[Crítica] Stranger Things - Terceira Temporada
Sinopse:
É 1985 em Hawkins, Indiana. O verão está mais quente do que nunca, e um novo shopping foi inaugurado na cidade. O grupo de protagonistas estão a beira da adolescência, e pequenos romances complicam sua dinâmica. Eles precisarão aprender a crescer sem crescer realmente. Enquanto isso, um novo perigo surge. Com a cidade ameaçada novamente, Eleven e seus amigos percebem que o mal nunca acaba, apenas evolui. Agora, todos precisarão ser mais unidos do que nunca para sobreviver, e se lembrar que a amizade sempre será mais forte do que o medo.
É 1985 em Hawkins, Indiana. O verão está mais quente do que nunca, e um novo shopping foi inaugurado na cidade. O grupo de protagonistas estão a beira da adolescência, e pequenos romances complicam sua dinâmica. Eles precisarão aprender a crescer sem crescer realmente. Enquanto isso, um novo perigo surge. Com a cidade ameaçada novamente, Eleven e seus amigos percebem que o mal nunca acaba, apenas evolui. Agora, todos precisarão ser mais unidos do que nunca para sobreviver, e se lembrar que a amizade sempre será mais forte do que o medo.
O que eu achei?
Todos aqueles que me
seguem nas minhas (poucas) redes sociais já sabem minha opinião de um modo geral
sobre essa terceira temporada: não curti. Não curti nem um pouco. Ainda assim, escrevi
— da mesma maneira que fiz nos anos anteriores — comentários episódio a
episódio, gravei um vídeo que será postado em um futuro próximo e estou aqui
escrevendo uma crítica mais detalhada pontuando minhas percepções dessa nova
aventura em Hawkins. Dito tudo isso, repetirei o que venho falando para meus amigos
que apontam minha relação tortuosa que mantenho com o seriado desde sua segunda
temporada: critico, porque curto. E existem coisas muito estranhas acontecendo
nessa cidadezinha — e não tem nada de sobrenatural nelas.
Logo após o lançamento
de sua primeira temporada em 2016, ‘Stranger Things’ deu origem a um debate
envolvendo a própria construção de sua história e a forma com que se utilizava
de referências cinematográficas (em sua maioria) de obras da década de 1980 — como
'E.T.: O Extraterrestre' (1982) de Steven Spielberg e 'Os Goonies' (1985) de
Richard Donner. Foi daí que se originou a expressão “série de algoritmo”, termo
que sugeriria uma construção de narrativa semelhante a uma colcha de retalhos composta
pelas obras mais vistas e melhor avaliadas no serviço de streaming. Eu não torci tanto o nariz na época. Pode ser tanto pela
nostalgia boa oferecida pelo reconhecimento familiar presente desde sua
atmosfera aos seus personagens, quanto pela direção bastante competente de Shawn
Levy em episódios como ‘The Body’ (o quarto episódio). Existia algo de
divertido e carismático em acompanharmos as peripécias daquele grupo de crianças
juntos a uma garota, a heroína!, com poderes especiais em busca de um amigo
desaparecido.
Em sua segunda
temporada, a série já não contava com o fator-surpresa de um lançamento inesperado.
Existia um público que sabia o que esperar da narrativa e, para suprir essas
expectativas, seria necessário algo diferente do suporte em elementos
nostálgicos visto em sua estréia. Já em sua segunda leva, problemas
(principalmente narrativos) foram sendo percebidos. Muito se deve ao fato de que,
em sua origem, a série foi imaginada para apenas uma temporada. Seus criadores,
os irmãos Duffer, mostraram uma tendência à auto-referência, assim como a utilização
de uma estrutura de história bastante semelhante a da temporada anterior: personagens
divididos em pequenos núcleos; cada um deles descobrindo pedaços diferentes de
um mistério maior; juntando-se ao final para fazer com que o portal do Mundo
Invertido fosse fechado. Todavia, por mais que fosse uma experiência agridoce causada
por estarmos diante de mais do mesmo, os cliffhangers
deixados na temporada anterior (as consequências do aprisionamento de Will no
Mundo Invertido, por exemplo) somados as possibilidades de desenvolvimento dos
personagens (Steve transformado de um bully
em um personagem cativante) ainda proporcionaram com que a série fosse uma
aventura divertida, um ótimo passatempo. Existiram problemas? Claros e
evidentes. De uma quebra de ritmo bastante criticada em ocasião do episódio ‘The
Lost Sister’ até a criação de uma personagem feminina com o único propósito de disputa
amorosa entre os protagonistas (a Max). Entretanto, por mais que não fosse uma
experiência tão prazerosa quanto sua temporada antecessora, ainda era divertida.
