[News] O volume 1, “Um Poeta Desfolha A Bandeira”, chega às plataformas digitais hoje, data dos 50 anos de morte de um dos maiores letristas da Tropicália.

  Patrícia Ahmaral lança tributo inédito ao poeta piauiense Torquato Neto, em álbum duplo, dedicado à sua obra musical.



 

O volume 1, “Um Poeta Desfolha A Bandeira”, chega às plataformas digitais hoje,

data dos 50 anos de morte de um dos maiores letristas da Tropicália.




 

 

Ouça aqui “Um Poeta Desfolha A Bandeira”vol1:

https://found.ee/patricia-ahmaral-canta-torquato-neto-1

 

 

 

Basileiro até o osso! Por Zeca Baleiro:

Torquato Neto é pedra fundamental da poesia da canção brasileira moderna (e não só). Sua obra ´musical`, ainda que constantemente revisitada em coletâneas e tributos, vive dispersa por aí, atual e influente sempre, mas espalhada no vento tropical do Brasil, confundida com seu mito de gênio trágico.

Nunca dantes havia sido contemplada da forma apaixonada e exclusiva com que Patrícia Ahmaral agora o faz neste álbum duplo. Patrícia dividiu o repertório do poeta em um volume mais, digamos, existencial, e outro mais lírico/amoroso, embora em Torquato tudo se misture e se confunda. Na poesia de Torquato tudo é caos. Por isso também é explosão de beleza.

Como belo é este tributo feito com fervor devoto, delicado e furioso artesanato, brasileiro até o osso.

Senhoras e senhores, desfrutem com prazer deste ´Torquatotal´! (ZB)

 

 

 


Os fãs do poeta piauiense Torquato Neto (1944-1972), cujo  cinquentenário de morte é hoje, dia 10 de novembro, poderão conferir, nesta data, um tributo inédito. A  cantora mineira Patrícia Ahmaral lança nas plataformas digitais  Um Poeta Desfolha A Bandeira,  volume 1 do álbum duplo Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto. É o primeiro de uma intérprete no país dedicado às parcerias do artista, que incluem composições com nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Chico César, Rogério Skylab, entre outros. Personagem singular na cena cultural brasileira e um dos principais mentores do tropicalismo, Torquato cometeu suicídio aos 28 anos de idade, deixando um legado marcante, em poesia, jornalismo, cinema e música.

 

George Mendes, curador do Acervo Torquato Neto (Teresina -PI), celebra e observa não ter havido ainda uma regravação do letrista “em bloco”:  Faltava (…) Uma grande intérprete para grandes canções, recriadas no verniz do tempo (….) Pois aparece no meu radar uma certa cantora mineira, revelando uma enorme sensibilidade para a poética de Torquato Neto”. (Texto completo ao final do release).

 

Com direção artística do compositor Zeca Baleiro, a largada para a divulgação do projeto aconteceu recentemente com um single duplo nas plataformas, trazendo participações de Jards Macalé e de Chico César.  Agora é a vez do vol,1 completo. A direção musical do trabalho é assinada por Rogério Delayon (Belo Horizonte), Marion Lemonnier (Honfleur - FR) e Walter Costa (Petrópols)

 

Participações especiais:

É um álbum aberto, com contribuições marcantes nas canções, explica Patrícia. Jards Macalé cravou violão e dueto de voz com ela e releu seu próprio arranjo de 1972 para Let´s Play That (Macalé e Torquato Neto), no mesmo instrumento com o qual registrou a música, em seu primeiro LP. Já a Banda de Pau e Corda, do Recife, gravou com ela em  Louvação (Gilberto Gil e Torquato Neto), repaginando a canção num delicioso Côco De Arcoverde. Outros convidados são os paulistanos Maurício Pereira e Tonho Penhasco, em Mamãe Coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto), o também paulistano Moda De Rock, dos violeiros  Ricardo Vignini e Zé Hélder, em Marginália II (Gilberto Gil e Torquato Neto), além de Chico César, já citado, em Quero Viver (Chico César e Torquato Neto).

 

Um Torquato não se faz só, brinca a cantora. Nesse trabalho ele está compartilhado, ‘esparramado’ em conexões, como imagino que  gostaria!, conclui.

 

A semente desta homenagem surgiu há mais de 20 anos, no espetáculo TorquaTotal, idealizado pelos poetas mineiros Ricardo Aleixo e Marcelo Dolabela (1957/2020) para a 1ª Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte (1998): Patrícia recebeu e cumpriu a missão de pegar o 'escorpião' vivo, eletrificá-lo e destilar seus venenos em mais veneno, escreveu Dolabela. A mesma banda do show marca presença em duas faixas do álbum, com os arranjos da época..

