[Crítica] Bacurau
Sinopse:
Daqui a alguns anos... Bacurau, uma pequena cidade do sertão brasileiro, lamenta a perda de sua matriarca, Carmelita (Lia de Itamaracá), que viveu até os 94 anos. Dias depois, seus habitantes percebem que sua comunidade desapareceu da maioria dos mapas.
O que eu achei?
Desde o começo desse
ano, tenho passado por uma crise de identidade nas diversas esferas da minha
vida. Na realidade, ela sempre existiu. Arrisco afirmar, inclusive, que é assim
com todos os mortais e está se acentuado, excepcionalmente, para todos os
brasileiros nesse ano de 2019 de nosso senhor. Uma dessas crises me incentivou
a realizar uma pesquisa sobre a cidade onde nasci — pesquisa essa que ainda
está em andamento. Tirando todo o chorume despejado pelo presidente, por baixo
de todas as crises nas esferas políticas do país, sobrevivendo às tragédias diárias;
uma pergunta insiste: qual a importância da nossa história? Essa é uma das
chaves que ‘Bacurau’, novo longa-metragem de Kleber Mendonça Filho e Juliano
Dornelles, pode ser compreendido.
Após o falecimento de
uma de suas moradoras mais antigas, os habitantes da cidadezinha fictícia de
Bacurau começam a sofrer com episódios estranhos. Primeiro surgem objetos
voadores incomuns e, logo após, o sinal telefônico do lugar é cortado. Algo misterioso
está acontecendo com eles, mas o que será?
Tarefa difícil, quase
impossível, desenvolver alguma coisa substancial sobre a narrativa sem soltar
nenhuma revelação do enredo. Por mais que ‘Bacurau’ ainda guarde reminiscências
dos filmes anteriores do diretor recifense e contenha elementos alegóricos, o desenvolvimento
do filme é bem mais narrativo e seu discurso bem mais claro e direto. Em dado
momento quando uma das habitantes de Bacurau insiste para que um casal de
forasteiro visite o museu da cidade, além de um claro elemento que compõe o discurso
crítico, ela está dando uma dica sobre o passado daquele povoamento. Assim como
esse instante descrito, a obra está recheada de acontecimentos que funcionam
tanto em nível narrativo quanto em nível de manifesto.
A obra é uma amalgama
de gêneros sem se limitar em nenhum deles. Começa como um drama, descamba para
um thriller e possui um clímax
semelhante a um faroeste norte-americano passado por nosso liquidificador
antropofágico de lampiões e marias-bonitas. Durante o seu início, o filme
mantém uma densa bruma sobre sua narrativa impedindo os espectadores de
enxergarem nitidamente a história que desejar contar. Contudo, conforme vai
desenrolando os acontecimentos, somando suas causalidades e apresentando suas
cartas escondidas, o filme consegue entregar de forma recompensadora uma
divertida (e importante!) aventura.
‘Bacurau’ é uma obra a
ser aproveitada na sala de cinema. Os encadeamentos e desdobramentos de sua
história fazem com que o filme consiga ser apreciado por todos. Talvez, seja o
filme com o maior potencial de alcance e diálogo dos últimos anos; saindo da
bolha-cinéfila-brasileira e atingido o grande público. O roteiro consegue apresentar
suas críticas sobre vira-latismo cultural, política e história através de uma intrínseca
narrativa que mantêm o fôlego do começo ao fim. Se nada disso conseguir convencer
você, caro leitor, pense que essa será a sua única oportunidade de assistir a Sônia
Braga contracenando com o Udo Kier! Imperdível, certo?
Trailer:
Escrito por Pedro Alves
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