[News] Luis Capucho se junta ao poeta e escritor Rafael Julião e lançam hoje “A balada de Paloma”
Luis Capucho se junta ao poeta e escritor Rafael Julião e lançam hoje “A balada de Paloma”
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A partir de um poema do livro “Sereias do hospício”, lançado este ano pelo escritor e amigo Rafael Julião, Luis Capucho musicou o poema "Balada de Paloma", que encerra a segunda parte do livro chamada os ‘Portões’. Rafael Julião enviou o poema para Luís Capucho ainda em 2020, que o transformou em uma canção, uma balada funkeada. Em fevereiro de 2022, antes do lançamento do livro em 18 de maio do mesmo ano (dia da luta antimanicomial), a canção foi gravada no estúdio Carolina, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
A produção artística ficou a cargo de Bruno Cosentino, que convidou Mário Gesteira (que criou a batida funk que acompanha a melodia) e Vitor Wutski, que ficou responsável pelas guitarras. A masterização foi feita por Bruno Wolf no mesmo estúdio. Bruno Cosentino convidou também a cantora Claudia Castelo Branco e a cantora, performer (e também psicanalista) Numa Ciro para dar voz às sereias que atravessam a canção. O resultado é a canção que será lançada agora no dia 13 de outubro de 2022, ano em que o artista completa 60 anos.
A capa também tem sua história. Luís Capucho também é artista plástico, autor da série "As vizinhas de trás", de onde sai também a capa de Cinema Íris, segundo disco do artista. Ao se mudar para seu novo apartamento, Rafael Julião encomendou a Capucho um de seus quadros e ele fez uma versão de suas vizinhas. Segundo Capucho, ele fez com base na imagem de Rafael Julião, "só que mulher" (aproximando-se inclusive, sem saber, da imagem da própria mãe de Julião, que permeia o livro quase autobiográfico). Já em 2022, Capucho pensou em fazer uma série com a própria Paloma imaginada por ele e, durante o desenho, o artista intuiu: "acho que a Paloma é homem", referindo-se com humor ao resultado da obra, que lhe pareceu perfazer uma imagem masculina. Nisso, Bruno Cosentino teve a ideia de fazer do próprio Luís Capucho, em versão feminina, a Paloma. Todo esse jogo entre masculino e feminino acaba também se reportando ao universo da loucura e dos hospitais psiquiátricos: como sabemos, muitas pessoas LGBTQUIA+ foram frequentemente estigmatizadas e lançadas nesse amplo escopo da loucura, e frequentemente internadas em hospitais psiquiátricos. Daí surge a capa, finalizada por Bruno Cosentino a partir das fotos de Luís Capucho.
O encontro entre Rafael e Capucho
O professor, poeta e escritor Rafael Julião conheceu Luís Capucho ainda em 2016, quando o artista participou do ciclo do Escuta, que era um projeto de audição de discos intercalada por entrevistas com artistas da cena contemporânea, e que acontecia no PACC/ UFRJ (Programa Avançado de Cultura Contemporânea) na Faculdade de Letras do Fundão. Capucho foi escolhido por Rafael Julião e Bruno Cosentino, então coordenadores do Núcleo de Estudos de Canção do PACC, para ser o primeiro entrevistado do projeto, com o álbum Poema maldito (2014). Dessa entrevista nasceu uma relação de amizade e de interesse artístico que dura até hoje.
Em 2018, Rafael Julião pesquisou com mais atenção os discos de Luís Capucho, bem como seu livro Cinema Orly (1999), o que resultou no artigo "O mensageiro de Íris - a expressão de Luís Capucho", em que o pesquisador analisa algumas linhas de força do trabalho artístico de Capucho. Em 2020, Rafael Julião publicou o artigo "Narciso ao espelho: a masculinidade em Luís Capucho" na edição 36 da Revista Amarello, que tratava do tema da masculinidade.
Ainda no final de 2020, Rafael Julião já estava trabalhando em seu recém-lançado livro de poemas Sereias do hospício (2022), quando percebeu que um dos poemas, a "Balada da Paloma", parecia ter muita relação muito direta com o universo de Luís Capucho, tanto por seu caráter marginal, quanto pela presença da figura da mãe, que é central em composições do artista, como "Eu quero ser sua mãe", "Mamãe me adora" e "Mais uma canção de sábado".
O livro Sereias do hospício, o segundo livro de poemas de Rafael Julião (e o quarto, se contarmos com os dois livros sobre canção popular, Infinitivamente pessoal - Caetano veloso e sua verdade tropical de 2017 e Cazuza - segredos de liquidificador de 2019), aborda poeticamente a questão da loucura, em suas variadas manifestações. O lirismo do livro está completamente atravessado pela questão da loucura, por sua vez, relacionada à convivência e ao cuidado do autor com sua própria mãe, que era diagnosticada com transtorno bipolar. Assim, o universo da loucura e dos hospitais psiquiátricos, mas também as memórias afetivas e as complexidades do tema, aparecem como reelaboração de uma experiência muito pessoal, mas também muito fértil de identificações com a vida coletiva. Os poemas estão divididos em blocos temáticos ao longo do livro - “Ambulância”, “Portões”, “Pátio” e “Janelas” - e convidam o leitor a uma jornada de cumplicidade em um trabalho que, além do domínio técnico da linguagem e do frescor poético, toca na questão da luta antimanicomial, mas também na centralidade da canção popular e da voz humana, tema de pesquisas do autor. A "Balada de Paloma" é o poema que encerra a segunda parte do livro, os "Portões".
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