[News]"Pra Duvidar", álbum de estreia de Klüber, apresenta um universo sofisticado que passeia entre o grunge, o experimental e o erudito.
PRA DUVIDAR, ÁLBUM DE ESTREIA DE KLÜBER, APRESENTA UM UNIVERSO SOFISTICADO QUE PASSEIA ENTRE O GRUNGE, O EXPERIMENTAL E O ERUDITO
Com arranjos complexos, a artista curitibana expõe a sua vivência trans não-binária ao abordar amor, música e política através do que ela chama de “pop prolixo”
Klüber por Amanda Lavorato
Lisboa, setembro de 2022 - No dia 23 de setembro, a cantora, compositora e musicista curitibana Klüber lança seu álbum de estreia, Pra Duvidar. Com produção de Érica Silva e Leo Gumiero, a obra apresenta uma complexidade de arranjos passeando com sofisticação entre o grunge, o samba, o experimental e a música de concerto ao longo das 11 faixas. A artista define seu trabalho como “pop prolixo” e expõe através das letras e sonoridades as suas vivências como trans não-binária. Amor, música e política fazem parte do seu universo, onde ainda regravou de forma dramática o clássico do sertanejo “O Menino da Porteira”.
“O disco é uma compilação de um poema, uma regravação e nove músicas de diversos períodos da minha vida. Achar sentido e conexão para tudo isso foi um pouco difícil, mas Pra Duvidar tornou-se um disco de grunge - tem até samba grunge - e está articulando a noção de dúvida como uma necessidade. Hesitamos em alguns nomes, mas um grande amigo, chamado Rafael Lorran, criou esse título numa conversa em que aprofundávamos essa ideia de dúvida de gênero, que aqui inclusive pode ser tanto a identidade de gênero quanto o gênero musical”, explica Klüber. “E acho que articular a dúvida é muito legítimo no momento histórico que a gente vive, passando por uma pandemia, catástrofe climática, entendendo identidades de gênero outras, profissões outras, linguagens artísticas outras, o acúmulo capitalista de dinheiro, informação e conteúdo… e talvez todas as canções, cada uma a seu modo, nos colocam dúvidas: porque ‘O Menino da Porteira’ sempre parece tão animada nas outras versões? Por que eu sou eu? Por que tantos ismos? Por que eu sonho tantas coisas e realizo poucas? Por que eu não me valorizo? É pra duvidar de mim, de você, dessas músicas, votar no Lula e duvidar do Lula, duvidar das organizações, dos sistemas e do cistema”.
“Essência de Proparoxitonolol” é um poema que abre Pra Duvidar, dedicado ao primeiro garoto que Klüber foi apaixonada, e já sinaliza a importância das palavras na obra. A temática amorosa se repete em “Ninguém Precisa”, single já apresentado para o público, e em “Promissões”. O lado político da artista está em “Ismólatra”, “Quantos”, “Espetáculo”, “Hommage à Debussy” e “Valsa da Persuasão”. Em “Meu Som” e “Fazer Música”, o amor à arte é cantado em plenos pulmões, e a regravação de “O Menino da Porteira” evidencia a dramaticidade de suas interpretações. A complexidade de arranjos está presente em todo o repertório e a presença constante do piano, primeiro instrumento de Klüber, confere erudição para as faixas.
A obra foi coproduzida por Érica Silva (Mulamba), sua parceira de longa data. “Pra Duvidar é diferente de tudo o que já fiz. Tá repleto de texturas fodas, complexidade e muito amor e dedicação que colocamos em cada ideia, cada detalhe. Quero muito que isso ressoe e quiçá se torne referência de como a música brasileira pode e deve expandir todos os limites já postos”, diz. Leo Gumiero, também produtor, afirma que “Pra Duvidar é um álbum lindo e corajoso, e foi um prazer trabalhar nele. É um lançamento que recontextualiza tudo: pop, rock, grunge, erudito, samba; tudo foi desmontado e reorganizado para mostrar a versatilidade da Kluber em seu primeiro álbum. É clássico, contemporâneo, desafiador e acessível, tudo junto”.
