[News]"Sandra Pêra (deluxe)" chega no formato original

 

 

“SANDRA PÊRA (DELUXE)” CHEGA NO FORMATO DIGITAL 

Trabalho conta ainda com as faixas bônus “A Matéria do Amor” e “Vem Pro Colo”

 

Lançado em 1983, o álbum Sandra Pêra chega pela primeira vez ao mundo digital, nesta sexta-feira, 21 de outubro. Produzido pelo produtor musical Liminha, o trabalho, que tem como arranjador Eduardo Souto Neto, traz músicos de alta estripe dentro do pop brasileiro, como os integrantes do do grupo Roupa Nova, Jacques Morelenbaum nas cordas, Léo Gandelman e Marcio Montarroyos nos sopros e o próprio Liminha na guitarra.

               Já disponível em todas as plataformas digitais, “Sandra Pêra (Deluxe)” conta ainda com compacto produzido por Cecilia Assef com duas faixas bônus de canções simples de 1984: “A Matéria do Amor”, parceria com Ruban Barra, e “Vem Pro Colo”, junto com Guilherme Lamounier.

               Confira abaixo um pouco da história da artista contada pelo DJ Zé Pedro, uma referência na esfera da MPB como DJ, produtor e grande conhecedor do cenário: 

Sandra Pêra é uma artista brasileira. É um dom congênito, visto que sua família reside nos palcos desde sempre. E dentro desse tema, Sandra joga bem em várias modalidades: atriz, diretora, cantora e poeta.

Mas foi como agregadora de um grupo de amigas para trabalhar num inferninho cult que Sandra, sem medo nem esperança, alcançou a tal notoriedade do Oiapoque ao Chuí nessa nossa terra brasilis.

Em 1976, ela tinha vinte e dois anos e, como toda menina carioca, queria aproveitar a vida mas também pagar suas contas. Por isso, foi com alegria que atendeu ao chamado do cunhado Nelson Motta (então casado com sua irmã Marília Pêra) para juntar um bando de meninas que se tornariam garçonetes da discoteca Frenetic Dancin Days (que iria abrir num Shopping da Gavea ainda em obras) e que, ocasionalmente, subiriam ao palco para performar e cantar.

E lá, Sandra fazia de tudo: vendia cigarros, atendia no bar, circulava entre ídolos como Gal Costa, Ney Matogrosso e Rita Lee além de cantar e abalar ao lado de suas companheiras Lidoka, Leiloca, Regina, Dhu e Edyr que se tornariam as Frenéticas, fenômeno nunca visto ou repetido no Brasil.

Estava tudo muito bom, tudo muito bem até que...no ano de 1983, depois de tantas turnês vitoriosas, milhares de discos vendidos e outras consagrações, Sandra foi acometida da famosa síndrome da anti-acomodação que sempre ataca seres, de fato, criadores e quis trilhar outros caminhos.

Fora isso, uma gravidez abençoada, fruto de um paixão avassaladora, a fez escrever compulsivamente, num caderninho, suas reflexões sobre o mundo, a vida e si mesma. Esse verdadeiro diário, sem a pretensão de ser, acabou caindo na mão de um amigo de longa data, o cantor e compositor Guilherme Lamounier que viu ali, mais do que confidências, ótimas letras a serem musicadas. E ele estava certo: na velocidade da luz, harmonizou onze delas que geraram uma fita cassete que circulou pelo Rio de Janeiro até cair nas mãos do produtor Liminha, que naquele momento já havia sido coroado como um dos grandes viabilizadores do novo rock nacional e “culpado” da virada pop na carreira de Gilberto Gil.

Nascia assim Sandra Pêra, emblemático álbum lançado pela Warner Music e que, em 2023, completa quarenta anos acumulando cada dia mais novos admiradores curiosos e apaixonados desde sempre que agora celebram e agradecem sua chegada às plataformas digitais.

O disco tem como arranjador Eduardo Souto Neto que trouxe músicos de alta estirpe dentro do pop brasileiro como os integrantes do grupo Roupa Nova, Jacques Morelenbaum nas cordas, Leo Gandelman e Marcio Montarroyos nos sopros e o próprio Liminha na guitarra. Na faixa Bem Na Minha Testa o arranjo é de Zé Rodrix que deu seu toque latino americano à letra bem-humorada de Sandra.