 

Dois volumes e  um recorte temático:

Este primeiro volume, Um Poeta Desfolha A Bandeira,  traz  nove músicas de períodos diferentes, incluindo o da Tropicália. São três composições do poeta com Gil, Geléia Geral, Marginália II e Louvação; duas com Caetano Veloso, Ai De Mim Copacabana e Mamãe Coragem; além de Três Da Madrugada (Carlos Pinto e Torquato Neto); Let´s Play That (Jards Macalé e Torquato Neto) e de duas parcerias póstumas, Quero Viver (Chico César e Torquato Neto) e Cogito (Rogério Skylab e Torquato). (Confira o faixa a faixa de Patrícia Ahmaral)

 

No volume 2,  A Coisa Mais Linda Que Existe, que sai em janeiro de 2023, Patrícia faz um recorte inusitado para a perspectiva normalmente trazida sobre Torquato Neto, cantando apenas canções com letras de amor do poeta, como a faixa homônima ao título, parceria com Gil e  Um Dia Desses Eu Me Caso Com Você (Paulo Diniz e Torquato Neto).

 

Patrícia comenta sobre direção de Zeca Baleiro:

Era importante contar com uma interlocução que compreendesse a dimensão de Torquato na história da cultura brasileira e suas conexões no presente. Além de compositor extraordinário, com um raro arrojo criativo,  Zeca  tem um faro para conectar pessoas e gestar as coisas. Foi um privilégio dos grandes. Ela manteve também diálogos essenciais com os poetas Ricardo Aleixo e Marcelo  Dolabela na construção subjetiva do projeto.

Acho que o nome de Torquato, com seu espírito libertário, cai como uma luva no momento, em contraponto ao obscurantismo na sociedade, afirma.

 

Encarte digital e videoclipe:

Junto ao lançamento do álbum, o público poderá conferir letras, fichas técnicas, fotos e textos de apresentação num encarte digital, com projeto gráfico de Chico Amaral (Barcelona) e fotografias de Kika Antunes (Belo Horizonte).

Nessa sexta, dia 04/11, a cantora lança também um videoclilpe de Let´s Play That, em seu canal youtube, com edição do artista visual Marlon De Paula (Belo Horizonte) e imagens da fotógrafa Andréa Nestrea (Rio De Janeiro).

 

Sobre Patrícia Ahmaral:

Patrícia Ahmaral iniciou carreira nos anos 1990, na efervescente cena musical belo-horizontina, que revelaria o saudoso Vander Lee (1966-2016). Seu CD de estréia, Ah! (1999), foi produzido por Zeca Baleiro. Depois vieram Vitrola Alquimista (2004) e Superpoder (2011), produzidos por Fernando Nunes e Renato Villaça. Em  seus discos, ela reverencia obras de autores como Walter Franco, Sérgio Sampaio e Alceu Valença, além de expoentes de sua geração, como Chico César, Zeca Baleiro e nomes  da cena independente, como Edvaldo Santana e Suely Mesquita. E faz leituras de clássicos, como A Volta Do Boêmio (Adelino Moreira) e Não Creio Em Mais Nada (Totó). É formada em canto lírico pela UFMG. Em seu trabalho de maior visibilidade, gravou na primeira exibição da novela Xica Da Silva (Rede Manchete) os temas de abertura e do personagem principal, na trilha sonora de Marcus Viana.

Para release completo e outros materiais acesse página da artista:

https://patriciaahmaral.com.br/

 

Sobre Torquato Neto:

O poeta, letrista, jornalista, cineasta e ator Torquato Neto  nasceu em 1944, em Teresina (PI). Após seu aniversário de 28 anos, cometeu suicídio, na madrugada  de 10 de novembro de 1972,  abrindo o gás no banheiro de sua casa no Rio de Janeiro, onde morava, desde 1962. Parceiro de Gilberto Gil e de Caetano Veloso, amigo do artista plástico Hélio Oiticica, do poeta Décio Pignatari, do cineasta Ivan Cardoso e de outros nomes expoentes, foi defensor das artes de vanguarda como o cinema marginal e a poesia concreta e um dos principais pensadores do tropicalismo, segundo atesta Gilberto Gil: Ele, Capinam e Caetano formavam um tripé.  Torquato figura na capa do álbum manifesto  Tropicália Ou Panis Et Circense e assina duas das faixas, Geléia Geral, com Gil e Mamãe Coragem, com Caetano. Entre 1967 e 1972, escreveu  colunas culturais,  dentre elas, a mais conhecida Geléia Geral, que manteve entre 1971 e 1972, no Jornal Última Hora, inaugurando um estilo singular, numa impressionante crônica sobre a revolução que acontecia na música e na cultura brasileira naquele período. Torquato deixou um legado breve e plural, em jornalismo, poesia, cinema e  composições, cada vez mais reverenciado em teses acadêmicas, documentários e compilações. Segundo o poeta e pesquisador Marcelo Dolabela, Torquato Neto é um dos poucos que se insere no seletíssimo grupo de artistas que, após a morte, tiveram mais obras lançadas do que quando em vida. Está ao lado de Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski e Vinícius de Morais.

