[News] Vivências de mulheres do interior baiano inspiram espetáculo Sertão Sem Fim, que estreia no Teatro Sérgio Cardoso
Figura
1. Cena de Sertão Sem Fim - Foto de Keiny Andrade
O espetáculo presencial acontece
no Teatro Sérgio Cardoso em conformidade com todas normas de segurança
no enfrentamento da COVID-19, incluindo indicações de distanciamento
social, totem de álcool em gel e tapete sanitizante dispostos na entrada
do teatro
A montagem se afasta do regionalismo e
aproxima questões do sertão nordestino ao corpo de uma mulher que luta
diariamente por sua dignidade enquanto enfrenta inúmeras injustiças e
dificuldades
Em 2018, a atriz Tertulina Alves retornou à Macaúbas, município
localizado no interior da Bahia onde passou parte de sua infância, para
dialogar com mulheres que vivem na região e experimentam de diferentes
formas as condições do sertão nordestino. Os relatos foram unidos à
história da própria Tertulina e se transformaram na peça Sertão Sem Fim,
que estreia dia 5 de fevereiro, sexta-feira, 19h, no Teatro Sérgio
Cardoso. A dramaturgia é de Rudinei Borges dos Santos e a direção é de
Donizeti Mazonas.
Na peça, Tertulina interpreta Bastia, personagem que traz em seu corpo essas diferentes formas de se viver o sertão. As mulheres mais presentes na construção da personagem são a avó de Tertulina, Maria Tertulina, que nasceu no sertão Bahia, na região de Três Outeiros de Macaúbas e migrou para São Paulo, encontrada recém-nascida em um cesto de palha num curral; Maria Izabel, moradora da comunidade de Três Outeiros de Macaúbas e conhecida até hoje, com mais de 80 anos, como a Rainha das Cavalgadas; e da própria Tertulina Alves, cuja infância no sertão foi marcada por um período de forte seca.
“Por sua vitalidade, força e imagem mítica - uma verdadeira Iansã - a Dona
Izabel - a rainha da cavalgada, como é conhecida na região - se tornou para mim
uma referência para a construção de ‘Bastia’, personagem central de Sertão Sem
Fim”. Tertulina Alves
A história de Bastia é marcada por uma imensa tragédia pessoal: seu marido, o vaqueiro Dão Sálvio, foi covardemente assassinado por fazendeiros da região. O motivo da morte de Dão Sálvio era a prosperidade do casal, que trabalhou duramente durante o período de estiagem e conseguiu adquirir um rebanho de sessenta cabeças de gado. Montada em um cavalo, ela percorre a cidade com o corpo morto do marido, em busca de justiça.
“No Sudeste ainda há um imaginário sobre o sertão que o remete quase sempre a seca. Em Sertão Sem Fim buscamos pensar em outras possibilidades de se retratar esse espaço. A Maria Izabel, por exemplo, é uma mulher que foi arrimo de família desde os 10 anos, tendo de trabalhar longe de casa, em espaços onde chovia com mais frequência, para que pudesse trazer sustento para a família”, conta a atriz.
Tertulina teve ainda outras conversas marcantes com mulheres de idades e relações distintas com o espaço – incluindo uma jovem de 25 anos que deixou a cidade e mulheres de 45, 75 e 100 anos, sendo essa última a responsável por contar à Tertulina histórias sobre a sua avó, que a atriz perdeu quando era criança.
Os relatos foram transferidos para Rudinei, dramaturgo e poeta ficcionista que assina a dramaturgia do espetáculo. “As narrativas, os trajetos e a história oral de mulheres sertanejas que eu sequer conhecia foram um convite sobretudo ao exercício da escuta e da empatia. O que eu tinha em mãos era o registro de áudios, uma voz miúda, quase ao longe, que me contava uma trajetória de luta na terra e pela terra, fragmentos de memórias que testemunhavam a desigualdade social e as injustiças do Brasil profundo”, diz Rudinei.
