É uma boa ideia ter seus isqueiros a postos ao ouvir o single de mesmo nome do álbum, pois “Pupa Albo” junta euforia e utopia ao assumidamente “tacar fogo” pela cultura, apoiado num compasso sem
pressa, grave e pesado. Faz tempo que Alborosie aperfeiçoa sua habilidade de contar histórias e, expert que é, em “For the Culture” ele lança uma pérola com letras carregadas e caracteristicamente próprias dele, enquanto mantém a qualidade didática que sempre
apresenta. Em três minutos e cinco segundos, esse ítalo-jamaicano retraça sua história e a História, fazendo referência à chegada no século XV do conquistador italiano Cristóvão Colombo à Jamaica - “I’m Italian but I’m not Columbus, and me no tell no lie to
Bongo…” (Sou italiano mas não sou Colombo, não vou mentir pra preto…) - até 2021 - “The culture full a vibes, we ever party ‘til the morning come, we all a party inna full lockdown…” (A cultura é a maior vibe, sempre tem festa até de manhã, todos fazendo festa
em pleno lockdown). E se restava alguma dúvida, Alborosie explana ainda mais seu amor pela Jamaica, “…cause this yah culture make me give up all me papers, and now me passport cover seh Jamaica, To how mi love the culture all mi hear a congo, and now mi say
wha’ gwaan instead of buongiorno” (...essa cultura me fez largar meus documentos, agora na capa do meu passaporte diz Jamaica, do jeito que eu amo essa cultura, eu só escuto as congas, e agora eu digo “wha’ gwaan” em vez de “buongiorno”).
Confiante o bastante para dividir os holofotes, Alborosie convidou o artista de reggae vindo das Bermudas Collie Buddz para colaborar em “Ginal” - em vocabulário jamaicano, um trapaceiro, 171. Magistralmente
conduzida pela orquestração, com um toque de eco e efeitos de delay, Ginal explora os temas da ganância e da trapaça, com uma mensagem subjacente: abra seus olhos e aprenda em quem confiar. Os dois passeiam tranquilamente pela faixa, e tacam fogo na “bare
ginalship and screw faces at school, at work and in public places” (pura trairagem e cara feia, na escola, no trabalho e no espaço público). Alborosie evidencia um tópico com o qual é fácil se identificar quando dispensa a presença deles: “We don’t want dem
deh ‘bout ya” (A gente não quer eles às voltas).
A combinação de Alborosie e Jo Mersa Marley na faixa “Ready” mostra o poderoso duo sobre um alegre e animado riddim de dub, metralhando rima atrás de rima, formando imagens coloridas e jogos de
palavras contendo uma mensagem irresistível. Fiéis às regras do jogo, sua mensagem alimenta o cérebro: “We a Rasta and we nah beg nuh favor, no mix up Jehovah with pagan, we under the regime of the Savior, we a punish who no have no behavior.” (Somos Rastas
e não imploramos favores, não misturamos Jehovah e pagão, estamos sob o regime do Salvador, punimos os que não se comportam).
Alborosie vai ainda mais fundo na cultura jamaicana com “Challawah”, (ou Chalice, o cachimbo/bong tradicional jamaicano), palavra que rima agradavelmente com “[we lickle but we] tallawah” (somos pequenos mas somos tinhosos), naquela inigualável visão de mundo
que fala do destemor de um povo que não deve ser subestimado. Um momento marcante é quando Alborosie surfa no riddim, com eco e tudo, e manda o refrão, “Challawah, tell dem we little but we tallawah, follow me cause we a nuh follower, a so we do it.” (Challawah,
diga a eles que somos pequenos mas somos tinhosos, siga-me porque não somos seguidores, e é assim que fazemos.)
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