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Gilberto Gil em Torquato Neto - o vôo de fogo do poeta terminal, Tarik de Souza, 1984.

(Torquato) foi uma das pessoas mais influentes no sentido do levantamento ideológico da postura tropicalista. Ele, Capinam e Caetano formavam um tripé (...) .

Cláudio Portella, no prefácio de Melhores Poemas , 2018:

Conforme (afirma) José Miguel Wisnik, ele é o primeiro a unificar a densidade entre a poesia escrita e a cantada.

Paulo Leminski, em Folha De São Paulo, Folhetim, 7/11/1982:

Torquato marca uma mudança radical, um salto quantitativo, na história disso que se chama, na falta de termo melhor, poesia brasileira. Poesia que, hoje, não apenas se lê nos livros, mas se escuta nas canções, nos discos, nos rádios, na TV, na vida, enfim. Torquato tem muito que ver com isso (...) Porque, com Torquato, começa a existir essa estranha estirpe de poetas: os letristas.

 

Referência

Tom Zé fala sobre Torquato Neto

Gilberto Gil fala sobre Torquato Neto

Documento Especial׃ Torquato Neto, O Anjo Torto da Tropicália Ivan Cardoso, 1992 Parte 1 de 2

Ouça o único registro da voz de Torquato Neto,  áudio recuperado em 2014 pelo radialista Vanderlei Malta, que o entrevistou no festival da Record de 1968.

https://www.youtube.com/watch?v=yTdCid6sQz0

 

Lançamento do álbum:

Um Poeta Desfolha A Bandeira

Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto - vol.1

Data: 10/11 - nas plataformas digitais de áudio

 

Ficha Técnica (confira completa, nas letras das canções):

Um Poeta Desfolha A Bandeira

Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto - vol.1

9 faixas - Independente

Direção Artística: Zeca Baleiro

Direção Musical: Rogério Delayon, Marion Lemonnier  e Walter Costa.

Projeto gráfico: Chico Amaral

Fotografia: Kika Antunes/ assistente: Ester Antunes

Distribuição digital: Tratore

Projeto gravado com recursos da Lei Aldir Blanc (2020) e através de campanha crowdfunding

 

 

Confira texto de George Mendes e faixa a faixa do disco, por Patrícia:

Um Torquato Em Bloco!

Por George Mendes / curador do Acervo Torquato Neto

 

Anos atrás, conversando com o poeta e jornalista Paulo José Cunha, como eu também primo de Torquato Neto, lamentamos o fato das canções do letrista da Tropicália não terem sido revisitadas como num bloco de concreto: todas, as mais importantes do ponto de vista criativo e dos sentidos suscitados nos tempos de seus lançamentos.

O mesmo sentimento de ausência obtive conversando com o maestro Geraldo Brito, piauiense, músico de alta voltagem, também parceiro de Torquato. Ele dizia: cara, está faltando...poque ninguém pensou nisso antes? Uma grande intérprete para grandes canções, verdadeiramente recriadas no verniz do tempo.

Sabe aquelas coisas do destino? Pois aparece no meu radar uma certa cantora mineira, residente em Sampa, revelando uma enorme sensibilidade para a poética de Torquato Neto. Patrícia foi chegando pedindo autorização para cantar num espetáculo e numa coisa, em outra coisa....e foi levando.

Quando vi já estava encantado com seu canto personalíssimo e a aguçada sensibilidade.Não fiquei amigo da pessoa – que certamente não conheço a não ser pelos contatos ocasionais. Fiquei amigo da musicalidade da Patrícia, dos parceiros que ela atraiu e dos resultados que apresenta. Já me sinto íntimo.

Senhora, Dona Cantora, manda logo tudo pra ouvir de vez,  em bloco, como um torpedo com a potência criativa do pássaro de fogo. Você seguiu a regra: chegou pelas brechas, fazendo e cantando. Siga.

 

 

FAIXA A FAIXA

por Patrícia.

