Rio de Janeiro, maio de 2022 - Usar a arte e os museus como recursos e espaços de promoção da saúde mental. A ideia transcendeu as paredes do consultório da psicóloga Robertha Blatt e virou uma exposição – que agora chega ao público na forma do livro “Arte aproxima” (Ed. Nau das Letras), com lançamento em 24 de maio, às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, no Rio.
No evento de lançamento haverá uma roda de conversa com participantes da exposição homônima e que inspirou o livro, – realizada no Museu Nacional de Belas Artes. Inicialmente, a previsão era de que a mostra ficasse aberta à visitação, a partir de 30 de outubro de 2018, por um mês. O sucesso fez com que permanecesse no museu até janeiro de 2019.
Para o projeto, Robertha teve a colaboração da crítica de arte, curadora e escritora Lisette Lagnado – que esteve envolvida com a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ), e que tem no currículo curadorias no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri (Espanha), na Bienal de Berlim e na 27ª Bienal de São Paulo. O trabalho também teve a participação dos artistas Aline Gonet, Emília Estrada, Prilli, Efrain Almeida e Ernesto Neto.
O livro que nasce da exposição é voltado ao público de psicologia, arte e educação – “para pessoas que querem pensar novos formatos para essas três áreas”, diz Robertha. “O museu tem um potencial que tradicionalmente não está associado à saúde. E isso é uma transformação que precisa acontecer, para arte e museus estarem a serviço das pessoas, com o compromisso social de promover bem-estar.”
Robertha tem 20 anos de atuação como terapeuta, e foi no consultório que a inquietação sobre o potencial da arte e dos museus para serem espaços de promoção de saúde teve origem. Em seu local de trabalho, sempre estiveram presentes recursos para a produção de obras artísticas – nas quais ela e seus pacientes trabalhavam em conjunto. “O consultório lembrava um ateliê de artes, porque eu convidava as pessoas a produzirem junto comigo. Cada sessão tinha sua identidade. E assim trabalhei por duas décadas – e fiquei pensando que o que eu queria era um deslocamento do trabalho do consultório para outros lugares, como os museus”, conta.
A partir dessa reflexão, nasceu ainda outro projeto – o “Arte sobre rodas”, realizado entre outubro e dezembro de 2019. A iniciativa consistiu em levar, de caminhão, réplicas das obras da pintora Lygia Clark (1920-1988) e do artista plástico Hélio Oiticica (1937-1980), a praças públicas do Rio. “Esse projeto teve como objetivo propor uma interlocução da arte com o trabalho clínico de receber as pessoas, e propor uma experimentação das obras desses dois grandes artistas brasileiros. Quando você abre uma exposição na praça, ela pode atingir vários segmentos”, afirma.
“Descobrimos que a arte poderia trazer essa intenção terapêutica – de promover alguma mudança e ativação interna. Levar ao museu alguns dos elementos que estavam presentes no consultório para exposição, para ser um ambiente de escuta, um espaço de expressão e interação social em um ambiente terapêutico, com benefícios emocionais e fisiológicos.”
O projeto, reforça a psicóloga, também fala de prevenção – não é um trabalho necessariamente voltado a pacientes psiquiátricos. O objetivo era “propor uma exposição de arte que fosse estruturada num tripé formado por psicologia, arte e educação”.
E o livro será o registro dessa experiência “para que esse assunto não morra, para que seja uma oportunidade. Organizações, museus e galerias de arte, que tradicionalmente não fazem parte da oferta de saúde pública, poderão repensar seu papel como agentes sociais de mudança, conectados às necessidades da comunidade à sua volta”.
Participativo
Como se tratava de levar sua experiência no consultório para o museu, a exposição teria de contar com a participação do público: com materiais à disposição, a visitação seria lúdica e os visitantes poderiam criar suas próprias obras também. “No consultório, a arte promovia uma abertura para o paciente. No museu, então, as obras teriam que ser participativas, com apoio de uma equipe multidisciplinar, incluindo terapeutas, que pudesse auxiliar a experiência do visitante para integrar a experiência estética com a emocional”, explica Robertha.
Segundo ela, a exposição exigiu um ano dedicado a pesquisa e à concepção, com artistas, educadores e psicólogos, entre outros profissionais, de formas de receber, acolher e estimular os visitantes. Segundo estimativa do Museu Nacional de Belas Artes, a “Arte aproxima” recebeu mais de dez mil pessoas nos três meses em que esteve aberta – e com grande participação de crianças, em grupos escolares.
“Acredito muito que, no futuro, o museu pode ser explorado como um lugar mais vivo para encontros e transformação”, diz a psicóloga. “museu É um ambiente que tem potencial para provocar relaxamento, um momento de introspecção. Não é sobre fazer terapia, mas as propostas que acontecem no museu são terapêuticas. Ajudam a trazer uma consciência, uma percepção de si.”
SERVIÇO
Lançamento do livro “Arte aproxima”
Quando: 24 de maio, às 19h
Onde: Livraria da Travessa - Shopping Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Rio de Janeiro)
Editora: Nau das Letras
1ª Edição – 176 páginas
SOBRE ROBERTHA BLATT
Com 20 anos de atuação como terapeuta, atendendo desde crianças até famílias, Robertha Blatt também se dedica à pesquisa a articulação de práticas terapêuticas e expressões artísticas, nos papéis de educadora, terapeuta de família, psicóloga e mãe. Tem especialização em Educação Infantil e foi professora de Ensino Fundamental I (crianças de 3 a 6 anos) no Colégio Notre Dame-Ipanema (de 1998 a 2006). É psicóloga formada pela Unesa (2002), tendo feito palestras e cursos sobre Síndrome de Burnout, estresse do educador, em escolas e universidades, com pós-graduação em Terapia de Família e Casal pela PUC-Rio. Estuda Terapia Focada na Emoção, Experiência Somática e Bodynamic em cursos de formação e vivências (2016-2020).
Em seu consultório-ateliê, oferece a crianças, adolescentes e famílias recursos multissensoriais que viabilizam a ampliação da expressão no contexto relacional. Além disso, explora imersões em museus pelo mundo, observando a interação entre as pessoas e as proposições desses espaços. Por meio da ÉOÈ (projeto que integra experiências educativas e emocionais através da arte) organiza e realiza projetos culturais, terapêuticos e educacionais – como o “Arte Sobre Rodas”, em que um caminhão levava réplicas de obras relacionais de Lygia Clark e Hélio Oiticica a praças públicas na cidade do Rio de Janeiro, como forma de articular a arte ao seu trabalho de terapeuta.
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