O BOM E VELHO SAMBA NOVO COM JOYCE CÂNDIDO Por Zuza Homem de Mello (agosto/2014) Podem vocês, colegas da imprensa, do radio e da televisão, twiteiros e postadores de dicas pela internet, avaliar qual é o caminho natural para lançar uma nova cantora no atual cenário da música brasileira? Onde? Como? Pois ainda acredito no velho e bom release. Estaremos então diante de uma nova promessa? O que me surpreende logo de cara ao assistir Joyce Cândido é sua tremenda desenvoltura, nada comum logo no primeiro DVD. Graciosa e expressiva, Joyce revela uma tarimba de palco difícil de encontrar em uma estreante. Já sai dançando como intrépida partenaire de Carlinhos de Jesus, o nosso Fred Astaire do samba; nem se intimida cantando lado a lado com Elza Soares, a célebre Bossa Negra dos anos 60 e indomável sobrevivente das maiores estrelas de sua geração. Ainda nesse começo de carreira, Joyce se mostra perfeitamente à vontade diante de arrebatador João Bosco, admirável figura de proa na canção brasileira do nosso tempo. E se entrega com justificada emoção ao lado de Toninho Geraes, reconhecido sambista de primeiro time entre os que se estabeleceram no Rio de Janeiro. Em nenhum caso Joyce é figurante. Já é personagem, o que não é pouco para quem está desembocando no samba, conquanto já com atestada dignidade. A moça nasce com estrela, faz bem aos olhos com seu sorriso largo, o olhar franco e o donaire feminino. A sambista vive o balanço rítmico nos seus passos pelo tablado, no requebro das cadeiras e num sensual movimento de ombros harmonizado com a elegância de uma bailarina, revelada pelo gesticulado de suas mãos, próprio de quem parece ter feito escola com Charles Aznavour. A cantora Joyce Cândido estreia com um repertorio bem constituído, alternando sete clássicos de Adoniran, Cartola, Herminio, Chico, João Bosco/Aldir, Caetano e Noel com as outras doze composições inéditas que ela própria escolheu junto ao traquejado arranjador e líder Alceu Maia: “Prelúdio do dia”, “Joia rara”, “Cê pó pará”, “Tesouro maior”, “Ida sem regresso”, “Beleza Pura”, “À tua espera”, “Mar a fora”, “Regras do jogo”, “Pôr do sol”, “Giramundo” e “Dengo”. O que também não é pouco num repertorio de vinte números. Joyce impulsiona assim a carreira de uma nova safra de atuantes compositores sobre os quais vale uma breve referência: Renato Forin Jr. autor que defendeu seu mestrado em elogiada dissertação sobre Maria Bethania é também roteirista dos shows de Joyce; Guilherme Sá da ala de compositores do Império da Tijuca e parceiro de Joyce, é autor de três dos sambas inéditos, um deles com Alipio Carmo; João Vidotti letrista e vocalista da Banda londrinense Primos da Cida, produtor do primeiro CD da cantora, é o autor de outros dois sambas inéditos e diretor do vídeo. Como o experiente Alceu Maia tem também tres parceiros novos, esse DVD remete a uma foto panorâmica de novos compositores que estão chegando. Faltou relacionar os autores das duas composições restantes: Accioly Neto, o apreciado autor de “Espumas ao vento” da trilha do filme “Lisbela e o prisioneiro”, estabelecido no Recife desde muito cedo e que faleceu prematuramente com 50 anos; e os frequentes parceiros Luiz Carlos da Vila (igualmente falecido) e Claudio Jorge, estupendas figuras da linha de frente no samba carioca e autores de “Beleza pura”, meu samba preferido nesse vigoroso repertorio de inéditos. Foi também a primeira música escolhida entre as vinte, assim que Joyce ouviu a fita gravada por Luiz Carlos da Vila. Além de tocar piano ao final do DVD registrado num espetáculo no Teatro Maison de France acrescido de gravações no estúdio Visom, Joyce é cantora que não tateia quando canta. Tem voz plena e calorosa, de lindo timbre levemente arranhado na região grave a combinar com o frescor jovem de suas interpretações. Flagrante exemplo de beleza da mulher brasileira, a morena Joyce Cândido nos traz em seu primeiro DVD interpretações de quem está pronta para integrar o minguado rol das gratas revelações de cantoras que valem à pena. A moça é do ramo. |
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