio do Rio de Janeiro que se desloca pela cidade a bordo de trens. As obras fazem referência a temas como trabalho, violência, fé, a dinâmica internas dos vagões e a geografia do entorno das ferrovias.
A ideia do trabalho é mostrar que ao utilizar o trem como meio de transporte e fonte de renda, o cidadão (re)configura o espaço e (re)significa os símbolos estabelecidos através do seu modo de ser e estar no mundo. Nas idas e vindas dos trabalhadores, as obras, em sequência, contam uma história - de uma vida que acontece dentro e ao redor do trem.
“Ao longo da linha do trem” é uma releitura de uma outra obra de Carlos Contente, produzida em 2003, para expor na Estação Central do Brasil, junto a outros artistas em um evento que ocupava espaço na entrada da estação. Consistia em uma longa sequência de desenhos narrando a luta pela sobrevivência e as aventuras amorosas de um personagem popular. O trabalho foi em parte destruído por anônimos que pareciam não concordar com o desenho dos corpos femininos apresentados.
“Ironicamente, logo na saída da estação, a banca de jornal nos impunha, impávidos e inquestionáveis os seus cânones de imagem do feminino – vulgares e coisificados, por sinal. E apesar do contratempo, o encontro com o diverso e sua imprevisibilidade são os afetos que parecem interessar ao artista, tanto no que se refere à linha do desenho como na linha do trem”, explica a curadora Jaqueline Melo.

SAIBA MAIS SOBRE CARLOS CONTENTE - Artista plástico com formação em pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ e mestrando pelo Instituto de Artes da UERJ. Possui trabalhos em coleções públicas importantes como a do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e a do MAR/RJ. Começou fazendo graffitis e histórias em quadrinhos independentes no Méier do final dos anos 90. Seu trabalho é voltado para a criação de narrativas onde texto e imagem se encontram em ficções absurdas que fazem referência tanto a temas especializados da arte contemporânea como à fala plural e despojada da zona norte carioca, onde vive até hoje.

SERVIÇO

Exposição “Ao longo da linha do trem”, de Carlos Contente.

Sesc Engenho de Dentro: Av. Amaro Cavalcanti, 1661 - Rio de Janeiro

Até 8 de agosto de 2019

Visitação: De terça a sexta-feira, das 8h às 20h. Sábados e domingos, das 9h às 18h

Classificação: Livre I GRÁTIS

Agendamento para visitação de grupos: 3822-4892
  
TEXTO DA CURADORIA – “Ao longo da linha do trem”

A linha é um elemento do desenho de suma importância. Ela dá o contorno das figuras diferenciando os corpos por sua opacidade. Também é a linha que tem o poder incisivo de penetrar estas figuras e rasgá-las, mudá-las, reconfigurá-las, rasurá-las ou até ressignificá-las.

Duas linhas paralelas “se encostam no horizonte” e criam um ponto de fuga: linhas oblíquas sobre um plano que criam uma ilusão de profundidade. Determinam planos, desde o mais próximo do observador, onde este vê tudo em detalhe até o último, lá no fundo, ao redor do ponto de fuga onde se vê tudo à distância de forma panorâmica. As linhas nos permitem, por exemplo, representar a cidade que vemos com lápis e papel na mão.

As mãos estão ocupadas desde cedo pela manhã dirigindo ou enviando e recebendo mensagens pelos celulares – sempre ocupadas, vigiadas e conectadas à máquina. Há mãos que manuseiam ferramentas pesadas, vendem, trocam dinheiro, entregam produtos e oferecem novidades para todos aqueles corpos no transporte público a caminho do trabalho. Algumas destas mãos aproveitam estas brechas de liberdade que se abrem entre os duros trilhos da sociedade e folheiam livros, tocam instrumentos ou desenham o que observam. Foi mais ou menos assim que nasceu a inspiração do artista Carlos Contente para realizar este trabalho.

Ao longo da linha do trem é uma releitura de uma outra obra, que o artista fez em 2003 para expôr na Estação Central do Brasil, junto com outros artistas em um evento que ocupava o espaço de entrada da Central. Consistia de uma longa sequência de desenhos narrando a luta pela sobrevivência – e as aventuras amorosas, de um personagem popular. O trabalho foi em parte destruído por anônimos que pareciam não concordar com o desenho dos corpos femininos apresentados. Ironicamente logo na saída da estação, a banca de jornal nos impunha, impávidos e inquestionáveis os seus cânones de imagem do feminino – vulgares e coisificados, por sinal. E apesar do contratempo, o encontro com o diverso e sua imprevisibilidade são os afetos que parecem interessar ao artista, tanto no que se refere a linha do desenho como na linha do trem.

Seu processo de criação é predominantemente manual, do desenho e do manuscrito, como um caderno de anotações onde a mão vai deslizando sobre o papel e deixando correr pelas folhas um trem de memórias e invenções. A obra está montada como uma sequência cuja leitura é feita da esquerda para a direita, um trem de imagens e palavras para o espectador entrar e viajar.

Jacqueline Melo

Curadora da exposição



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