SOBRE A MONTAGEM
O corpo tem um lugar fundamental no processo de criação de Sertão Sem Fim. Donizeti Mazonas, artista com ampla experiência em dança e teatro, foi convidado para assumir a direção da peça e sugeriu, desde o início, propostas que não caíssem em regionalismos ou visões estereotipadas sobre o Nordeste e o sertão.
“Nossa questão foi olhar para o universo dessa mulher, nas suas questões que incluíam a falta de chuva, as desigualdades, a dificuldade de construir seu espaço no mundo e as injustiças”, diz Donizeti, complementando que a peça traz o sertão pra dentro da personagem, como se ele fosse também seu corpo. “O texto vem de um espectro de narrativa muito poética, o que ajudou a pensarmos na Bastia como o próprio sertão, sendo ela uma tradução da chuva, da aridez e da natureza”.
A peça teve o espaço cênico pensado pelo artista plástico Eliseu Weide e, com poucos objetos a vista, tem a síntese como premissa. “Os elementos são bastante sintéticos para se dar a vastidão e a multiplicidade do que pode ser o sertão”, explica Donizeti Mazonas.
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Voltar aos sertões é voltar à aridez da vida, mas é reencontrar
flor onde há cacto – Rudinei Borges dos Santos
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O dramaturgo Rudinei Borges dos Santos conta também sobre outros aspectos que o apoiaram na criação do texto: “Passei dias ouvindo aquelas vozes, labutando para amalgamar os relatos de Tertulina e daquelas matriarcas tão parecidas com a minha mãe e a minha bisavó Eva e, talvez, tão parecidas comigo. Algo aconteceu quando comecei a ouvir os áudios ao mesmo tempo em que contemplava minuciosamente as fotografias de Araquém Alcântara, o maior fotógrafo deste país. É de causar emoção a delicadeza com que Araquém fotografa cada marca no rosto da gente sertaneja. Ali, naquele encontro entre palavra e imagem, nasceu Sertão Sem Fim, uma composição ficcional inspirada na vida e na residência de pessoas esquecidas num Brasil em frangalhos”.
Para Tertulina, a peça também estabelece um ponto de empatia com o público ao expor na cena a história de uma mulher que vai atrás de justiça. “Essa mulher passou anos construindo uma história com inúmeras dificuldades e esse algo foi ceifado. Esse corte injusto na sua vida por ser lido como as inúmeras dificuldades que nós temos enfrentado no Brasil de hoje”, ressalta.
SINOPSE
Sertão Sem Fim faz o cruzamento da história de três mulheres da comunidade de Três Outeiros de Macaúbas (BA): Maria Tertulina, Tertulina Alves (sua neta) e Maria Izabel, moradora daquela comunidade, conhecida na região como a rainha das cavalgadas. Desse cruzamento nasce a narrativa mito-poética sobre Sebastiana (Bastia).
FICHA TÉCNICA
Idealização, Pesquisa e Interpretação: Tertulina Alves
Dramaturgia: Rudinei Borges dos Santos
Direção: Donizeti Mazonas
Cenografia e Figurino: Eliseu Weide
Desenho de Luz e operação: Hernandes de Oliveira
Designer Gráfico: Hernandes de Oliveria
Música: Gregory Slivar
Operação de som: Viviane Barbosa
Fotos: Keiny Andrade
Produção Executiva: MoviCena Produções (Jota Rafaelli)
Assistente de Produção: Leandro Dias
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto
Mídias sociais: Agência CLOCKWORK
Costureira: Benê Calistro
Artesã: Cida Souza
SERVIÇO
SERTÃO SEM FIM
De 5 a 22 de fevereiro de 2021
Segundas, terças, quartas, quintas e sextas-feiras, 19h
Ingressos*: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
* Toda a verba arrecadada será doada para a ONG Casa de Isabel
Teatro Sérgio Cardoso - Sala Paschoal Carlos Magno
Capacidade reduzida: Até 50 espectadores.
Duração: 60 min. | Classificação: Livre
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