[News] Mostra de teatro Eventos Culturais – Teatrarias traz uma programação com oito espetáculos gratuitos no Teatro Stúdio Heleny Guariba
Foto – Carlene Cavalcanti |
Idealizado como um ponto de encontro entre gerações e gêneros teatrais, o projeto Eventos Culturais – Teatrarias, criado pela atriz Dulce Muniz, ocupa o Teatro Stúdio Heleny Guariba (Praça Roosevelt, 184, Consolação, São Paulo, SP) entre 18 e 28 de março de 2022. Além de ser a idealizadora da mostra, Dulce também assina curadoria ao lado do ator Leandro Lago e da atriz Flávia Arantes.
Para a mostra, foram convidados artistas e pensadores de diferentes trajetórias que vão apresentar suas obras e propor junto ao público rodas de conversa para falar sobre os problemas discutidos em cada trabalho. “Pensamos que com Eventos Culturais - Teatrarias estaremos de uma forma modesta, porém sincera, colaborando para que a vida e as relações entre as pessoas possam ser menos difíceis e sofridas”, diz Dulce. Os palestrantes são Valdemar Angerami, Maria Silvia Betti, Agenor Bevilacqua, Daniele Resera, Rosimeire de Almeida, Marco Ribeiro, Rogério Tarifa e Sandro Borelli.
A artista também reforça que o evento é uma celebração às artes, à cultura, ao ofício teatral, à amizade, ao afeto, ao amor, à vida e às diferenças. “Uma ode à resistência dos sonhos que alimentamos através do fazer artístico, apesar de todas as dificuldades e percalços”, enfatiza. Para Dulce, a mostra vem com uma proposta de exaltação à diversidade humana - unindo artistas de diferentes idades, gêneros, sexualidades - e também de protesto contra as vidas de brasileiros que foram perdidas nos dois últimos anos. "É um marco de repúdio à toda política que desconheceu a gravidade da pandemia e que não fez nada para que essas mortes fossem evitadas", conclui.
Para o Teatrarias, foram escolhidos oito espetáculos cujas temáticas objetivam valorizar as diferenças e promover a compreensão e a convivência entre todos e todas que vivem neste mundo, numa hora em que a intolerância, a perseguição e a xenofobia voltam a nos amedrontar e agredir, além, é claro, do impacto causado pela covid-19 em todo o mundo.
No encerramento (dia 28 de março, segunda-feira) haverá, após a apresentação, uma homenagem a vários profissionais reverenciados em suas áreas de atuação, dotados de notório saber e inegáveis méritos. São eles: Marcio Aurélio, diretor e professor; Pascoal da Conceição, ator, produtor e diretor de teatro; Doutor José Carlos Dias, advogado, ex-secretário da justiça do Estado de São Paulo e ex-Ministro da Justiça; Luiza Erundina de Souza, Assistente social, deputada federal e primeira prefeita da Cidade de São Paulo, pelo Partido dos Trabalhadores; a atriz, diretora, ícone do Teatro para crianças Ana Maria Amaral e Geralda Maria dos Santos, Chef do bar e restaurante La Barca e apoiadora cultural do Núcleo do 184.
A trajetória de Dulce Muniz
A atriz Dulce Muniz fez do teatro a sua luta. Nascida em São Joaquim da Barra/SP, teve os seus primeiros contatos com a literatura e as artes cênicas pelas experiências escolares e pela observação atenta àqueles que a cercavam, com seus gestos e manias.
Viveu o Golpe de 1964 ainda no interior, mas veio para São Paulo no ano de 1968 para estudar - ainda mais - sobre teatro e participar da oposição aos militares pela arte e militância: “É isso que me levou ao teatro: lutar contra a ditadura”, afirma Dulce. Quando chegou na capital de São Paulo, participou do curso de interpretação do Teatro de Arena e foi aluna de Heleny Guariba, desaparecida até hoje após ser presa pela ditadura em 1971. Junto do grupo formado no Arena, apresentou a peça Teatro-Jornal 1ª Edição, com direção de Augusto Boal.
