[News] POÈMES EN MACHINE lança livro de poemas inspirados por histórias contadas por desconhecidos, em praças e parques de São Paulo, escritos no calor da hora, em antigas máquinas de escrever.

 POÈMES EN MACHINE lança livro de poemas inspirados por histórias contadas por desconhecidos, em praças e parques de São Paulo, escritos no calor da hora, em antigas máquinas de escrever.

 

 

“Ah, vou poder ficar com a poesia pra mim, de verdade,

de verdade mesmo?”. Pegou o poema, me abraçou forte,

deu um beijo na minha bochecha, dobrou com cuidado o

papel e guardou no sutiã – no lado esquerdo do sutiã.

“Perto do coração, onde é mais seguro.”

 

 

O escritor Fernando Rangel, a atriz Adriana Coppi e o guerreiro andrógino potiguar de cognome Arara Xestal criaram o POÈMES EN MACHINE que, desde 2013 escreve poemas em locais públicos de São Paulo, como o Parque da Luz, o Trianon ou em Viradas Culturais.

Adriana começa a performance, declamando poemas e fazendo o convite para a aproximação e futuras conversas, que irão inspirar os poemas instantâneos, registrados em papel sulfite, copiados em papel carbono, por antigas maquinas de escrever. Anunciada a extinção deste meio de escrita no século passado, elas até ganharam versos: “A máquina de escrever vai desaparecer e você nem começou a escrever”, datilografou Fernando, nos anos 80, em sua Práxis Olivetti elétrica conservada até hoje. A história mostrou o contrário.


Fernando Rangel ouvindo histórias


Com o apoio do ProAC — Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, poemas escritos nos últimos 8 anos, em antigas máquinas de escrever, chegam agora até nós, com o lançamento do livro POESIA DO INSTANTE (Machine Editora, 115 pgs, R$ 25 ).

“Não é raro que nos procurem falando que o poema sumiu e nos pedirem nossa cópia em papel carbono (essa é das antigas!)”, fala Adriana Coppi. O trio então datilografa novamente e entrega para quem pediu. Nada é cobrado.

“Nossa maior recompensa é uma pessoa nos dizer que o poema escrito por nós é o mais importante da vida dela, que irá emoldurá-lo e colocá-lo na parede”, conta Fernando Rangel, um apaixonado por poesias, e pelos poetas de praças, como o baiano Castro Alves.


POÈMES EN MACHINE


“Praticamente todos os poemas publicados foram criados em praça pública a partir de conversas com o mais variado tipo de gente, de procuradores federais a usuários de crack”, fala Rangel sobre a obra. Além disso, o livro conta com 33 ilustrações do artista gaúcho Bruno Amorin.


Ilustração de Bruno Amorin


Foram publicados os textos originais, com pequenas alterações ortográficas, que são precedidos pelas histórias que inspiraram o poema, escrito no calor da hora. Por vezes, o próprio autor se revela, como na poesia “Para quem sabe sonhar”.

“Assim que me mudei para São Paulo, em um dia de frio recorde – eu que jamais havia conhecido qualquer coisa diferente do calor –, eu mal tinha um colchão para dormir. O chão frio, o colchonete fino, uma vida toda encaixotada, muita esperança e um medo imenso de ter tomado a pior decisão de minha vida. Chorei quase todas as noites, mas queria estar aqui e me mantive convicto por seis meses. Foi o período que precisei para começar a criar raízes em um mundo muito diferente daquele de onde vim. Quase dez anos depois, já no Poèmes en Machine, surge no Parque Trianon uma garota, Cassandra, que começava a se assenhorar da cidade. Ela também não era daqui. Perguntou o que estávamos fazendo no parque e lhe expliquei: poesia. Expliquei como funcionava e ela se entusiasmou em marcar com um poema a data que lhe parecia marcante. Estava completando seis meses de São Paulo e, finalmente, já não tinha medo”.

 

Para quem sabe sonhar

Para a Cassandra

 

Há seis meses na cidade

Diante dela, todos os sonhos do mundo,

Aqui tudo é probabilidade

Para quem tem o coração aberto e o sonho fecundo.

Quer fazer da criatividade profissão,

Estuda moda e afirma a importância disso,

O que vestimos, disse, revela nossa automitificação,

Veio para São Paulo sem amigos, mas com compromisso. Descobriu que a cidade não é a fera que lhe esculpiram.

Veio para ficar e para impulsionar sonhos maiores,

Tantos, como ela, vieram em condições piores e evoluíram,

Paris, Milão, Roma; tudo é possibilidade para quem vai além [dos arredores.

 

Arara Xestal 15 jun. 2014 Parque Trianon

 

São 37 poemas, 37 histórias diferentes. A menina que sonha com o príncipe encantado de uma novela mexicana, a estudante de física que queria entender a natureza, a força do jovem da periferia para não entrar no tráfico ou o que enfrenta o preconceito da sexualidade, o drama do usuário de crack, a senhora que, pasmem, fez um curso de datilografia. Em uma época de distanciamento, saudades e incertezas ler POESIA DO INSTANTE nos aproxima, e traz alento.

 

 

 

Arara Xestal,  Adriana Coppi e Fernando Magalhães Rangel

 

Sobre os Autores

Adriana Coppi Se eu pudesse dizer como eu sou hoje eu diria que foi São Paulo que arrebatou meu coração de vez. Nasci em Joaçaba, no Oeste de Santa Catarina. Estudei música clássica em Porto Alegre (UFRGS), mas foi nessa cidade maluca que eu me vi poetisa, entrei para o grupo Poèmes en Machine e retomei minha carreira de atriz. Filha de Udilo Antônio Coppi e Lucilla Mioni Coppi e que fique bem registrado.

 

Arara Xestal É dramaturgx, poeta, performer e críticx de Artes Plásticas. Membro do grupo Poèmes en Machine. Nascidx em Mossoró (RN), cresceu convivendo com artistas mambembes, agricultores, políticos, cordelistas e benzedeiras. Traz tatuadas consigo, também, as histórias de velha Galícia, herdadas do pai. Gênero fluido, traz consigo as culturas da sertania do Brasil profundo e dos imigrantes galegos unidas à ironia do universo pop como instrumento de afirmação pessoal e artística.

 

Fernando Magalhães Rangel Sou um sujeito que escreve e tem uma relação forte com São Paulo. Essa cidade é uma esquina do Mundo e eu escrevo nossas histórias. Acredito no amor, pois sentir-se amado é fundamental para minha sanidade mental. Não cheguei aonde eu queria chegar, porém agora duvido se o reconhecimento era o lugar que eu desejava. Membro e fundador do grupo Poèmes en Machine, com muito orgulho

 

 

A Poesia do Instante

http://poemesenmachine.com.br/lojaeditora/

 

R$ 25,00

Editora: Machine Editora

Autor: Poèmes en Machine

Ilustrações: Bruno de Amorim

ISBN: 978-65-990847-0-6

Ano de edição: 2020

Apoio: ProAC — Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.

 

Texto Cris Fusco

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