UM POETA DESFOLHA A BANDEIRA

Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto - vol.1

 

Faixa 1 - Marginália II (Gilberto Gil e Torquato Neto) - Em Dois Amigos, Um Século De Música (2015), de Gil e Caetano, fiquei tocada com a interpretação de Gil em Marginália II, ao violão, reflexiva, grave, contraponto ao registro original (1968), no arranjo do genial Rogério Duprat.  Provocados pela nova leitura de Gil, pensando em caminhos, Zeca, que acabara de colaborar com o  Moda de Rock (SP), dos violeiros Ricardo Vignini e Zé Helder, sugeriu convidá-los. Eles trouxeram um arranjo belíssimo e, ao final, achei extremamente simbólico vestir essa canção com a viola, esse instrumento do Brasil profundo em perspectiva urbana.

 

Faixas 2 e 7- Geléia Geral (Gilberto Gil e Torquato Neto) e Ai De Mim Copacabana (Caetano Veloso e Torquato Neto) - Gravamos as duas faixas com os músicos Celso Penni, Luis Patrício, Rogério Delayon e Thiago Corrêa. que apresentaram comigo, em 1998, o show TorquaTotal, idealizado pelos poetas Ricardo Aleixo e Marcelo Dolabella (1957-2020) para a 1ª Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte (MG). São os mesmos arranjos,  nascidos na espontaneidade das nossas cabeças muito jovens e sem medo da época! rsrs. As gravações originais de Gil e Caetano, ambas de 1968, exibem os espetaculares arranjos de Rogério Duprat.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              

Faixa 3 - Let´s Play That (Jards Macalé e Torquato Neto) -  Mas você escolheu uma música muito doida pra gravar!, foi o que Macalé me disse logo que me viu no estúdio!! Pelo fato de a música, segundo ele, ser algo fora da curva, quebrada ritmicamente. Os versos são paródia de um trecho do Poema De Sete Faces, de Drummond, autor que Torquato admirava, bem no espírito libertário dos dois parceiros. Não poderia deixar de incluí-la no repertório. Foi o percussionista Naná Vasconcelos quem mostrou a letra de Torquato a Macalé, que a musicou e gravou em seu LP Jards Macalé (1972). Ele levou para a nossa gravação o mesmo violão com o qual fez o registro da música em 72 e criou novo arranjo para adequar ao tom de minha voz. Ao final, brincamos que ele fez uma leitura ´original´ de sua original! E a participação dele, enquanto amigo e parceiro de Torquato e por tudo o que Macalé representa na música brasileira tem, pra mim, uma dimensão e simbologia especiais dentro do projeto.

 

Faixa 4 - Três Da Madrugada (Carlos Pinto e Torquato Neto) -  Zeca sugeriu a Marion Lemonnier e a Walter Costa, produtores musicais da faixa, que criassem uma ‘bossa noturna’ para o arranjo de Três Da Madrugada. Essa música foi lançada no ano seguinte à morte de Torquato, com interpretação antológica de Gal, no lado B de um compacto encartado n´ Os Últimos Dias De Paupéria (1973) - livro póstumo de Torquato, organizado por Waly Salomão e pela viúva do poeta, Ana Maria de Araújo. É uma canção extremamente bonita, embora doída, com versos cortantes que se expandem na melodia belíssima de Carlos Pinto, que também a registrou, em compacto de 1973.

 

Faixa 5 - Louvação (Gilberto Gil e Torquato Neto) -  Foi quando ouvia sem parar Missão Do Cantador (2021), belíssimo retorno da Banda de Pau e Corda (Recife) aos estúdios, que os imaginei participando nessa faixa, que inicialmente não estava no repertório, vislumbrando que daria em algo muito especial.  Comentei com Zeca Baleiro, que disse que seria sim uma versão emblemática Fiz o convite e Zé Freire, violão sete cordas e arranjador da Banda, propôs o Côco de Arcoverde para a base rítmica. Gravaram em Recife e eu coloquei minha voz depois. Achei tudo encantador. A voz de Sérgio Andrade, o arranjo com a marca da Banda, com todo o arrojo nordestino e a modernidade. Feliz por  ajudar a resgatar essa canção ao lado desse grupo antológico

 

Faixa 6 - Mamãe Coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto) - Eu já havia gravado essa canção em meu CD Superpoder (2011), mas não poderia deixá-la de fora num tributo. Fã e admiradora de Maurício Pereira (SP), o  imaginei na música, com seu jeito muito particular de cantar. Que poderia provocar novos sentidos… Maurício convidou o genial Tonho Penhasco pra gravar um arranjo minimalista de guitarra e os efeitos de Rogério Delayon vieram depois. Maurício conta que quando criança, se impressionava com o verso mamãe...eu fui embora. Pra mim, adolescente, me impressionava eu posso eu quis eu fiz/ mamãe seja feliz. E cantamos, misturando as perspectivas. A incidental “Ó Deus Vos Salve Essa Casa Santa” (Caetano Veloso e Torquato Neto) é Torquato confrontando Torquato.