Após passar por outros palcos e trabalhar também na televisão, Dulce inaugurou o Teatro Studio 184 no ano de 1997. Em 2013, o teatro localizado na Praça Roosevelt ganhou o nome de sua ex-professora, tornando-se o atual Teatro Studio Heleny Guariba, onde Dulce apresentava presencialmente, antes da pandemia, o espetáculo de sua autoria Trinta Anos esta Noite ou O Espelho Negativo.
Dulce Muniz passou pelo Teatro de Arena e pela PUC-SP. Como atriz, participou de espetáculos como Tambores na Noite, Antígona, Lua de Cetim e Iara Camarada e Amante. Como diretora, esteve nos projetos Enterrem meu coração na curva do rio, Caixa de Retratos, Dia de Brinquedo e outros. Foi indicada ao Prêmio Shell em 2003 na categoria Melhor Atriz pela performance em Antígona, de Sófocles, e ganhou diversos prêmios, entre eles o da Cooperativa Paulista de Teatro por sua contribuição e militância (2016)e o da Banda Redonda por sua trajetória. Recebeu também o título de Cidadã Paulistana por uma iniciativa da Vereadora Juliana Cardoso.
Sobre o Teatro Studio Heleny Guariba
O atual Teatro Studio Heleny Guariba foi assumido por Dulce Muniz em 1997. Antes, ele havia abrigado a Sala Sérgio Cardoso do lendário Cine Bijou, o Cineclube Oscarito e o Teatro de Câmara de São Paulo. Em março de 2013, a sede passou a se chamar Teatro Studio Heleny Guariba em homenagem à professora e diretora teatral Heleny Guariba, desaparecida em 1971 e assassinada barbaramente pela Ditadura Militar.
“A mudança do nome do teatro é natural. Fui aluna e amiga da Heleny – e agora luto para preservar sua memória e trazer à tona sua figura”, explica Dulce Muniz, atriz e diretora teatral responsável pelo teatro. Heleny Guariba era uma artista dedicada a pensar e a produzir um teatro político inovador em solo brasileiro. Em um período de estudos com o dramaturgo e diretor Roger Planchon, na França, entrou em contato com um projeto popular de teatro – que ela, ao regressar, procurou desenvolver e estimular em seu país. Dirigiu o Grupo Teatro da Cidade, em Santo André, e atuou com Augusto Boal no Teatro de Arena. Ao mesmo tempo, militava na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Presa e torturada em 1970, foi solta em abril de 1971 – para alguns meses depois, em julho, ser sequestrada por agentes da repressão e desaparecer.
A mudança de nome do teatro ocorreu em um momento de retomada da história de Heleny e de tantos outros militantes vitimados pela ditadura militar. Dulce Muniz foi uma das companheiras de Heleny Guariba a dar seu testemunho para a Comissão Estadual da Verdade. Em 2014, o espaço recebeu o título de Patrimônio Imaterial pelo Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico.
Aos poucos, Muniz vai cumprindo a tarefa – política e artística – a que se propôs. “Fazemos um tipo de teatro que quer falar das lutas mais recentes do povo brasileiro, o que abrange a resistência à Ditadura. É caminhando que se constrói”.
Programação
Salto 270 | Dulce Muniz
Dia 18 de março, sexta-feira, 20h
60 minutos | Classificação indicativa: 12 anos
Sinopse: Inspirado em um acontecimento real - O suícidio de uma colega atriz em 2006, Dulce não de pensar em um só momento o que se passou na cabeça e no coração dessa atriz para tomar essa derradeira decisão. Esse solo foi criado, portanto, como forma de homenagear sua companheira de ofício. Nele, são visitados seus sonhos, angústias, tristezas, decepções e frustrações nos últimos minutos de vida. O texto recebeu o prêmio Antonio Bivar da Lei Aldir Blanc em 2020 e será apresentado ao público pela primeira vez.
Autoria e interpretação: Dulce Muniz Ambientação cênica: Leandro Lago Trilha sonora: Dulce Muniz Produção: Flávia Arantes Direção: Thiago Reis Vasconcelos Comentarista: Valdemar Angerami, psicólogo e escritor.