OUÇA PRA DUVIDAR AQUI
Capa de Pra Duvidar
Ouça https://tratore.ffm.to/praduvidar
FAIXA A FAIXA POR KLÜBER
01 - Essência de Proparoxitonolol
Esse poema eu escrevi pro primeiro garoto por quem fui apaixonada, foi um grande capítulo da minha vida essa paixão kkk. Eu já recito ele em shows faz tempo, geralmente antes de “Ismólatra”, e até foi publicado num zine produzido por Brune Motta. No meio do processo de produção eu vim com essa ideia de abrir o disco com um poema. A gente acabou não focando muito nele no decorrer, mas nas últimas sessões de gravação de vozes pegamos esse poema e mais dois. O Leo viajou com efeitos em cima e deu no que deu. Inclusive tinha uma expressão que fiquei pensando muito em como trocar, “o amor é cego”, pois geralmente é empregada de uma forma capacitista. Aí troquei por “o amor é ego” e achei que ficou bem melhor que o original.
02 - Ismólatra
Essa música eu compus quando tinha uns catorze ou quinze anos. Ela é bem pianística, com muita influência da Sara Bareilles e de música de concerto na composição e no arranjo, com uma letra bem ácida e divertida. Na produção, a Érica se inspirou bastante em “Sgt. Peppers”, dos Beatles, e em algumas coisas da Feist também. E no fim das contas tem até um gostinho de MIKA junto. Ganhei alguns prêmios em festivais competitivos com essa música, alguns deles inclusive me ajudaram a comprar meu piano acústico. Na seção dos ismos, durante um show com Murilo Silvestrim e Nati Bermúdez, pensamos em trocar algumas palavras, e aí surgiram bolsonarismo e comunismo, que deixaram a coisa mais atual.
03 - Meu Som
O piano dessa música foi feito baseado na batida antiga de “Soledad”, da Tuyo, inclusive é no mesmo tom. A ideia era ser esse folk mesmo, tem até uma versão antiga no meu canal, que eu toco com meia lua no pé, rs. De novo é sobre um boy, rs, que ficava me dando mixed signals e aí me encheu as paciência não saber qual era a real. Decidi me valorizar e a letra é sobre isso. Virou um puta grunge com cordas com arranjos incríveis da Érica, com um clima até épico abertura ou fim de filme. Fica a dica, audiovisual!
04 - Fazer Música
O único blues do disco, que também tem uma ponta de rock e de grunge. Das minhas músicas desse disco, é a única que não tem letra minha. A letra é da Karina Flor, grande amiga e parceira de tempos, que num dia de canseira das burocracias me mandou a letra como brincadeira, falando que eu podia transformar aquilo em música. Pois adorei o desafio e a canção nasceu, aí nomeei de “Fazer Música”. Conversa muito com a temática de “Meu Som”, e por isso no disco elas estão emendadas. Mas “Fazer Música” é muito sobre a relação mesmo com o ato de cantar, tirar som de algum instrumento, manipular as ondas sonoras. A Karina escreveu as sete notas musicais na letra, e no refrão eu compus a música colocando aquelas notas mesmo que estão sendo ditas. Tem essa brincadeira sutil. Outra coisa legal é que essa canção foi gravada toda ao vivo em 2021, tem só uns overdubs de guitarra e batera; isso porque eu queria gravar vídeo junto, o que gerou uma session audiovisual linda que sai em outubro. Ensaiamos ela em conjunto, no meio da pandemia, e ela tomou a forma que tomou pela condução da Érica, pela batera do Dani e a guita do Gusta.
