[Crítica] Para Onde Voam as Feiticeiras
Festival "9° Olhar de Cinema"
Título: Para Onde Voam as Feiticeiras.
Direção: Carla Caffé, Eliane Caffé e Beto Amaral
País: Brasil
Idioma: Português
Sinopse: Para Onde Voam as Feiticeiras acompanha um grupo de performers LGBTQIA+ em intervenções artísticas no centro de São Paulo. Suas ações são disparadores de debates sobre desigualdades sociais, preconceitos e vidas marginalizadas, permeados pelas lutas dos movimentos negro, indígena e de ocupações urbanas.
Ontem se iniciou o Festival Internacional de Curitiba, o 9° Olhar de Cinema, dessa vez em formato virtual, se adaptando as consequências da Covid-19. Durante a abertura, os organizadores falaram das dificuldades e escolhas a serem feitas nessa adaptação, como a diminuição no número de filmes participantes, no ideal de manter o festival que tem tanta importância, quase como uma bandeira ao desmonte do Cinema Nacional.
O filme escolhido para abertura foi "Para Onde Voam as Feiticeiras", em um formato documental, acompanhamos um grupo de performers intervindo artísticamente na cidade de São Paulo. Levantando a bandeira LGBTQIA+, somos convidados a uma constante desconstrução enquanto acompanhamos o debate entre os próprios membros do grupo e também de transeuntes que passavam pelo local.
Esse debate tem uma finalidade importantíssima, mostrar que as lutas entre minorias deve se aliar, que uma luta não diminui a outra e que juntas elas se dão força, mas sempre se respeitando os lugares próprios de fala. São vários momentos que esses embates de visões diferentes aparecem e reforçam a transparência e propriedade das falas dos protagonistas.
Fica explicito como essas pessoas transformaram sua luta em orgulho, que construiram sua estima em cima de muita dor e vivência, mas ainda dispostos a se abrir para uma interação tão grande com todos os tipos de pessoas, muitos apoiadores das causas ali faladas, e também muitos contra, com atitudes transfóbicas e homofóbicas principalmente. É admirável ver esse debate se transformando em arte, em rimas e expressões.
Existe dois momentos bastante emocionantes e distintos, um para a luta indígena e outro para a luta negra, onde material documental é acrescentado ao filme, com discursos fortes e cenas que mostram o tamanho da ferida aberta que é o preconceito que mata. A luta trans e travesti também é muito forte na narrativa, e o foco no respeito aos diferentes corpos, contra o discurso de homogeneização de gênero, como se todos os corpos tivessem que se encaixar em um gênero ou uma forma, existe até um embate que mexe profundamente com o expectador, pois aqueles que sentem empatia pela dor LGBTQIA+ sabem dos perigos em um país que mais mata homossexuais, bis e pricipalmente trans e travestis.
A edição é dinâmica e conversa bem com as intervenções, com cenas de momentos de preparação e da produção, que funcionam muito bem nos mostrando a construção desse gigantesco debate.
Temos aqui um filme de pessoas marginalizadas enfim assumindo o controle de suas narrativas, de seus discursos e nos convidando sem dedos para rever preconceitos e protagonismos.
"Nós ainda podemos estar em aliança e podemos continuar lutando em reconhecer uns aos outros mais inteiramente, isso é uma tarefa contínua, parte da luta que nunca termina".
Texto por Yasmin de Carvalho
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