[Crítica] Memória Sufocada

Sinopse: Coronel Ustra é o único militar condenado como torturador durante a Ditadura. O ex-presidente Jair Bolsonaro o exalta como um herói. Mas qual é a verdade? Através de buscas pela internet, o passado do Brasil vai sendo reconstruído e esbarra no presente.

O que achei? Dirigido e roteirizado por Gabriel Di Giacomo, o documentário conta sobre a ditadura civil-militar e a tortura no Brasil sob o olhar do presente. Ele conta com um material farto encontrado na internet, tendo como regra somente conteúdos que estão disponíveis para qualquer pessoa que tem acesso à internet.

Com a ditadura civil-militar ganhando foco novamente nos dias de hoje com membros de extrema-direita defendendo e até mesmo romantizando, minimizando ou até mesmo negando as perseguições, censuras, opressões e torturas que aconteceram nesse período da história brasileira, faz sentido a escolha do diretor de mostrar esse período pela perspectiva do presente.

Tendo como base os depoimentos de Coronel Ustra na Comissão da Verdade em 2013, Memória Sufocada expõe os crimes cometidos no DOI-CODI que era chefiado pelo mesmo, mostrando os depoimentos dos sobreviventes das torturas à que foram submetidos pelos militares.

O longa também possui depoimentos de ex-presos políticos e mostra os esquemas de corrupção durante o regime e como a mídia internacional noticiava sobre a ditadura civil-militar brasileira.

O documentário tem menos de 1h30 de duração, mas isso não é problema, pois o tempo do longa foi bem utilizado ao mostrar o assunto com detalhes e fazendo paralelos com a época da ditadura e os últimos cinco anos onde a democracia foi atacada de várias formas pelo governo de Bolsonaro – que idolatra Ustra ao ponto de homenageá-lo durante a votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff - e seus apoiadores.

É impossível – ao assistir o longa – ignorar as semelhanças dos quase 30 anos de ditadura civil-militar e os recentes anos do aumento do conservadorismo no cenário político e social no Brasil que culminou na eleição de Bolsonaro em 2018 desde a manipulação e distorção de fatos – as fake news – ataques e perseguição contra aqueles que criticam e se opõem ao bolsonarismo e totalitarismo reforçados pela moralidade e conservadorismo religiosos e de extrema-direita.

Di Giacomo não impõe fatos ou argumentos ao espectador, deixando por sua conta tirar suas próprias conclusões sobre os materiais apresentados no longa.

Enfim, o documentário cumpre o seu papel de informar usando uma linguagem contemporânea ao mesmo tempo que refuta os depoimentos de Ustra tanto durante a Comissão da Verdade quanto o que ele escreveu em seu livro.

Memória Sufocada estreia hoje – dia 30, véspera do aniversário de 59 anos do golpe militar – nos cinemas brasileiros, pela Embaúba Filmes. E para complementar o documentário, o site memoriasufocada.com.br disponibiliza ao público todo o material pesquisado para a realização do longa. 

Trailer:


 Escrito por Michelle Araújo Silva




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