05 - Quantos
Essa canção é também de uma leva antiga, compus com uns quinze ou dezesseis anos, quando ainda morava em Ponta Grossa. Na época eu ouvia muito Radiohead e Sarah MacLachlan, então o piano bebe de “Loving You is Easy” e de “All I Need”. A letra pode ser um pouco ingênua, mas é sincera sobre a observação de desigualdades e descontentamentos. A produção é muito bapho; as duas estrofes estão trabalhando com piano, vozes, vsts e texturas, o que deixa final rockeiríssimo como surpresa. A gente curte muito ela.
06 - Espetáculo
Samba em 7 grunge colagem mutcho loca que deu muito certo! Essa canção era um samba simplão, com uma letra prolixa (marca registrada!) cheia de proparoxítonas e com temática social. Compus ela depois de ter participado das ocupações das universidades públicas em 2016. Em 2019 fiz o show de lançamento do meu primeiro EP com a Érica e a Gabi Bruel. Nos ensaios, Érica deu a ideia de fazer o samba em 7, e ainda tratou de terminar com umas harmonas diferentosas para as quais nasceram novas melodias, por isso ela é parceira na composição da música. A produção foi um desafio, era a música com caminho menos definido; quando o Leo efetivamente assumiu a produção conjuntamente, as ideias da Erica foram tomando forma, e depois de tudo gravado, o Leo trouxe muitas colagens, beats e inclusive sampleou uma bateria gravada pelo Dani para Guelras, da Roseane Santos, canção em que participo com um piano. Era para a Rose ter gravado o feat comigo em “Espetáculo”, infelizmente não deu certo, mas tem essa homenagem intrínseca com muito amor.
07 - Hommage à Debussy
Adoro Debussy e pirei que eu queria compor algo cantando numa escala de tons inteiros. A letra fala muito sobre o momento político pré-golpe. Piano e voz, com um synth ou outro, faz referência a um prelúdio de Debussy chamado Voiles. Acho que é a faixa mais experimental do disco, com muitas texturas e viagens do Leo.
08 - O Menino da Porteira
Eu gravei um clássico sertanejo! Eu tocava essa música no teclado, quando tinha uns nove ou dez anos. Cresci ouvindo sertanejo. Mas é um gênero muito restrito. Pois em 2020 eu já estava tocando minha versão em shows, falando de sertanejo queer, e ainda eu nem tinha ouvido falar na terminologia "queernejo" hehe, que pra mim ficou mais próxima após a pandemia. A ideia foi trazer a carga dramática dessa história de um menino atropelado por um boi, mudando a harmonia toda para o modo menor; isso eu criei no violão, e aí Érica trouxe a ideia de fazer um arranjo para cello. No fim das contas, foi meu debut como arranjadora; é a única faixa que assino os arranjos, escrevi coisas para o cello que a Rebeca executou lindamente, junto com a guitarra do Gusta, que também é um musicista muito sensível. Assim como “Fazer Música”, gravamos ao vivo com vídeo, então tem uma sessão prevista pra novembro.
09 - Ninguém Precisa
Single já lançado, já amado, tem uma energia única no disco. A letra é uma grande repetição. Compus quando estava rememorando uma mágoa muito grande de um boy que foi uó: adorava ficar comigo na minha casa, mas não me dava um beijo publicamente alegando que não ficava confortável, e foi beijar outro boy na minha frente no rolê que saiu comigo. Famoso boy lixo. Sofri muito e a letra só saiu, na ideia de repetir uma espécie de mantra do auto-respeito: você não vai me ver sofrer, você não vai me ver. Percebi que a memória das coisas boas se esvaiu, ficou só a dor e dela ninguém precisa, o que deu nome à canção.
10 - Valsa da Persuasão
Da mesma leva de “Ismólatra”, lá dos catorze/quinze anos, foi a primeira música que cantei num teatro. Aos 16 anos, estreou em festivais competitivos de canções com ela e foi premiada. A Valsa na real tem uma vibe muito Regina Spektor, descrevendo o discurso persuasivo de um suborno com uma letra doida subjetiva porém amarrada por algumas pontas. A gente queria trazer uma vibe rock, então a Érica convocou o Dani na batera e fez arranjos de cordas para reforçar o piano. De quebra gravei um cravo em cima, o que ficou soando como algumas refs nossas.