Eu e Ela - Visita a Carolina Maria de Jesus | Cia Invasores de Teatro Negro Experimental
Dia 19 de março, sábado, 20h
60 minutos | Classificação indicativa: 12 anos
Sinopse: O solo apresenta a personagem histórica Carolina Maria de Jesus. Nascida em Minas Gerais, em 1914, a catadora de papel mudou-se, nos anos de 1930, para a cidade de São Paulo, onde desenvolveu suas atividades como escritora. Sua obra mais conhecida é Quarto de despejo: diário de uma favelada, publicada em 1960. A peça aborda várias facetas da personagem: sua diversidade artística, política e social. Carolina Maria de Jesus, mãe solteira e negra, uma das primeiras escritoras a narrar a vida nas periferias. Conduzido ora em primeira pessoa, ora em terceira, o texto ressalta a imagem de Carolina como pessoa à frente de seu tempo, que compreendia profundamente as questões políticas e sociais de sua época.
Dramaturgia, direção e interpretação: Dirce Thomaz
Comentarista: Maria Silvia Betti, professora, doutora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.
O Mundo Mágico de Abilê, Abilá | Hugo Oskar
Dia 20 de março, domingo, 17h
50 Minutos | Classificação indicativa: Livre
Sinopse: Hugo Oscar Verga Marambio, conhecido como Hugo Oskar, é o artista que dá vida ao palhaço Abilê Abilá. Chileno, com mais de 40 anos no Brasil, Hugo especializou-se em marionetes e mímicas em São Paulo e apresentará O Mundo Mágico de Abilê Abilá, indicado para todo tipo de público, crianças e adultos. A partir de técnicas circenses, o artista dá vida ao universo do circo, com números de palhaços e marionetes.
Texto, interpretação e direção: Hugo Oscar
Comentarista: Agenor Bevilacqua Sobrinho, dramaturgo, professor e escritor.
AMOR de Clarice Lispector – Imagens do Patriarcado | Cia Mal Amadas – Poéticas do Desmonte
Dia 22 de março, terça-feira, 20h
60 minutos | Classificação indicativa: 12 anos
Sinopse: Baseado no conto AMOR, de Clarice Lispector, que compõe o livro Laços de Família, a peça aborda a vida de mulheres condicionadas a cumprir um destino traçado, um projeto de vida onde o casamento, filhos, família, a dedicação incondicional, o silêncio, o medo, a angústia, a ausência de sonhos, decepções, traições, permanecem num quadro afixado na galeria de opressões, próprio das famílias patriarcais. Nesta montagem, uma poética épica-performativa convida a plateia ao despassivamento, a um diálogo aberto sobre as relações de gênero.
Roteiro, interpretação e direção: Marta Baião | Elenco: Marta Baião, Neusa Brito, Cristina de Cássia e Daise Neves
Comentarista: Daniele Resera, professora e historiadora
Pagu, Anjo incorruptível | Lilian de Lima
Dia 24 de março, quinta-feira, 20h
80 minutos | Classificação indicativa: 12 anos
Sinopse: O espetáculo musical Pagu, Anjo Incorruptível traz temas urgentes, sobrepondo elementos de teatro documental e camadas narrativas ficcionais. A trama dramatúrgica parte de fragmentos sobre a vida e obra de Patrícia Galvão e é permeada pela realidade de uma moradora da periferia de São Paulo, uma mãe solo, uma mulher como tantas outras. Uma Patrícia dos dias de hoje que atravessa a cidade todos os dias para trabalhar. A peça cruza realidades no tempo e no espaço, traz fatos biográficos, canções, depoimentos e notícias atuais de jornal para tentar enxergar através dos olhos moles de Pagu e refletir sobre o que é ser mulher hoje, sobre feminino e feminismo. São 100 anos que separam essas duas Patrícias e que nos separam da Semana de Arte Moderna de 1922. E nesse vão de um século, surge uma pergunta: O que de fato mudou?
Texto/Direção/Atuação: Lilian de Lima Direção Musical/Violão: Paulinho Brandão Criação/Operação de Luz: Laiza Menegassi
Comentarista: Rosimeire de Almeida, socióloga
Antônio | Leandro Lago
Dia 25 de março, sexta-feira, 20h
60 minutos | Classificação indicativa: 12 anos
Sinopse: Vida e Obra do pensador italiano, Antonio Gramsci (1891-1937), que viveu 46 anos, e parte desses, 11 anos na prisão do terrível regime fascista de Benito Mussolini, neste período ele desenvolve suas ideias registradas em cartas depois intitulados "Cadernos do Cárcere" nos quais aborda temas diversos: família, os filhos Délio, Giuliano, a mulher Julia Schutz, os costumes, a educação italiana, os conselhos de fábrica, "os intelectuais e a organização da cultura" temas que permanecem vivos, pungentes e são fontes inspiradores até hoje na sociedade contemporânea.
