[News]"For The Culture", uma biografia do álbum de Alborosie

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“FOR THE CULTURE”, UMA BIOGRAFIA DO ÁLBUM DE ALBOROSIE

 por Yasmine Peru

 

 

Quando Alborosie anuncia que ele faz isso pela cultura, acredite. Sua missão enquanto defensor da cultura e das raízes do reggae sempre esteve claramente definida e sua intenção de amplificar o som dos justos no sistema nunca foi segredo. E, para provar mais uma vez que isso não é blablablá, no álbum “For the Culture”, disponível hoje em todas as plataformas digitais, esse Rastafari ítalo-jamaicano pesquisador musical e especialista em dub assume imediatamente um papel com um quê de historiador, um quê de pregador e muita criatividade enquanto exibe sua engenhosidade lírica versando sobre as provações dos nossos tempos, e coisas mais sublimes.

 

 

Créditos da Imagem: Divulgação

 

Seu último álbum é ao mesmo tempo uma declaração ousada e uma ordem com autoridade – e sem rodeios – ele está rugindo alto pela cultura. Desde prestando tributo a sua terra adotiva, com saudações ao Ministro da Cultura jamaicano Babsy (Olivia Grange) e a Brogad (o Primeiro Ministro Andrew Holness), até colaborando com artistas seminais como Wailing Souls, revisitando seu hit de 1978 “(Jah Give Us) Life To Live”. O trabalho foi inteiramente gravado, produzido e mixado por Alborosie usando aparelhagem analógica vintage, sirenes de dub, gravador de rolo, e uma orquestração ao vivo feita por Alborosie e pelos ícones do reggae Roots Radics, culminando numa mistura poderosa.

Através das 14 músicas de "For the Culture", Alborosie espalha letras pujantes e pra cima, e um sabor distintivo de roots rock reggae que se conecta perfeitamente a sons extraterrestres que remetem aos mestres originais do roots e do dub. Alborosie conhece muito bem seu ofício e ao longo dessa experiência auditiva, riddims que fazem a cabeça balançar e batidas pesadas dão o tom, com camadas de instrumentos convergindo brilhantemente, evocando respostas cruas, emocionais.

 

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É uma boa ideia ter seus isqueiros a postos ao ouvir o single de mesmo nome do álbum, pois “Pupa Albo” junta euforia e utopia ao assumidamente “tacar fogo” pela cultura, apoiado num compasso sem pressa, grave e pesado. Faz tempo que Alborosie aperfeiçoa sua habilidade de contar histórias e, expert que é, em “For the Culture” ele lança uma pérola com letras carregadas e caracteristicamente próprias dele, enquanto mantém a qualidade didática que sempre apresenta. Em três minutos e cinco segundos, esse ítalo-jamaicano retraça sua história e a História, fazendo referência à chegada no século XV do conquistador italiano Cristóvão Colombo à Jamaica - “I’m Italian but I’m not Columbus, and me no tell no lie to Bongo…” (Sou italiano mas não sou Colombo, não vou mentir pra preto…) - até 2021 - “The culture full a vibes, we ever party ‘til the morning come, we all a party inna full lockdown…” (A cultura é a maior vibe, sempre tem festa até de manhã, todos fazendo festa em pleno lockdown). E se restava alguma dúvida, Alborosie explana ainda mais seu amor pela Jamaica, “…cause this yah culture make me give up all me papers, and now me passport cover seh Jamaica, To how mi love the culture all mi hear a congo, and now mi say wha’ gwaan instead of  buongiorno” (...essa cultura me fez largar meus documentos, agora na capa do meu passaporte diz Jamaica, do jeito que eu amo essa cultura, eu só escuto as congas, e agora eu digo “wha’ gwaan” em vez de “buongiorno”).

Confiante o bastante para dividir os holofotes, Alborosie convidou o artista de reggae vindo das Bermudas Collie Buddz para colaborar em “Ginal” - em vocabulário jamaicano, um trapaceiro, 171. Magistralmente conduzida pela orquestração, com um toque de eco e efeitos de delay, Ginal explora os temas da ganância e da trapaça, com uma mensagem subjacente: abra seus olhos e aprenda em quem confiar. Os dois passeiam tranquilamente pela faixa, e tacam fogo na “bare ginalship and screw faces at school, at work and in public places” (pura trairagem e cara feia, na escola, no trabalho e no espaço público). Alborosie evidencia um tópico com o qual é fácil se identificar quando dispensa a presença deles: “We don’t want dem deh ‘bout ya” (A gente não quer eles às voltas).

