[Crítica] O Rei Nu
Sinopse:
1979, revolução no Irã. 1980, revolução na Polônia. A queda do xá, o rei dos reis, no Irã. Greves gerais e o movimento Solidarnosc na Polônia. O que passou pelas mentes daqueles garotos e garotas naqueles momentos? E o que aconteceu com eles quando as revoluções passaram ou, no caso iraniano, depois que uma elite religiosa e autoritária chegou ao poder?
O quê eu achei?
O cineasta suíço Andreas Hoessli faz um retrato sobre revolução através dos olhos de quem viveu conflitos tão diferentes como a revolução que depôs o xá e a fundação da federação sindical polonês Solidarność (Solidariedade.
Focando mais nas pessoas comuns ao invés das personalidades que enchem os livros de Historia, os revolucionários que acreditavam que uma mudança utópica estava vindo-Hoessli constrói uma ponte entre o passado ao qual ele próprio testemunhou e um presente que é difícil de descrever,
Tudo começou em 1978, o ano em que o diretor viajou para a Polônia para estudar, para fazer pós-graduação e lá ele conheceu Ryszard Kapucinski, que trabalhava como repórter no Irã na época e acabou se tornando o protagonista do documentário de certa forma.
Quarenta anos após todos aqueles problemas, protestos e indignações que marcaram esses dois países, embora tão geograficamente distantes um do outro, essa produção, que começa parecendo um filme de espionagem, começa a desbravar os resquícios e consequências daquela época.Por meio de entrevistas com quem viveu este período e que pode dar forma humana às angústias sentidas na época, bem como com quem ainda não tinha nascido, mas que sente que essa angústia está entranhada em seu próprio ser, Hoessli cava profundamente na tentativa de encontrar a verdade comum de um momento inesquecível em nossa história humana. Ao entrelaçar imagens de arquivo - que, seguindo os padrões atuais, têm algo de irreal (no Irã, hordas de pessoas vestidas de ocidentais, participando de comícios animados) -, memórias que tentam transmitir o espírito indomável que animou tantas pessoas e depoimentos de quem sofreu as consequências dos acontecimentos, o diretor (re) constrói uma linha do tempo histórica a partir de sentimentos e percepções individuais.
O que se passava na cabeça desses numerosos jovens, homens e mulheres, que se envolveram nessas revoluções que varreram a Polônia e o Irã? Mas o mais importante, o que aconteceu com eles depois que a revolução foi extinta (como foi o caso na Polônia), ou quando as autoridades religiosas assumiram as rédeas do poder (como no Irã)? Devemos encarar isso como uma derrota ou devemos nos concentrar nas consequências positivas que a revolução teve para as gerações futuras?
Hoessli tenta responder a essas perguntas baseando-se em sua própria perspectiva pessoal - as experiências que viveu e as consequências que testemunha hoje. Ao focar nos indivíduos, o diretor dá voz àqueles que agora se acostumaram demais ao silêncio; um silêncio que esconde pistas que estão muito presentes e que apontam para um passado ainda muito vivo.
Narrado em inglês por Sam Riley e na dublagem alemã pelo grande Bruno Ganz,``O Rei Nu`` demonstra como as revoluções podem se transformar de um sonho para pesadelo se perdermos o controle. Embora não seja citado em nenhum momento, é fácil para nós, brasileiros, se lembrar dos protestos de 2013 que começaram com insatisfação do povo pelo aumento de 20 centavos da tarifa e cresceu para algo com um significado muito mais profundo.
“Podemos ser críticos a uma revolução e mesmo assim continuar fiéis a ela?”. Masoumeh Ebtekar, atual vice-presidente do ministério da família e da mulher no Irã, fala durante uma cena. O filme não dá respostas para como proceder após o final de uma revolução mas nos convida a refletir de porque elas podem começar tão forte mas arrefecer ao terem seus ideais suprimidos ou distorcidos.
Trailer:
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