[News] “Diário do farol – Uma peça sobre a maldade” estreia dia 29 de agosto no Sesc Copacabana

RIO DE JANEIRO - Um homem capaz de dissimular, matar e torturar, entre outras vilanias. E que consegue ainda ver beleza nos atos por ele praticados. Esse homem pode estar em qualquer lugar. Sentado ao nosso lado no transporte público ou mesmo ocupando um cargo de liderança. Ou mesmo isolado numa ilha. Como é o caso do personagem-narrador de “O diário do farol”, romance lançado pelo imortal João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) em 2002. A encenação, contemplada com patrocínio do Sesc Cultural, poderá ser assistida no Mezanino do Sesc Copacabana, em temporada que vai do dia 29 de agosto a 22 de setembro.

E esse homem sai agora da literatura para o palco. Mais exatamente para um monólogo,  idealizado por Domingos Oliveira (1936-2019). O saudoso diretor confiou sua ideia ao amigo e colega Fernando Philbert, que traz à luz “Diário do farol – Uma peça sobre a maldade”. O famigerado personagem é interpretado pelo premiado ator Thelmo Fernandes, responsável juntamente com Philbert pela adaptação do texto, que vem a ser o primeiro solo do ator.

Trata-se de uma peça sobre a maldade. Essa foi a frase usada por Domingos Oliveira quando apresentou o projeto a Fernando Philbert, diretor de montagens elogiadas como a premiadíssima “O escândalo Philippe Dussaert”, com Marcos Caruso, e “De todas as coisas maravilhosas”, com Kiko Mascarenhas, indicado ao Shell nas categorias Ator e Direção. O ano era 2014, mas a ligação de Domingos com a ideia vinha de muito antes. O personagem criado por Ubaldo tem na sua gênese características que remetem ao teatro. Mais exatamente, às tragédias, sejam as da Grécia Antiga ou, séculos mais tarde, às de Shakespeare. Natural que essa trama ganhasse, cedo ou tarde, uma adaptação teatral – como já ocorreu em 2011. Mas a ideia de fazer dessa história um monólogo, fato até então inédito, foi de Domingos. E a tal frase veio bem a calhar como complemento ao título da montagem.

Philbert mostrou, então, o projeto a Thelmo Fernandes, não por acaso um dos atores mais talentosos da sua geração. Prova disso são os prêmios ganhos (APTR e Qualidade Brasil, em 2007; Fita, em 2012 e 2016) e as 14 indicações recebidas numa carreira que já soma 26 anos. Ele, que já viveu papéis reais (Vinicius de Moraes e Carlos Imperial, entre outros) e icônicos (caso do Creonte de “Gota d’água”, musical de Chico Buarque e Paulo Pontes) viu no personagem a oportunidade de fazer algo diferente de tudo o que já fizera.

O público entra na sala e já encontra o ator em cena. Ele pede a um espectador que abra a garrafa d’água que beberá ao longo da narrativa. “Não se deve confiar em ninguém”, alerta ele como se agradecesse o favor. Não há quarta parede entre público e intérprete. Esse personagem, desprovido de um nome, pode estar na ilha onde é faroleiro ou em qualquer outro lugar. “O que vou contar agora é honesto e verdadeiro. Sou capaz de matar. Já matei”, inicia assim o seu relato.

Duas são as motivações que o levam a contar sua história. Uma delas é a vaidade, origem, segundo ele próprio, de todos os outros pecados. E o personagem tem muito a relatar. Da relação com o pai, pautada pela total falta de afeto, passando pelo seminário, onde presta favores sexuais em troca de privilégios, culminando no trabalho de informante do Dops, a temida polícia do governo militar.

Um homem assim foi capaz de amar. A prática do celibato nunca foi por ele seguida, como ele próprio frisa. E teve na figura de Maria Helena seu grande amor. E isso em nada irá redimi-la.  Aquele que foi seu amante acaba por tornar-se seu algoz.

Um homem que transita pela obscuridade. E essa relação claro-escuro faz-se presente no jogo cênico, que usa de elementos como sombras e fachos. Ondas de rádio e falas gravadas do próprio ator contribuem para que o público conheça melhor esse personagem e sua história. Um homem cuja sordidez desconhece limites ou pudores. Um homem que pode estar bem perto de qualquer um de nós.

Ficha técnica:

Diário do farol – Uma peça sobre a maldade

Da obra de João Ubaldo Ribeiro

Idealização e inspiração: Domingos Oliveira

Direção: Fernando Philbert

Interpretação: Thelmo Fernandes

Cenografia e figurino: Natália Lana

Iluminação: Vilmar Olos

Fotografia e audiovisual: Rafael Blasi

Assessoria de imprensa: Christovam de Chevalier

Direção de produção: Ana Paula Abreu e Renata Blasi

Realização: Diálogo da Arte Produções Culturais e

Serviço:

Temporada: de 29 de agosto a 22 de setembro

Dias e horários: de quinta a domingo, às 20h

Local: Mezanino do Sesc Copacabana (R. Domingos Ferreira, 160, Copacabana. Tels 2547-0156. A bilheteria funciona das 9h às 20h, de terça a sexta, e das 12h às 20h, nos finais de semana)

Valor do Ingresso: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia ou ingresso solidário, a quem levar 1kg de alimento para o projeto Mesa Brasil, do Sesc RJ) e R$ 7,50 (associados Sesc)

Duração: 70 minutos

Classificação: 16 anos


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