11 - Promissões
Essa canção compus em 2016 quando estava muito triste. E o processo de compor ela foi terapêutico, me fez ganhar esperança, com um retrogosto pragmático. Eu apresentei em seguida a música pra Michelle Pucci, uma grande amiga, queria que ela cantasse comigo. Cantamos juntas em 2019 no show de lançamento do meu EP, e aconteceu agora em 2022 o feat. Ela é um pop com um arranjo lindo que fecha o disco emocionando. A Érica escreveu para trompete e trombone e tirou o protagonismo do piano. Os sopros acabam conectando ela com “Ismólatra”, a música de abertura. Essa acho que definitivamente é um pop prolixo.
FICHA TÉCNICA
Produção Musical: Érica Silva e Leo Gumiero
Voz, piano e composições: Klüber
Parceria na letra de “Fazer Música”: Karina Flor
Parceria na música de “Espetáculo”: Érica Silva
Piano: Klüber
Guitarras: Érica Silva e Gusta
Bateria: Daniel D’alessandro
Baixo: Érica Silva
Beats: Érica Silva e Leo Gumiero
Percussão: Gabriela Bruel
Cello: Rebeca Friedmann
Violino: Carla Zago
Viola: Anadgesda Guerra
Trompete: Menandro Souza
Trombone: Fernanda Cordeiro
Preparação Vocal: Paola Pagnosi
Feats:
Michelle Pucci
Gravação: Erica Silva em Easter Egg Estúdio, Leo Gumiero em Gume Estúdio e Vitor Pinheiro em Gramofone
Mixagem / Masterização: Leo Gumiero
Pianos de “Ismólatra”, “Meu Som”, “Fazer Música”, “Valsa da Persuasão”, “Quantos” e “Hommage a Debussy” gravados no Estúdio Gramofone
ID Visual: Raquel Sales
Fotografia de Capa: Amanda Lavorato
Assessoria de Imprensa: Alets Comunicação
Produção Executiva: Klüber e Leticiah Futata
Distribuição: Tratore
SOBRE KLÜBER
Klüber é uma artista curitibana de 24 anos que define seu som como “Pop Prolixo” ao fundir algumas referências da música de concerto com rock alternativo, folk, indie, grunge e pop alternativo. Em 2019, divulgou seu EP de estreia, Cante Comigo Esse Refrão Clichê de Pop Farofa. Em 2020, logo antes da pandemia, gravou as mesmas canções em um EP ao vivo chamado Cante Comigo Ao Vivo, apresentado para o público no mesmo ano. Desde então, se apresentou em alguns festivais como, Se Rasgum 2022, e está confirmada para a edição do Morrodália 2022. Seu primeiro álbum, Pra Duvidar, foi lançado em setembro de 2022.
A música existe na vida de Klüber desde a infância, quando começou a estudar teclado aos 7 anos. No início da adolescência, aos 11, entrou no Conservatório de Ponta Grossa (PR) para estudar piano, o prelúdio de uma jornada que não acabou com a conclusão do Bacharelado em Piano, na Belas Artes, em Curitiba (PR). Está apenas no começo. Durante esse período, construiu duradouras parcerias musicais com artistas paranaenses como Murilo Silvestrim, Érica Silva, Gabriela Bruel, Roseane Santos e Michelle Pucci. Participou de singles como Só Mais Sim, de Téo Ruiz, e álbuns como Vazio Lúcido, de Nati Bermudez. É diretora musical da Cia de Teatro da UFPR, leciona piano e canto. Dentre os projetos que participou, assina a preparação das vozes das vocalistas da Mulamba, Amanda Pacífico e Cacau de Sá, para o álbum Será Só Aos Ares. Também é pianista, backing vocal e arranjadora junto a Leo Fressato, Siamese e Jesus Lumma.
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