Exposição "Enredados" de Duda Oliveira traz arte experimental em forma de manifesto ambiental
Artista plástica e advogada ambiental mistura arte e meio ambiente para mostrar que é possível transformar descarte indevido em obras vivas.
Qual o potencial da artista Duda Oliveira? Umas das respostas mais óbvias está na forma como mistura arte e meio ambiente, nas esculturas que se utilizam de sucatas e traduzem o envolvimento das pessoas com as diversas redes sociais, e na sustentabilidade pulsante das telas de lona mergulhadas nas águas da Baía de Guanabara, repletas de fortes coloridos inéditos em suas pinturas. O resultado dessa epifania está na exposição "Enredados", no Centro Cultural Correios RJ, que tem por objetivo questionar ações e exigir mudanças de comportamento, mexendo com as emoções dos visitantes, até o dia 04 de dezembro.
Na mesma época em que se realiza a COP 26 (26ª Conferência das Partes), para discussão do combate às mudanças climáticas, a partir de ações conjuntas entre os países, Duda Oliveira contribui, em "Enredados" , com um processo de arte experimental, como forma de protesto, utilizando tecidos mergulhados nas águas repletas de detritos da Baía de Guanabara, metal naval, vergalhões e sucata, transmutando em obras vivas o que era apenas descarte indevido.
As obras criadas para essa exposição por Duda Oliveira, que também é ativista e advogada ambiental há 20 anos, constituem a "Ação Afirmativa para o Meio Ambiente", com pedido de agenda política de incentivo fiscal a quem maneja corretamente o descarte de lixo, como forma de conscientização e de articulação de uma gramática própria para fazer, desse ato, um manifesto ambiental.
“A escultura e pintura são a minha fuga, um momento em que fico ligada somente em mim. Mas ainda assim, eu consigo materializar a pesca. A minha principal obra é um pescador jogando a sua rede. A vida sempre me levou para esse lado, em todos seus extremos”, diz Duda. "Meus quadros possuem sempre marcas da ação do tempo, desgastes, arranhões... Minha linguagem na pintura está ligada à maneira que o tempo faz seu registro em tudo o que é vivo e resistente. As cores sempre vibram, como se pulsassem vida e quisessem transpor tempo e espaço, em um constante paradoxo de vida e morte, existir e possuir, buscas do eu existencial".
Método artístico e a arte ambiental
Inspirada nas crises ambientais que o mundo vem atravessando, Duda Oliveira desenvolveu um novo método de arte experimental, utilizando-se da técnica de fermentação da levedura, para interferir nos efeitos visuais dos seus trabalhos em tela.
A imersão dos tecidos na Baía de Guanabara, como ato simbólico de protesto ambiental, com a intenção inicial de fazer com que houvesse marcas de detritos e óleo nas telas, não ocorreu. Os tecidos saiam limpos, mesmo quando mergulhados em ambientes degradantes e poluídos. Ao aplicar óleo, manta asfáltica e coloração natural sobre alta temperatura nos mesmos tecidos, a experimentação da artista começou a reagir, sofrendo a ação de leveduras, num fenômeno químico de decomposição de detritos sedimentados nos tecidos, gerando formas inusitadas e alterando as colorações das telas.
O cruzamento da grafia visual e da reação química de matérias orgânicas aos elementos vivos que se encontravam na tela, imprimiram uma marca implacável do tempo e do espaço, dando a sensação de força e tensão visuais as arranhaduras e nódoas justapostas na tela.
A organização de ideias da artista, inspirada nos Parangolés de Hélio Oiticica, que fundou a “antiarte ambiental” juntamente com a formulação das “ordens de manifestações”, transformou os materiais contidos no seu espaço de vivência e de experiência diários, em outra ordem de coisas, com experimentações de mutação do corpo vivo e transmutação da arte em vida autônoma.
Nas esculturas, a artista reinventa o metal naval, cimento, vergalhões e a madeira inutilizada, em boa parte das obras. Partindo destes experimentos, Duda convida o público a refletir sobre a potência existencial de vida, transformação e esperança no caos.
Sobre a artista
Artista plástica contemporânea, niteroiense, Duda Oliveira estudou arte experimental na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, e História da Arte e da Arquitetura do Brasil, na PUC RJ. Desde 2018, vem participando de diversas exposições, com destaque para as Feiras Internacionais da Alemanha, Luxemburgo, em Salas Culturais em Portugal, nos Museus MASP, MAC Niterói e outros importantes espaços culturais do Brasil e do exterior.
A visão literária e poética da pesca levou a escultora a se aventurar no mundo da Arte e do Direito Ambiental. Filha de um pai pregoeiro de pesca e de mãe bordadeira, Duda Oliveira exerce o direito ambiental e sua produção artística sofre a influência de pensadores tradicionais e contemporâneos, pelas obras de Jorge Amado, e a arte da pesca na Baía de Guanabara. A proximidade da escultora com o universo da pesca trouxe um forte senso de crítica social e propósitos de defesa dos valores constituídos por esse grupo.
Há 20 anos ingressou na militância do Direito Ambiental, especializando-se em Sociologia Política, para empreender de forma participativa. Com a luta e o árduo trabalho na carreira de advogada, veio a necessidade de uma terapia alternativa. Foi assim que a arte entrou em sua vida.
Sobre a curadoria
Carlos Leal, editor de livros de arte, colecionador de fotografias e curador. Em 2002, fundou a Barléu Edições, voltada exclusivamente para a fotografia e para a arte contemporânea, onde editou cerca de 100 livros de arte, dentre eles Coleção Alberto Chateaubriand e Coleção MAM Internacional. Editou mais de 800 autores de literatura e interesse geral, dentre eles, Antonio Callado, Darcy Ribeiro, Mario Vargas Llosa e Wilson Martins. Depois de quase 10 anos morando entre Europa e Nova York, onde estudou na NYU, volta ao Rio, em 1991, e, em 1993, assume a direção da Editora Francisco Alves, tornando-se seu principal acionista. Começou sua carreira na Livraria Francisco Alves editora, em 1975, como assistente editorial. Foi editor da casa entre 1978 e 1981.
Serviço
Artista: Duda Oliveira
Curadoria: Carlos Leal
Abertura: 21/10 às 17h
Período: 21/10 a 04/12/2021
Dias e horários: Terça a sábados, das 12h às 19h
Local: Centro Cultural Correios Rio de Janeiro
Endereço: Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro – Rio de Janeiro
Assessoria de Imprensa: Paula Ramagem @_paula_r_soares
Gratuito
Censura Livre
Acessibilidade
Instagram: @dudaoliveiraartista
Apoio: Ventania Cultural, Centro Cultural Correios, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e Governo Federal.
Uso de máscaras e apresentação da carteira de vacinação são obrigatórios.
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