 

A primeira faixa, inicialmente intitulada Exercício teve seus versos censurados e somente com insistência dos compositores pode ser lançada mas com o título trocado para Se Pode Criar  que Sandra detestou, tendo que aceitar para se livrar da imposição dos censores que implicaram como a frase quanto mais a gente faz mais a gente gosta que tolamente pressentiram como apelo sexual sendo que estava ligada, no contexto de Sandra, ao ofício de escrever.

 

O Amor de Hoje é uma parceria que atualmente pode parecer inusitada, mas faz todo sentido naquele momento, já que Rosa Passos ao lançar seu primeiro álbum Recriação em 1979 estava mais perto da vanguarda do que hoje, quando é considerada uma verdadeira sacerdotisa da bossa nova e seus afluentes.

 

Joyce Moreno é outra grata e inesperada parceira em O Tempo Passou, espécie de “mea culpa” de Sandra diante de sua separação da Frenéticas:

 

Eu quero outro som, outro rock, outro blues

Porque repetir já não me satisfaz

O meu grande prazer é o que te seduz

Mas cantar certas coisas

Não dá, não dá mais

 

Eu Te Arraso é uma balada confessional escrita para Gonzaguinha, pai de sua filha Amora e parceiro num romance cinematográfico, repleto de “óleo na pista” mas, com certeza, eterno. Foi tema do personagem Vânia interpretado por Maria Zilda na novela Guerra dos Sexos.

 

Pensando, Voando tem uma combinação sedutora de versos contraditórios dentro da vida cotidiana:

 

No peito um espaço, um certo vazio

O tempo era quente, mas eu tinha frio

Eu digo que não, mas sinto que quero

Se eu nunca ligo, mas sempre espero

 

Saca na Gente é um trocadilho malicioso com sacanagem, palavra que a censura adorava vetar dentro da música brasileira, acarretando mudanças em letras ou proibindo a canção inteira. Mesmo assim, essa parceria com Guilherme Lamounier foi escolhida como a música de trabalho do disco e com esse possível hit nas mãos, Sandra participou várias vezes do programa do Chacrinha que adorava o refrão:

 

É saca na

Gente

Saca na gente!

 

Nada é Eterno é outra balada em parceria com Guilherme Lamounier que fala do amor de modo incisivo:

 

Daquelas noitadas de loucos

Só nós dois no apartamento, tão pequeno

Aqueles papos profundos

Sobre o amor, o ódio e o tempo, eu já não aguento

 

Barriga Vazia, uma parceria com Ruban Barra, músico da formação original das Frenéticas, descreve de forma contundente a difícil vida fácil de todo artista:

 

Pro lado do rock a grana não pinta

Eu não canto só por hobby

Isso é um toque

Eu também sou faminta

O mercado anda negro

O mercado tá caro

Eu não quero emprego

O que eu quero é trabalho

 

Bem Na Minha Testa, é um mambo “mucho louco” que só mesmo Zé Rodrix poderia arregimentar, acentuando os versos hilários escritos por Sandra:

 

Cada pelo dessa perna

Pra você foi arrancado

Fiz o buço, sobrancelha

Que suplício, meu amado

 

Pus aquela camisola

E um perfume perfumado

Pra você ir pra cama

Se queixando do cansaço

 

Blue Azul encerra o álbum de forma irresistível com a participação de Marília Pêra que sempre manteve em evidência seu lado de cantora, tendo encenado espetáculos somente como intérprete e dona de uma discografia relevante. Juntas na faixa, Sandra e Marília, improvisam nos versos ao som de sonoras gargalhadas:

 

Pra se cantar um blue

O lamento não é lei

Viva o amor

Viva toda dor que eu já chorei

 

A chegada do álbum Sandra Pêra ao mundo digital, através da sua gravadora Warner Music, também oferece outra grata surpresa: a inclusão, como faixas bônus, de duas músicas do compacto simples de 1984, A Matéria do Amor, parceria com Ruban Barra e Vem Pro Colo junto com Guilherme Lamounier, uma raridade ainda maior para deleite de seus fãs.

 

Ao escutar o disco com Sandra na época, Nelson Motta proferiu: é bom mas não é espetacular.

Felizmente, o mestre errou.

Nascia ali um disco antológico e genial que resiste ao tempo com louvor.

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