Atuação: Leandro Lago Dramaturgia: Dulce Muniz, Leandro Lago Ambientação Cênica: Leandro Lago e Dulce Muniz Figurinos: Núcleo do 184 Trilha Sonora: Beto Kpta, Núcleo do 184 Preparação Corporal: Silvia Leblon Pesquisa Iconográfica: Fernanda Arantes, Lucas Goulart Produção Executiva: Flávia Arantes Operador de Som: Cristina de Cássia
Direção Geral: Dulce Muniz
Comentarista: Marco Ribeiro, Diretor e Produtor de TV
Abysmo (Experimento 1.0) | Alessandra Queirós
Dia 26 de março, sábado, 20h
60 minutos | Classificação indicativa: 12 anos
Sinopse: Abysmo (Experimento 1.0) é um solo teatral sobre a experiência de falar e contar alguma coisa. A peça é um diálogo com textos que trazem a reflexão sobre contar, prever e conversar do ponto de vista da experiência compartilhada e coletiva. E como historicamente o aparecimento da imprensa, rádio, internet tem se relacionado com o desaparecimento gradual da experiência de contar. E, principalmente, sobre a substituição da narrativa e do contar pela forma de comunicação predominante hoje: a informação. A experiência de contar sobre a cidade, a cultura, o trabalho e a técnica, tendo como ponto de partida textos de Agnes Heller, Lícofron, Silvia Federici e Walter Benjamin.
Elenco: Alessandra Queiroz Direção: Thiago Reis Vasconcelos Roteiro/Dramaturgia: Alessandra Queiroz e Thiago Reis Vasconcelos Cenário: Flávia Ulhôa e Thiago Reis Vasconcelos Figurino: Ruth Melchior Desenho de Luz e Iluminação: Renata Adrianna Sonoplastia: Gabriela Jeniffer Produção: Flávia Ulhôa e Companhia Antropofágica
Comentarista: Rogério Tarifa, ator, diretor e autor.
Na Carne | Rosana Ribeiro
Dia 28 de março, segunda-feira, 20h
Duração: 60 minutos | Classificação indicativa: 12 anos
Sinopse: Uma essência de Feminino que, na ânsia de construir/reconhecer seus corpos, desce a virulências dos desejos, a desmedidas dos atos e a violências dos fatos. Nesse lugar, onde os mais belos instintos devoram e são devorados, ainda pulsa a busca pela consciência. Esse Feminino carrega, quase sem controle, aspectos de sua presença e ancestralidade que impulsionam suas ações e o levam para ciclos de forças. Atravessa, com toda sua contradição e fragilidade, os mistérios de reconhecer em si mesmo a história humana, as forças da natureza terrestre e cósmica. "Entre a essência e a decadência, há alguém em mim que olha à espera de novos passos..."
Direção: Marco Xavier Criação e atuação: Rosana Ribeiro Trilha sonora e preparação corporal: Marco Xavier Concepção de luz e projeções: Rosana Ribeiro
Comentarista: Sandro Borelli, bailarino, diretor e coreógrafo
SERVIÇO
Eventos Culturais - Teatrarias
De 18 a 28 de março de 2022
Local: Teatro Stúdio Heleny Guariba. Endereço: Praça Roosevelt, 184
Capacidade: 35 pessoas (50% da capacidade total)
Entrada: Franca. Basta retirar na bilheteria chegando no local
Todos os espetáculos também serão transmitidos ao vivo pelo Facebook do Teatro Stúdio Heleny Guariba: https://www.facebook.com/nucleodo184
Este projeto foi realizado por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo
Em respeito às normas protetivas contra COVID-19, o espaço vai operar com 50% de sua capacidade total. Será obrigatório o uso de máscara e o público deve portar comprovante atualizada de vacinação
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