Não tão boa, mas ainda boa.
O que nos leva a esse
terceiro ano, onde todos os problemas já percebidos na temporada anterior ficam
mais evidentes e os seus contrapesos (os desenvolvimentos dos seus personagens)
são longe de serem satisfatórios. A proposta dessa terceira aventura é, olhando
com certo distanciamento, muito bem-vinda. Somos convidados para, assim como
seus personagens, deixar a infância para trás e encarar a adolescência, o seu amadurecimento.
Temos os três passos observáveis em toda obra coming of age: separação, transição e a reincorporação na
sociedade. Contudo, a repetição de plots,
assim como a descaracterização de alguns personagens, salta aos olhos de
qualquer espectador um pouco mais atento. Tal qual a saga ‘Star Wars’ de George
Lucas, começamos a perceber que ‘Stranger Things’ aposta em uma ameaça-estrela-da-morte
em suas aventuras, ou seja, sua narrativa começa sempre pelo mesmo incidente
incitante e possui o mesmo “vilão”. Na saga dos Skywalkers, a ameaça era sempre
a Estrela da Morte que ou estava sendo construída, ou iria ser construída, ou
havia sido construída. Aqui, em todas as temporadas há cientistas almejando
abrir o portal para o Mundo Invertido. Dessa vez, os inimigos das crianças são
os soviéticos (ou a versão afetada deles) em plena Guerra Fria.
Meu maior problema foi a
tentativa preguiçosa em encaixar os personagens na história que os criadores queriam
contar. Isso sempre é um problema na construção de narrativas por,
principalmente, ocasionar situações em que os personagens ajam de uma forma contrária
a que já vimos nos episódios anteriores (sem nenhuma razão aparente). Nesse
quesito, vale destacar o descarrilamento do Xerife Hopper que deixou de ser um
policial compreensivo aprendendo a ser pai visto na temporada anterior para se
transformar em um bêbado com ciúmes (tanto pela Eleven, sua “filha”; quanto pela
Joyce). Personagens repetem exatamente o seu papel na temporada passada como,
por exemplo, o investigador particular Murray que possui um diálogo muito
semelhante a pavorosa conversa entre ele, Jonathan e Nancy na segunda temporada
onde mostrava a tensão sexual entre o casal; só que dessa vez com Hopper e
Joyce. Ao mesmo tempo, personagens são diminuídos a ponto de serem completamente
inutilizados na trama como se vê no desenvolvimento de Will que é resumido a
sentir calafrios e pedir para jogar uma partida de RPG — o que só piora se considerarmos
a importância do personagem na trama macro sobre amadurecimento, já comentada
lá em cima.
Nem tudo são desastres,
entretanto. Entre seus poucos acertos, a temporada consegue apresentar novos
personagens e desenvolver velhos conhecidos de maneira satisfatória comparada
ao resto da narrativa (como Robin, Erica e Alexei). Talvez, o mais
surpreendente de tudo, ainda mais levando em consideração todos os outros
aspectos comentados por mim nesse texto, seja a maneira como Bill, irmão da
Max, teve a trajetória mais interessante. Repetindo a mesma transformação feita
com o personagem Steve já comentada aqui, eles deram profundidade a um
personagem que anteriormente somente havia sido um valentão. Inclusive, a sequência
onde isso ocorre, tendo a praia como cenário e mostrando vários momentos da vida
conturbada do personagem talvez seja o ponto alto de toda a temporada. Uma temporada
que prefere esvaziar seus trechos de ação por uma estética apurada,
descaracterizar seus personagens, insistir na repetição de clichês e
lugares-comuns, e construir uma aura genérica em torno de si própria.
Não havia pensado em
como terminaria esse texto. Em como poderia demonstrar minha decepção com o
caminho criativo tomado nessa terceira temporada. Talvez eu devesse terminar
assim como a própria série: com uma cena pós-crédito que dê indícios de uma
possível quarta temporada e ofereça caminhos para reverter o ponto mais
dramático da narrativa. Esvaziando desse jeito o final melancólico e impedindo
que a série consiga, pela primeira vez, propiciar um senso de perda real entre
seus personagens.
Trailer:
Escrito por Pedro Alves
Curti! Mas também achei a ultima temporada meio parada sem muitos atrativos. Acho que o episodio final dá uma belo gancho para quiza próxima temporada.
ResponderExcluirwww.sramaia.blogspot.com