 

Faixa 8 - Quero Viver (Chico César e Torquato Neto) - Chico conta que compôs esta música numa oportunidade em que foi convidado para participar de show-homenagem a Torquato. Então, admirador, se sentiu motivado a compor algo sobre os versos do autor e depois acabou gravando a música no álbum Estado De Poesia (2015). A letra é absolutamente atual e é uma dádiva poder cantá-la ao lado do próprio Chico, que além de compositor gigante,de inspiração infinita, tem sido uma figura afirmativa na cena brasileira, com posicionamentos claros diante do racismo, homofobia, desigualdade, assim como o Torquato da letra fala… “queremos cuidar da vida/ já que a morte está parida/ um dia depois do outro/ numa casa enlouquecida/ digo de novo, quero dizer/ a morte não é vingança/ beija e balança/ e atrás dessa reticência/ queremos, quero viver”. É  forte juntar Chico com Torquato!

 

Faixa 9 - Cogito (Rogério Skylab e Torquato Neto) - Canção com um dos poemas mais emblemáticos de Torquato e dos mais conhecidos. Regravei a bela versão de Rogério Skylab, que a registrou em seu álbum Melancolia e Carnaval (2014), com participação de Jards Macalé na faixa. George Mendes, curador do acervo de Torquato, conta que a decisão de liberar versões musicais do poema só ocorreu a partir da gravação de Macalé na música de Skylab. Junto com Quero Viver, Cogito coloca lado a lado, neste volume, o letrista, ainda vivo, e o Torquato poeta, transformado em canções, em parcerias póstumas.




Texto Crítico

AQUARELA TROPICAL

Patrícia Ahmaral lança álbum duplo com releituras da obra de Torquato Neto

Kiko Ferreira - crítico, jornalista, poeta e letrista.

 

Ah... Patrícia Ahmaral liga sua vitrola alquimista e aproveita o superpoder de seu coração de máquina de escrever para reler e recantar Torquato Neto, o mais classificável e o mais inclassificável dos tropicalistas, na definição precisa de Marcelo Dolabela. Sonho guardado e preparado desde seu elétrico e eletrizante show dedicado ao piauiense na 1ª. Bienal de Poesia de Belo Horizonte, em 1998, revivido por ela, depois de mais de vinte anos.

         O álbum duplo, em que Patrícia duela e troca relâmpagos com a genialidade inquieta de Jards Macalé, em “Let´s Play That”, faixa sintomática na capacidade do álbum em reler as canções, tanto dá conta do poeta inquisidor, inquieto, questionador e raivoso que defendia (e praticava) o cinema marginal na década de 1960 e início dos 70, como da delicadeza de sua poesia “francamente drummondiana”, como defendeu Caetano na sua “Verdade Tropical”. 

         Contando com o auxílio fundamental e instigante do craque Zeca Baleiro como coluna mestra da empreitada, Patrícia surpreende mesmo um fã experimentado da obra de Torquato quando divide o projeto em dois consistentes capítulos, “Um Poeta Desfolha a Bandeira” e “A Coisa Mais Linda que Existe”, metades complementares que vivem e sobrevivem  com elétrica harmonia, num saudável reflexo da própria trajetória da cantora mineira, que tanto se sai bem quando canta delicadas melodias com as doses certas de equilíbrio e emoção, como não se furta de berrar de indignação com realidades paralelas e injustiças que provocaram seu recente trabalho de compositora, durante os períodos mais agudos da pandemia.

         As muitas Patrícias se encontram nesse projeto, primeiro songbook dedicado a releituras da obra musical de Torquato, que vitamina temas exaustivamente relidos e recriados nos últimos 50 anos, como serve de excelente ponto de partida para que novas gerações entendam e se interessem pelo nome de Torquato Neto.

            A atualidade da poesia de Torquato em tempos confusos fica explícita nessa instigante (re)visão musical. E se reforça, neste primeiro volume, nas parcerias póstumas com Chico César e Rogério Skylab, ambos em perfeita sintonia com o Brasil de todos os tempos.

            O poeta ficaria feliz.

 

 

PATRICIA AHMARAL

Assista aqui o videoclipe Let´s Play That  (Jards Macalé e Torquato Neto):

https://youtu.be/oLz3jUFuAVc




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