Democracia em vertigem - Uma obra de arte e algo mais

Democracia em vertigem 





Diretora (Petra Costa)

Distribuidora (Netflix)

Não é segredo para ninguém que há mais ou menos uns três anos o brasil se dividiu ao meio, não pela construção de um muro, ou por um apartheid mas sim por um debate político infinito que tomou força após o impeachment da ex presidente do brasil Dilma Rousseff (PT). Os natais nunca mais seriam os mesmos depois daquela longa votação liderada pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha. O brasil se dividiu entre coxinhas e petralhas, nomes esses que foram gerados em meio à caos político.

Mas em meio a tantos processos, condenações e prisões ocasionadas pela operação Lava Jato, muitas informações foram disponibilizadas para a população, e por conta do peso ideológico e às vezes até mesmo por conta de militantes sejam eles de esquerda ou de direita, essas informações foram deturpadas e algumas até mesmo sendo as famosas Fake News.

Em meio à tantas produções cinematográficas, documentários produzidos pela plataforma Brasil Paralelo e uma vasta obra literária à respeito desse período de nossa história, eis que surge na Netflix o documentário dirigido por Petra Costa.

E depois quase duas horas assistindo o tal documentário eu fiquei me questionando quanto a qualidade artística e factual da obra e a conclusão é que artisticamente o filme é uma aula de cinema! Ótimos enquadramentos de câmera, uma fotografia de tirar o fôlego, um vasto material histórico de dar inveja à muitos historiadores e diálogos dos bastidores de uma das épocas mais conturbada de nosso país desde a nossa redemocratização. Ela consegue através da montagem do filme narrar ponto a ponto cada momento importante da história até culminar na eleição de Jair Messias Bolsonaro (Atual presidente do brasil). Petra Costa é neta de um dos fundadores de uma das maiores corporações do ramo da engenharia desse país, a empreiteira Andrade Gutiérrez que esteve presente nas grandes obras do nosso país e não ficou de fora da maior obra jurídica de nosso país, a operação Lava Jato! Diversos executivos da empresa foram presos e processados pela operação. Talvez o fato dela vir de uma família tão privilegiada, atrelada ao governo tenha dado à ela esse acesso exclusivo? Fica a questão. Mas o fato é que ela teve acesso a momentos importantes do Lula como no dia de sua prisão, no dia do velório de sua esposa e outros muitos momentos que nenhum veículo de informação brasileiro tiveram até então. O mesmo com Dilma, ela captou imagens exclusivas das reações de Dilma no momento que seu processo de Impeachment fora aprovado na Câmara e ainda a entrevistou no mesmo momento, ela também teve acesso a vários momentos com o então deputado federal Jair Messias Bolsonaro.

Dito tudo isso, eu não poderia deixar de lado o fator mais importante; A narrativa! O filme do ponto de vista histórico e político não passa de uma propaganda política das mais panfletarias possíveis, creio que nem com toda propina advinda de verbas da Odebrecht direcionadas à João Santana e sua mulher Mônica Moura (Marketeiros do PT presos na operação Lava jato) não dariam conta de algo dessa magnitude, provavelmente Leni Riefenstahl, a maior cinegrafista da era Hitleriana se orgulharia e muito desta obra que carrega consigo uma estética impecável, digna de um Oscar mas que do ponto de vista político coloca figuras como Dilma e Lula na posição de Deuses da nação. Em uma das primeiras cenas Petra diz se referindo à Lula: "Ele é o escultor cuja o material é a argila humana" classificando Lula como quase um Deus, escultor da humanidade, tirando a narrativa que se dá de uma maneira rasteira e esse é um dos pontos fracos, o filme também abre mão da veracidade dos fatos em alguns momentos alterando dados, como no momento em que Deltan Dellagnol narra a apropriação das provas contra Lula no caso Triplex e ela tira a fala do jurista de contexto dando a entender que a ausência de provas seria uma prova de que Lula era culpado pois ele teria alterado as provas (Sim, é isso que ela tenta fazer o telespectador entender).

Contudo eu não vejo problema em uma abordagem ideológica, pois o que procuro em obras desse tipo é qualidade estética, e isso ele tem de sobra, vejo "Democracia em vertigem" como o "Triunfo da vontade" de Leni Riefenstahl, que com todo sua colaboração para o partido nazista, ela é reconhecida até hoje como uma das diretoras mais visionárias por sua estética e forma como dirigia seus filmes.

No fim das contas todos tem direito de ter ideologia, seja ela de direita ou esquerda e a moral é algo mutável de acordo com nossos valores, se essa foi a narrativa que Petra Costa escolheu para seu filme, que bom por ela ter o direito de se expressar, mostra que a vertigem da democracia indagada por ela no título do seu filme graças à Deus também faz parte de suas narrativas para a construção de sua obra, prática feita frequentemente por Michael Moore em seus doc's.

Independente de qualquer divergência com dados eu creio que esse documentário estará entre a lista de indicados a melhores documentários estrangeiros no oscar 2020 e torço para que leve a estatueta.

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