A combinação de Alborosie e Jo Mersa Marley na faixa “Ready” mostra o poderoso duo sobre um alegre e animado riddim de dub, metralhando rima atrás de rima, formando imagens coloridas e jogos de palavras contendo uma mensagem irresistível. Fiéis às regras do jogo, sua mensagem alimenta o cérebro: “We a Rasta and we nah beg nuh favor, no mix up Jehovah with pagan, we under the regime of  the Savior, we a punish who no have no behavior.” (Somos Rastas e não imploramos favores, não misturamos Jehovah e pagão, estamos sob o regime do Salvador, punimos os que não se comportam).

Alborosie vai ainda mais fundo na cultura jamaicana com “Challawah”, (ou Chalice, o cachimbo/bong tradicional jamaicano), palavra que rima agradavelmente com “[we lickle but we] tallawah” (somos pequenos mas somos tinhosos), naquela inigualável visão de mundo que fala do destemor de um povo que não deve ser subestimado. Um momento marcante é quando Alborosie surfa no riddim, com eco e tudo, e manda o refrão, “Challawah, tell dem we little but we tallawah, follow me cause we a nuh follower, a so we do it.” (Challawah, diga a eles que somos pequenos mas somos tinhosos, siga-me porque não somos seguidores, e é assim que fazemos.)

 

 

Créditos da Imagem: Divulgação

 

Refletindo sobre os acontecimentos mundiais recentes, a sóbria e reflexiva “Unprecedented Time” enfeitiça com seu clima de presságio e sua letra que começa por “…how are you coping with the covid?” (Como vocês estão lidando com a Covid?). Alborosie sugere “maybe the earth a tell we something” (talvez a Terra esteja nos dizendo algo) mas injeta mais melancolia e esperança com “you see the shape of my head from the windowpane, maybe one day I will touch your hand like I used to do… in this yah unprecedented time, you gotta be strong in your mind” (você vê o formato da minha cabeça pelo vidro da janela, talvez um dia eu volte a tocar sua mão como eu costumava fazer… nesses tempos sem precedentes, você tem que ter a mente forte”. 

Começando com uma versão deliberadamente desafinada do hino nacional norte-americano, “Listen to the Waves” é um comentário sobre justiça social e brutalidade policial. Essa música saiu ano passado no ápice da comoção social e dos protestos internacionais iniciados devido ao assassinato de George Floyd em Minnesota. O cantor optou por um groove suave e tranquilo para contar sua história. “Calm down, listen to the waves, relax and puff some grade, Officer sir, remove your shades, justice served, change your ways” (Acalme-se, escute as ondas, relaxe e fume um do bom, senhor policial, retire seus óculos escuros, justiça seja feita, mude seus modos).

Seguindo a tradição clássica do reggae, Alborosie traz raiz e realidade em músicas como “Out Of The Darkness” e "Walking'', cujas letras oferecem conforto e sabedoria a um povo tentando seguir em frente. Enquanto “Break My  Chains” e “The System” demonstram uma sensibilidade pop com polidez e profundidade, e fluem tão naturais e convincentes quanto as faixas roots pelas quais ele costuma ser celebrado. Ao longo do álbum, as letras evocam as emoções e frustrações pelas quais tantos passaram durante a pandemia global, em um ano realmente tumultuado. Cada faixa fala ao presente enquanto aponta para uma visão singular do futuro musical.

Alborosie, que em 2011 fez história ao ser o primeiro artista a ganhar o prêmio inglês M.O.B.O. (Music of Black Origin - Música de Origem Preta) na categoria de Melhor Artista de Reggae, cresceu em estatura e propósito. Como artista e produtor, e enquanto voz em prol de mudanças. Enquanto gravava esse álbum em 2020, Alborosie escreveu e produziu “Shadows After Dark”, uma música que contribuiu para a campanha do governo jamaicano “Stop Human Trafficking” (pelo fim do tráfico humano), para ajudar a conscientizar sobre o flagelo dos mais vulneráveis da sociedade e nosso dever de proteger os inocentes. A faixa contou com a participação dos maiores cantores da Jamaica e inspirou conversações significativas e esforços organizados em torno da questão na Jamaica, nos meses seguintes ao seu lançamento. Em sua música, assim como em sua vida, Alborosie mantém o compromisso de usar seus dons para servir ao povo e à cultura.

 

 

Créditos da Imagem: Divulgação

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PR/WMB 

 

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