O quê eu achei?
"Meus amigos, lembrai-vos sempre de que não há ervas daninhas nem homens maus: - há, sim, maus cultivadores" (Victor Hugo, Les Misérables)
Essa frase aparece no final do filme e faz parte do livro original, e nunca foi tão atual, nem poderia resumir tão verdadeiramente o filme. Inspirado nas manifestações que ocorreram em 2005 em Paris, o filme tem como base o curta-metragem homônimo do mesmo diretor, Ladj Ly e mostra as tentativas francesas da tolerância das diferenças e convivência com a multiculturalidade.
No início do filme, vemos todos os grupos unidos em torno de um jogo de futebol, mas logo percebemos que essa suposta tolerância se divide em várias direções: negros e brancos, crianças e adultos, africanos, gauleses, ciganos, muçulmanos, cada um liderando um bairro ou um prédio. Quando ocorre um problema, a polícia se dirige ao chefe da facção para a solução. Do outro lado, vemos o novato Stephane, que funciona como o espectador, está sempre entre as duas partes envolvidas, com a esperança de ainda haver coerência, boa vontade, consciência, objetividade, humanidade, mas contraposto pelos companheiros Chris e Gwanda, policiais mas também produtos do meio onde já convivem há mais de 10 anos.
A lei e a ordem, o crime e a desordem urbana como personagens contrários mas que se misturam durante todo o filme, tendo a câmera como o personagem que filma de dentro do conflito, dando uma visão visceral, violento, crua dos acontecimentos. O som e a imagem são realistas e transmitem com maestria os sentimentos, os conflitos e são dinâmicos, fazendo com que o espectador quase que participe da cena. Destaque para as cenas com as crianças, quando um erro dos policiais é filmado por um drone, e a final, onde as posições ficam bem marcadas e resumem bem a mensagem de "Os Miseráveis".
Candidato ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, " Os Miseráveis " de Ladj Ly coloca em nossas mãos a responsabilidade de pensar sobre liberdade, igualdade e fraternidade. Sobre humanidade, compaixão, medo, sobrevivência, numa receita que tem tudo para dar errado, mas que tem e, Stephane a esperança de funcionar e permitir uma convivência mais pacífica.
Assista!
Por Paula Ramagem
Trailer
parabéns pela crítica. Ótimo filme!!
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